domingo, 4 de outubro de 2020

Sortilégio incorpóreo

Estava uma noite invernosa. Aos meus ouvidos chegavam os uivos aterradores do vento, daqueles que só se ouviam uma vez na vida. Chovia torrencialmente. Por detrás dos vidros da janela da sala fitava o arvoredo agitado numa ondulação algo anormal e incaracterística, mas própria de uma borrasca invernosa. Só que estávamos ainda no início do outono. Nessa noite horrível apostava que nenhum ser humano se ia aventurar à intempérie. Poucos carros passavam na estrada, a cem metros da vivenda que tinha alugado para férias. E que ricas férias, pensei. E que ótimo momento escolhi para recuperar de um princípio de esgotamento provocado pelo excesso de trabalho, com aulas a mais, alunos insuportáveis, explicações também a mais e consequentes resultados pouco favoráveis. Para completar o quadro, ressacava de uma paixão fracassada.
Gostei logo da casa. Tinha muita luz. A sua orientação, virada para sul, era a ideal para ler os meus livros de ficção científica.
Na aldeia ouvi falar de um fantasma que assombrava a casa, notícia que me deixou ainda mais motivado. Adorava fantasmas, sobretudo porque nunca me tinha confrontado com uma única assombração.
Cansei-me de assistir ao temporal que não dava tréguas lá fora e resolvi sentar-me no único sofá que existia na sala.
Em frente havia uma pequena mesa de apoio e um aparador de um só corpo, encostado à parede e, sobre este, um quadro pintado a óleo. Aliás, o quadro chamou-me logo a atenção no dia em que o senhorio me mostrou a casa.
«Comprou o quadro?»
«Não. Já existia quando adquiri esta casa há um ano.»
«É charmosa e ao mesmo tempo estranha, esta mulher. Os olhos escuros parecem seguir-me enquanto me desloco na sala. Já reparou?»
«Não se deixe influenciar pela mulher do quadro.» Aconselhou-me.
Levantei-me. O olhar profundo daquela mulher tinha de facto qualquer coisa de estranho.
É capaz de ser o tal fantasma!
Detive-me com mais atenção a observar a mulher. Cabelo escuro, curto. Testa alongada, tipicamente capricorniana. Quase de certeza uma mulher, segundo rezavam as crónicas astrológicas, que não se envolveu no amor, com medo de comprometer-se e de sair magoada de uma relação hipoteticamente destinada ao fracasso.
Um alfinete de brilhantes prendia uma rosa vermelha à blusa. Era mais um adorno que um resguardo a proteger os seios. Depois havia nostalgia no olhar, denunciando traços profundos de uma mulher madura, entre os quarenta e os cinquenta, realçados com exagero pelo pintor.
E que mais, além de umas calças azuis de ganga e de uma vulgar blusa branca?
Desviei o olhar com dificuldade e voltei-me para enfrentar com a vista a tempestade que se desenvolvia lá fora.
Maldita noite!
Um raio rasgou o céu escurecido e quase a seguir ouvi um ribombar medonho, prolongado, que estremeceu os vidros do aparador. Mais um relâmpago e um novo trovão. A sinfonia mais tenebrosa que podia estar a acontecer.
Bonito! Temos a tempestade mesmo em cima da casa…
Fiz uma verificação sumária às janelas da casa e confirmei que estavam fechadas com segurança. Mas de seguida tive um pensamento negativo. Admiti que os génios do mal tinham marcado um encontro sinistro naquela noite mas logo deixei escapar um sorriso com aquela ideia estúpida. «Vês muitos filmes de cariz insólito.» Pensei.
Mas dito e feito. Contra toda a lógica uma janela da sala abriu-se de repente e assustei-me pela primeira vez.
Calma, Mário. Talvez que a janela não estivesse bem fechada. Trata mas é de a fechar de novo e quanto antes.
Assim fiz. Só então reparei no quadro. Estava inclinado para a direita.
Não gosto nada de ver-te assim, de esguelha. Vamos mas é a endireitar-te. Pronto, está melhor. Mas não me olhes com esse olhos profundos. Se estivesse aqui a Odete certamente que comentaria jocosamente a minha apreciação aos teus olhos.

