Se o tempo fosse coerente não deixava que se apagassem as memórias. Mas não aconteceu assim, tempo inútil que te dilataste até que as memórias antigas se esvaíram em nada.
Se o tempo fosse infinito no espaço infinito durante o tempo em que estava à tua espera e tardavas sempre a chegar, em que tempo terias chegado ao mesmo tempo que o meu para te conhecer tal como eras?
Se fosse senhor do tempo, parava-o. Depois, fechava-me à chave contigo com a mesma chave que o parou e assim não havia futuro para atraiçoar o presente.
Se pudesse correr pela noite atrás do tempo e levar-te a ver o luar, talvez um dia me perdesse nos teus olhos para não mais voltar aquela noite em que te perdi.
Se eu fosse senhor do relógio e da velocidade da viagem e se estivéssemos, eu e tu, no mesmo relógio que ambos tínhamos parado e se depois viajássemos para as estrelas dos mundos sem fim... se acaso um dia regressássemos, que relógio esperava por nós?
Se foi ontem que disse que te amava e que cheirava a maresia o teu corpo macio e o sabor dos teus lábios a morangos silvestres e se o mar dos teus olhos deixasse que me escondesse em ti e se o meu tempo valesse o tempo do relógio parado e se o teu marcasse o compasso uniforme e se por acaso ficasses à espera de mim, se regressasse para perder-me nos teus olhos que já não me amavam, cadáver sem tempo, sem sonhos, como podia o tempo do relógio passar a marcar o mesmo tempo na vida e na morte?
Se te tivesse num dos quaisquer relógios parados que já usei, que raio de vida teria sido a minha se nesse tempo estivesse parado o relógio do tempo em que nos amámos?
Se os nossos relógios parassem à mesma hora para logo se fundirem num só, de que serviria o tempo para marcar o tempo de dois enamorados eternamente em encanto?
E agora, nós... Rosa, doce Rosa que queria colher no meu roseiral. Aquele compasso de espera antes de decidir colher-te em nada nos beneficiou. O teu relógio foi-se atrasando enquanto esperavas que me decidisse a levar-te comigo.
Falando sério, tínhamos combinado ir ao encontro um do outro, mas algo correu mal. Um de nós quebrou o compromisso. Ou então houve um salto no tempo que me levou para um encontro com outra mulher que não eras tu.
Falando sério, tínhamos combinado ir ao encontro um do outro, mas algo correu mal. Um de nós quebrou o compromisso. Ou então houve um salto no tempo que me levou para um encontro com outra mulher que não eras tu.
«Bruxaria!» disseste, com convicção.
Talvez. Mas eu também tenho uma hipótese para tentar explicar o que aconteceu. Aquilo veio de repente e toldou-me a consciência. Uma espécie de nevoeiro que impediu, cirurgicamente, por algum tempo, o acesso a dados importantes como esse ligado ao compromisso que tinha assumido. Não é uma desculpa, Rosa, doce Rosa. Na verdade, esqueci-me de ti. Não me perguntes porque foi. Ainda hoje não sei porquê. És capaz de ter razão. Bruxaria. Foi bruxaria ou amarração. Tanto faz. Esqueci-me. Lamento muito o que sucedeu. Por ti e por mim. Tanto no momento da verdade como nos dias que depois foram correndo. O mais estranho de tudo é que nesse tempo era jovem e a memória funcionava dentro dos limites normais. Mas por um motivo obscuro o encontro não aconteceu. Eu cheguei demasiado cedo e tu demasiado tarde. E assim foi criado um vazio no espaço-tempo a separar-nos. Desiludido, abandonei o local do encontro e parti levado por um relógio que já não marcava o nosso tempo.
Os anos passaram. Nunca me esqueci de ti, Rosa, doce Rosa. Os teus botões abriram-se em pétalas que não colhi, pois já não estavas no meu jardim. O teu aroma perdeu-se no éter. A tua voz. O teu sorriso. Os teus lábios. Tudo o que era teu e que deixou de ser meu. Só ficou a chaga da recordação. A dor silenciosa. A imitação de viver.