As lâmpadas deram um pequeno sinal de aviso. Só faltava a luz falhar.
«Bonito serviço!» exclamei, em voz alta.

Desta vez foi mesmo. E a noite tornou-se ainda mais escura que breu. nem de propósito.  Um facho de luz iluminou a estrada, da esquerda para a direita e ouvi o ruído do motor de um carro a aproximar-se. Logo a seguir, um chiar de pneus anunciando uma travagem brusca e uns segundos de suspense mal agoirados por um embate violento, provavelmente contra uma árvore. Seguiu-se um silêncio com o sinal de morte.
Não hesitei. Vesti o blusão e procurei uma lanterna na arrecadação anexa à cozinha. Certifiquei-me que tinha as chaves da porta no bolso das calças e decidi-me a enfrentar, lá fora, a borrasca.
Estranho acontecimento. A chuva tinha abrandado. Quanto ao vento, este continuava bravio.
Rapidamente cheguei à estrada e vi, ao fundo, o carro enfeixado contra uma árvore com a dianteira toda metido para dentro. Confirmava-se a previsão feita. Talvez não houvesse nada a fazer. Mas nunca se sabia. Podia ser mais aparato que outra coisa.

Já junto ao carro, preparei-me para o pior quando apontei a lanterna para o carro. Mas... Fiquei pasmado. O interior do carro não tinha ninguém.
«O condutor foi cuspido!»
Conclusão certa, pois logo a seguir ouvi gemidos. Orientei-me pelo som e foi fácil encontrar o corpo no escuro. Um relâmpago rasgou o céu e iluminou, por momentos, o sítio onde estava, reforçando a intensidade do facho da lanterna. E foi então que vi. Era uma mulher.
Debrucei-me sobre o corpo. Tinha os olhos abertos e fitava-me, espantada.
«Está bem?» perguntei, apreensivo.
Demorou a responder.
«Julgo que sim. Acho que foi só o susto.» 
Achei tranquilidade a mais para quem acabava de sofrer um embate daquela natureza. Certamente resultado do estado de choque em que ficou.
«Teve muita sorte!»
«Acho que sim.»
«Apoie-se em mim. Assim está bem. É um milagre estar viva!»
«Valeu-me ter o vidro aberto do meu lado.»
«E logo todo aberto numa noite destas!» comentei.
Estranho!
Fomos andando em direção à casa. Ela coxeava ligeiramente.

«Senti que estava a adormecer com o calor do aquecimento e abri o vidro do meu lado. Foi mais um gesto instintivo. Estava mesmo a adormecer.»
«Dupla sorte a sua porque também não levava posto o cinto de segurança.»

«Ah sim.» Concordou. 
Já estávamos em casa e entretanto a luz tinha voltado. Um bom sinal.
«Não pergunto se quer aquecer-se. A casa não tem lareira. Também já me disse que sentia calor. Que posso oferecer-lhe?»
«Obrigada. De momento, nada.»
«Mas teve uma tontura! É melhor deitar-se um pouco. Deixe que a ajude.»
Encostou-se a mim e encaminhei-a para o quarto.

«Deite-se um pouco a descansar. Entretanto vou buscar um copo de água açucarada.»
Obedeceu.
«Obrigada. Não se incomode. Sinto-me bem.»