Depois, por castigo ou obra do acaso, tudo o que queria ser não fui. Tudo o que queria ter não tive. Até os caminhos que sonhei seguir me foram negados. O modo como queria viver nunca aconteceu. A própria casa que escolhi para viver estava torta e assim nunca estive dentro dela. Porque estava torta, algo me impelia para fora. Mas também, lá fora, não pude voar. Cortaram-me as asas. Sem elas nunca voei. Estagnei no emprego. Estagnei de emprego em emprego. Foi talvez um motivo para continuar a tentar esquecer-me de ti após aquele encontro frustrado em que fomos atraiçoados pelo tempo criado pelo bruxedo. E em todos os minutos que passaram foi assim. Como se o relógio tivesse parado desde aquele encontro em que te perdi.
Um dia, o meu tempo abriu uma janela. E eu entrei pela janela. Não para ir ter contigo porque o tempo já não estava contigo. Assim, arrastei-me pelo dia a dia já sem necessidade de ter um relógio com o tempo certo porque esse estava parado no passado quando esqueci-me do dia do encontro. Voltar atrás...? Infelizmente não podia banhar-me duas vezes na mesma água do mesmo rio.
Se fosse senhor do tempo, parava-o. Depois, fechava-me à chave contigo com a mesma chave que o parou e assim não havia futuro para atraiçoar o presente.
Talvez. Mas eu também tenho uma hipótese para tentar explicar o que aconteceu. Aquilo veio de repente e toldou-me a consciência. Uma espécie de nevoeiro que impediu, cirurgicamente, por algum tempo, o acesso a dados importantes como esse ligado ao compromisso que tinha assumido. Não é uma desculpa, Rosa, doce Rosa. Na verdade, esqueci-me de ti. Não me perguntes porque foi. Ainda hoje não sei porquê. És capaz de ter razão. Bruxaria. Foi bruxaria ou amarração. Tanto faz. Esqueci-me. Lamento muito o que sucedeu. Por ti e por mim. Tanto no momento da verdade como nos dias que depois foram correndo. O mais estranho de tudo é que nesse tempo era jovem e a memória funcionava dentro dos limites normais. Mas por um motivo obscuro o encontro não aconteceu. Eu cheguei demasiado cedo e tu demasiado tarde. E assim foi criado um vazio no espaço-tempo a separar-nos. Desiludido, abandonei o local do encontro e parti levado por um relógio que já não marcava o nosso tempo.
Os anos passaram. Nunca me esqueci de ti, Rosa, doce Rosa. Os teus botões abriram-se em pétalas que não colhi, pois já não estavas no meu jardim. O teu aroma perdeu-se no éter. A tua voz. O teu sorriso. Os teus lábios. Tudo o que era teu e que deixou de ser meu. Só ficou a chaga da recordação. A dor silenciosa. A imitação de viver.
Depois, por castigo ou obra do acaso, tudo o que queria ser não fui. Tudo o que queria ter não tive. Até os caminhos que sonhei seguir me foram negados. O modo como queria viver nunca aconteceu. A própria casa que escolhi para viver estava torta e assim nunca estive dentro dela. Porque estava torta, algo me impelia para fora. Mas também, lá fora, não pude voar. Cortaram-me as asas. Sem elas nunca voei. Estagnei no emprego. Estagnei de emprego em emprego. Foi talvez um motivo para continuar a tentar esquecer-me de ti após aquele encontro frustrado em que fomos atraiçoados pelo tempo criado pelo bruxedo. E em todos os minutos que passaram foi assim. Como se o relógio tivesse parado desde aquele encontro em que te perdi.
Um dia, o meu tempo abriu uma janela. E eu entrei pela janela. Não para ir ter contigo porque o tempo já não estava contigo. Assim, arrastei-me pelo dia a dia já sem necessidade de ter um relógio com o tempo certo porque esse estava parado no passado quando esqueci-me do dia do encontro. Voltar atrás...? Infelizmente não podia banhar-me duas vezes na mesma água do mesmo rio.
Se fosse senhor do tempo, parava-o. Depois, fechava-me à chave contigo com a mesma chave que o parou e assim não havia futuro para atraiçoar o presente.
Sem avisar, foi então que, contra as leis naturais e contra a minha lógica, outro tempo para lá do tempo chegou. Veio de mansinho. Matreiro e oportunista. Veio contigo, Rosa, doce Rosa. Não queria acreditar que eras tu quem trazia esse tempo que o outro tempo levou. Com tudo o que era teu. O perfume suave do teu corpo. O sorriso tímido. O toque aveludado das tuas mãos. A tua voz a cantar. Voz inconfundível. Como se fosse um decalque...
Ou não eras tu?
«Olá.»
«Olá.»
«Estás no teu posto de observação?»
Não quis responder. Ela sentou-se ao meu lado. Foi de um momento para o outro. Pareceu-me que tinha vindo do nada. Ou estou a fingir?
«Sim. E sempre atento. Nunca se sabe.»
«Sim. E sempre atento. Nunca se sabe.»
«Nunca se sabe?»
«Pois. E agora, mais do que nunca.»
«Mais do que nunca?»
«Atento.»
«Porquê?»
«Que mais me pode interessar neste momento senão olhar para uns belos olhos espantados de gazela que são os teus? Esses olhos dizem que querem uma coisa deste teu humilde servo. O que é?»
Rosa, doce Rosa. Há muito que não te via!
«Engraçadinho…»
«Estou a brincar.»
Como veio de repente ter comigo?
«É bom que estejas.»
Aquela mulher sentada ao meu lado trazia-me recordações que há muito julgava apagadas. Afinal estava enganado. A chama ateara as brasas adormecidas. Talvez um pequeno sopro vindo de um expirar mais expressivo. Talvez muita coisa. Não interessava. Interessava mais o que vinha a seguir no relógio.
«Foste dizer ao Alfredo que me encontraste no Centro Comercial!»
«E que importância tem isso?»
«Nenhuma. Dou-te razão.»
Recuo nítido. Mudança de estratégia?
«Então?»
Por acaso contei ao Alfredo que a tinha visto. Falei-lhe dos livros, em especial do livro de poemas do nosso ilustre colega que chamava burros aos alunos. A seguir, ocorreu-me o encontro que resumi com a maior das naturalidades. Nada mais. Tudo límpido como a água dos regatos de outrora. Mas ela não gostou. Mal me viu, veio ao meu encontro e agora censurava-me, agastada. Dava para pensar que o nosso encontro fora secreto. Onde ela queria chegar com o secretismo não sabia.
Seria que…?
«Sempre queres fazer a leitura das mãos?» perguntou-me.
Estava a acontecer magia ou, entretanto, adormeci naquele cadeirão indiscreto?
«É para já. Quirologia é comigo.»
«Então, vamos a isso.»
E estendeu-me a mão direita com a palma virada para cima.
«Estás louca?»
«Porquê?»
«Olha para a catatua da Isabel. Os olhos até lhe saltaram das órbitas.»
Olhou e reparou. A seguir, sorriu.
«Que aconselha então o senhor especialista?»
«Vamos para a sala de reuniões.»
Longe das vistas. Afinal o nosso segredo não começava agora.
«Vou buscar a chave. Deixa-te ficar. Daqui a cinco minutos vem ter comigo à sala.»
Entrou uma pessoa na sala que tem cadeiras vazias e desarrumadas. Sorriu na minha direção. Olho em volta e verifico que só estamos nós. Não há dúvida que ela parece conhecer-me. Então, também devo sorrir. É melhor pôr uma interrogação no olhar. Pelo sim pelo não, não vá haver outra pessoa na sala, apesar da verificação meticulosa que fiz.
Já a vi em qualquer lado. É baixa, morena e simpática. Tem um olhar doce, de gazela espantada. Os cabelos são castanhos, compridos. Passou no exame preliminar. Mas que faço eu numa sala que tem muitas cadeiras vazias? Não mostro a mínima admiração. Parece que estava à sua espera. Mas como?
«Curioso... Vi-te com uma rosa vermelha. Para quem era?»
«Para ti...»
«Mas nunca a recebi...»
Mensagens. Recados de um diálogo trazido pelo éter. Quero dizer-lhe qualquer coisa e só me vem à cabeça a imagem de uma amazona que soltou os cabelos longos ao vento. Quem sabe até se já nos conhecemos noutro tempo e noutro espaço!
Segundo exame. Agora reparo. É mais jovem do que pensava. Sentou-se ao meu lado, receosa, e estendeu-me a mão direita. Sorrio. Retribui o sorriso e parece recompor-se do nervosismo. A palma da mão está virada para cima. Sinto que qualquer coisa a preocupa. Interrogo-a com o olhar. Quer que pegue na sua mão. E que vou fazer com aquela mão macia como o veludo? Não posso levá-la ao altar. Não posso porque é proibido e também porque o sol está a cair no horizonte. O sol a cair no horizonte tem a ver com o meu crepúsculo.
«Eu crepúsculo e tu viçosa...»
Já tinha acontecido. A mão delicada que eu pegava e aqueles olhos que me fitavam, assustados, como se fosse o predador e ela a gazela, lembravam-me tempos em que ainda era mais jovem que ela. Os olhos falavam outra linguagem e as nossas mãos apertavam-se. Mas isso foi noutro tempo. Quando as folhas das árvores amareleceram e desistiram de viver é que dei conta que a tinha perdido para sempre.
«Porquê?»
«Que mais me pode interessar neste momento senão olhar para uns belos olhos espantados de gazela que são os teus? Esses olhos dizem que querem uma coisa deste teu humilde servo. O que é?»
Rosa, doce Rosa. Há muito que não te via!
«Engraçadinho…»
«Estou a brincar.»
Como veio de repente ter comigo?
«É bom que estejas.»
Aquela mulher sentada ao meu lado trazia-me recordações que há muito julgava apagadas. Afinal estava enganado. A chama ateara as brasas adormecidas. Talvez um pequeno sopro vindo de um expirar mais expressivo. Talvez muita coisa. Não interessava. Interessava mais o que vinha a seguir no relógio.
«Foste dizer ao Alfredo que me encontraste no Centro Comercial!»
«E que importância tem isso?»
«Nenhuma. Dou-te razão.»
Recuo nítido. Mudança de estratégia?
«Então?»
Por acaso contei ao Alfredo que a tinha visto. Falei-lhe dos livros, em especial do livro de poemas do nosso ilustre colega que chamava burros aos alunos. A seguir, ocorreu-me o encontro que resumi com a maior das naturalidades. Nada mais. Tudo límpido como a água dos regatos de outrora. Mas ela não gostou. Mal me viu, veio ao meu encontro e agora censurava-me, agastada. Dava para pensar que o nosso encontro fora secreto. Onde ela queria chegar com o secretismo não sabia.
Seria que…?
«Sempre queres fazer a leitura das mãos?» perguntou-me.
Estava a acontecer magia ou, entretanto, adormeci naquele cadeirão indiscreto?
«É para já. Quirologia é comigo.»
«Então, vamos a isso.»
E estendeu-me a mão direita com a palma virada para cima.
«Estás louca?»
«Porquê?»
«Olha para a catatua da Isabel. Os olhos até lhe saltaram das órbitas.»
Olhou e reparou. A seguir, sorriu.
«Que aconselha então o senhor especialista?»
«Vamos para a sala de reuniões.»
Longe das vistas. Afinal o nosso segredo não começava agora.
«Vou buscar a chave. Deixa-te ficar. Daqui a cinco minutos vem ter comigo à sala.»
Entrou uma pessoa na sala que tem cadeiras vazias e desarrumadas. Sorriu na minha direção. Olho em volta e verifico que só estamos nós. Não há dúvida que ela parece conhecer-me. Então, também devo sorrir. É melhor pôr uma interrogação no olhar. Pelo sim pelo não, não vá haver outra pessoa na sala, apesar da verificação meticulosa que fiz.
Já a vi em qualquer lado. É baixa, morena e simpática. Tem um olhar doce, de gazela espantada. Os cabelos são castanhos, compridos. Passou no exame preliminar. Mas que faço eu numa sala que tem muitas cadeiras vazias? Não mostro a mínima admiração. Parece que estava à sua espera. Mas como?
«Curioso... Vi-te com uma rosa vermelha. Para quem era?»
«Para ti...»
«Mas nunca a recebi...»
Mensagens. Recados de um diálogo trazido pelo éter. Quero dizer-lhe qualquer coisa e só me vem à cabeça a imagem de uma amazona que soltou os cabelos longos ao vento. Quem sabe até se já nos conhecemos noutro tempo e noutro espaço!
Segundo exame. Agora reparo. É mais jovem do que pensava. Sentou-se ao meu lado, receosa, e estendeu-me a mão direita. Sorrio. Retribui o sorriso e parece recompor-se do nervosismo. A palma da mão está virada para cima. Sinto que qualquer coisa a preocupa. Interrogo-a com o olhar. Quer que pegue na sua mão. E que vou fazer com aquela mão macia como o veludo? Não posso levá-la ao altar. Não posso porque é proibido e também porque o sol está a cair no horizonte. O sol a cair no horizonte tem a ver com o meu crepúsculo.
«Eu crepúsculo e tu viçosa...»
Já tinha acontecido. A mão delicada que eu pegava e aqueles olhos que me fitavam, assustados, como se fosse o predador e ela a gazela, lembravam-me tempos em que ainda era mais jovem que ela. Os olhos falavam outra linguagem e as nossas mãos apertavam-se. Mas isso foi noutro tempo. Quando as folhas das árvores amareleceram e desistiram de viver é que dei conta que a tinha perdido para sempre.
Agora é tarde. Muito tarde. Mas dizem que a ouvem chorar!
Ela continua de mão estendida e está à espera de uma iniciativa minha. Não reajo. Sorri, embaraçada. Com natural timidez. A timidez desculpa muitas faltas. Mas as pessoas tímidas serão também ingratas?
Tão sedutora que é!
Talvez tivesse entrado na sala errada...
Pego na sua mão macia e ela fica à espera. Que vou fazer? Acariciar a mão da jovem? Não. Sublimo o desejo e começo a olhar fixamente para a sua mão, como quem planeia uma viagem. Continuamos sós naquela sala mágica que tem a porta fechada à chave.
«Não digas a ninguém que estiveste comigo...»
Tudo parece ser secreto. Tento adivinhar a verdade na respiração apressada, quase ofegante. Na voz trémula, sussurrante. Naqueles olhos espantados e muito abertos. Na mulher que parece oferecer-se, corpo e alma. Tento ainda adivinhar se vou perder o fio do raciocínio e trocar, por exemplo, a linha da vida pela saturniana. Se fico para sempre debruçado sobre a linha do coração.
«Então, quando começas?»
«Ah, é verdade. Vou começar. Curioso!»
Ela continua de mão estendida e está à espera de uma iniciativa minha. Não reajo. Sorri, embaraçada. Com natural timidez. A timidez desculpa muitas faltas. Mas as pessoas tímidas serão também ingratas?
Tão sedutora que é!
Talvez tivesse entrado na sala errada...
Pego na sua mão macia e ela fica à espera. Que vou fazer? Acariciar a mão da jovem? Não. Sublimo o desejo e começo a olhar fixamente para a sua mão, como quem planeia uma viagem. Continuamos sós naquela sala mágica que tem a porta fechada à chave.
«Não digas a ninguém que estiveste comigo...»
Tudo parece ser secreto. Tento adivinhar a verdade na respiração apressada, quase ofegante. Na voz trémula, sussurrante. Naqueles olhos espantados e muito abertos. Na mulher que parece oferecer-se, corpo e alma. Tento ainda adivinhar se vou perder o fio do raciocínio e trocar, por exemplo, a linha da vida pela saturniana. Se fico para sempre debruçado sobre a linha do coração.
«Então, quando começas?»
«Ah, é verdade. Vou começar. Curioso!»
«Curioso, porquê?»
«Acreditas que julgava que já tinha começado?»
Infelizmente aquele momento mágico desapareceu. A sua voz já não está trémula, à mercê do predador. Nem a respiração ofegante. É ela. Segura de si.
«Estás a ver alguma coisa ruim? Conta-me tudo.»
«Rosa, doce Rosa…»
«O homem passou-se!»
Não me sinto bem. O seu olhar perturba-me e receio fazer um disparate. Por outro lado, qualquer coisa me diz que esta situação não pode ficar fora de controle. Mas a Rosa, doce Rosa tem a mão tão macia! Apetece-me beijá-la. Desapertar os botões da blusa. Oh! Não tem soutien…
«Que estás a fazer?»
«Desculpa-me.»
Não lhe desagradou de todo.
«E se alguém abre a porta?» pergunta, algo receosa.
«Está fechada à chave por dentro…»
«Mesmo assim não me sinto à vontade.»
Mas ela abriu uma porta. Não. Talvez uma janela.
«Então?»
Compasso de espera.
«Por outro lado, chamaste-me Rosa.»
«E depois?»
«Rosa, doce Rosa…»
«Tens a certeza que ouviste bem?»
«Certeza absoluta.»
«Que queres que te diga?»
«Podes soltar-me a mão?»
«Claro. Olha, que fazes logo à noite?»
Toda a carne no assador. Atenção ao cheiro a queimado.
«Não te esqueças que temos aulas das oito às dez para as dez. Só depois ficamos livres.»
Infelizmente aquele momento mágico desapareceu. A sua voz já não está trémula, à mercê do predador. Nem a respiração ofegante. É ela. Segura de si.
«Estás a ver alguma coisa ruim? Conta-me tudo.»
«Rosa, doce Rosa…»
«O homem passou-se!»
Não me sinto bem. O seu olhar perturba-me e receio fazer um disparate. Por outro lado, qualquer coisa me diz que esta situação não pode ficar fora de controle. Mas a Rosa, doce Rosa tem a mão tão macia! Apetece-me beijá-la. Desapertar os botões da blusa. Oh! Não tem soutien…
«Que estás a fazer?»
«Desculpa-me.»
Não lhe desagradou de todo.
«E se alguém abre a porta?» pergunta, algo receosa.
«Está fechada à chave por dentro…»
«Mesmo assim não me sinto à vontade.»
Mas ela abriu uma porta. Não. Talvez uma janela.
«Então?»
Compasso de espera.
«Por outro lado, chamaste-me Rosa.»
«E depois?»
«Rosa, doce Rosa…»
«Tens a certeza que ouviste bem?»
«Certeza absoluta.»
«Que queres que te diga?»
«Podes soltar-me a mão?»
«Claro. Olha, que fazes logo à noite?»
Toda a carne no assador. Atenção ao cheiro a queimado.
«Não te esqueças que temos aulas das oito às dez para as dez. Só depois ficamos livres.»
Livres. Com asas de gaivota.
Mas porque será que os seios da Rosa, doce Rosa não me saem do pensamento?
«Queres jantar logo comigo?»
«Falas sério, Rosa?»
«Estás outra vez a chamar-me por um nome que não é o meu!»
Esses cabelos compridos, soltos ao vento, vão afastar definitivamente a imagem quase obsessiva. E é tão estranho! Nunca te vi no meu jardim.
«Não sejas tonto. Agora tenho que ir embora. Vemo-nos por aí. Mais logo. Não te esqueças...»
«E sempre vamos jantar?»
«Sim.»
Mas porque será que os seios da Rosa, doce Rosa não me saem do pensamento?
«Queres jantar logo comigo?»
«Falas sério, Rosa?»
«Estás outra vez a chamar-me por um nome que não é o meu!»
Esses cabelos compridos, soltos ao vento, vão afastar definitivamente a imagem quase obsessiva. E é tão estranho! Nunca te vi no meu jardim.
«Não sejas tonto. Agora tenho que ir embora. Vemo-nos por aí. Mais logo. Não te esqueças...»
«E sempre vamos jantar?»
«Sim.»
«Só os dois?»
«Só os dois.»
No intervalo após a primeira aula notei que ela estava inquieta. Receei que se tivesse arrependido do convite que me fez. Há momentos e momentos.
«Que se passa, Maria?»
«Finalmente não te enganaste no nome. E se nos pisgássemos?»
Nem quero acreditar!
«De acordo.»
«Já adivinhaste onde vamos jantar?»
«Sim. Prometo ter juízo.»
Já na rua deparámos com uma quase superlua. Só de relance porque tínhamos pressa.
«Olha, é a lua dos namorados.»
«Coisa foleira. Mesmo assim, comove-me. É um convite para aceitar namoro?»
«E qual é a resposta?»
«Sim!!!!!»
Se pudesse correr pela noite atrás do tempo e levar-te a ver a magia do luar, talvez que um dia te perdesses nos meus olhos para não mais voltares atrás...
Mas infelizmente não foi bem assim que aconteceu. Ela passou por mim, cabelos soltos ao vento, sem sequer dizer adeus. Dizer adeus, não. Até logo.
«Só os dois.»
No intervalo após a primeira aula notei que ela estava inquieta. Receei que se tivesse arrependido do convite que me fez. Há momentos e momentos.
«Que se passa, Maria?»
«Finalmente não te enganaste no nome. E se nos pisgássemos?»
Nem quero acreditar!
«De acordo.»
«Já adivinhaste onde vamos jantar?»
«Sim. Prometo ter juízo.»
Já na rua deparámos com uma quase superlua. Só de relance porque tínhamos pressa.
«Olha, é a lua dos namorados.»
«Coisa foleira. Mesmo assim, comove-me. É um convite para aceitar namoro?»
«E qual é a resposta?»
«Sim!!!!!»
Se pudesse correr pela noite atrás do tempo e levar-te a ver a magia do luar, talvez que um dia te perdesses nos meus olhos para não mais voltares atrás...
Mas infelizmente não foi bem assim que aconteceu. Ela passou por mim, cabelos soltos ao vento, sem sequer dizer adeus. Dizer adeus, não. Até logo.
vi tal qual como a vi naquele momento secreto.
Quanto à Rosa, doce Rosa, se acaso existiu tinha outro nome.
Quanto à Rosa, doce Rosa, se acaso existiu tinha outro nome.
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