«Aparentemente não tem uma única escoriação. E a perna?» 
«Dói-me um pouco a perna direita. Mas acho que vai passar.»
Azar! Não foi preciso despir a sinistrada…
«Deixe que me apresente. Chamo-me Mário Fonseca e sou professor. Só Mário, para si. Estou aqui a recuperar do esforço que requer a minha profissão.»
«Mário para sempre.» Disse ela.
Que insinuação era aquela?
«E eu sou a Inês.»
«Inês para sempre?» insinuei.
«Na eternidade dos tempos» sorriu. «De momento sem ocupação. Já vivi de investimentos em obras de arte.»
Então é conhecedora. Vou perguntar-lhe...
Desisti. Dirigi-me à cozinha. Tirei um copo do armário sobre a bancada e enchi-o com água da torneira. Deitei-lhe duas colheres de açúcar e agitei a água de modo a obter um soluto açucarado. Voltei ao quarto.
A desconhecida estava de olhos cerrados e parecia adormecida. Por momentos tive a sensação que era mais nova do que me pareceu à primeira vista. Fiquei estático, a vê-la. Aquela mulher tinha sobrevivido a um acidente brutal. "Inês para sempre". Quase parecia ser verdade. Mas se não fosse ter sido cuspida…
«Ah... é você!»
«Desculpe se a acordei. Vá, beba. É água açucarada. Vai fazer-lhe bem.»
Soergueu-se na cama e aceitou o copo. Bebeu a água de uma só vez.
«Então?»
«Sinto-me ótima.»

Um milagre a recuperação rápida!
«Deixe-se ficar um pouco a descansar. Eu vou para a sala. Se precisar de alguma coisa não hesite em chamar-me,»
«Obrigada. Não vale a pena. Estou muito melhor.» 
E esboçou uma tentativa para levantar-se. Tentativa que não falhou.
«Seja. A Inês lá sabe. Se está bem, então podemos passar à sala.»
Não precisou que a amparasse.
«Olhe, pode ficar neste sofá e eu vou buscar uma cadeira. Gosto de falar com as pessoas face a face. Um rosto belo como o seu é agradável de ver e de rever.»
«Rever?»
«Desculpe... fiquei com a ideia parva de déjá vu

«Ah... sim. Mas eu não me lembro de si.» 
Não comentei.
«Não quer um chá... ou um café?»
Vi-a olhar fixamente em frente.
O quadro…
Acabou por aceitar um café.
«Gosta?»
«Bem quente, por favor. Gosto de quê?

Pareceu-me que disfarçava.
«Do quadro que tem na sua frente.»
«Ah...»
Voltou o olhar para mim e vacilei. O olhar da bela Inês, amadurecida pelo tempo, que não tinha colo de garça, despiu-me de alto a baixo. Recompus-me. Não me importei. Logicamente até gostava. Aliás, eu é que despia as mulheres com o olhar, diziam. Agora acontecia o contrário.
«Bom, então vou fazer o seu café. Quer mais para o lado arábica ou prefere mais robusta
«Meio termo, por favor.»
«Meio termo não tenho. Nunca me atrevi a fazer lotes.»
«Então tanto faz.»
Enquanto fazia o café lembrei-me duma conversa que tive com o dono do minimercado da aldeia, já depois de feito o contrato de aluguer da casa.

«É o senhor que mora naquela vivenda amarela à saída da aldeia?» perguntou. «Não lhe gabo a escolha.»
«Porquê?»
«Porque sim.»

Boa resposta…
«Se existe algum mistério, não faz mal. Desembuche, homem!»
Olhou em volta, certificando-se que estávamos sós.
«Dizem à boca cheia que essa casa está amaldiçoada. O antigo dono nunca teve inquilinos certos e vendeu a casa muito barata.»
«O que quer dizer com isso?»
«Falava-se de um fantasma que assombrava a vivenda. Mas não quero influenciar o senhor.»
«Claro que não influencia. Até me motiva. Aliás, não tenciono denunciar o contrato.»
«E depois de ouvir uma história que tenho para contar-lhe, não vai mudar de opinião?»
«Logo se vê. Avance, homem, que já me aguçou a curiosidade.»
«Há coisa de uns cinco anos uma mulher veio morar para a vivenda amarela. Conheci-a pessoalmente quando fazia aqui compras. Tal como o senhor gostou da casa. pagou logo seis meses adiantados ao senhorio da altura. Os seus olhos escuros, penetrantes, e a testa alta fizeram-me esquecer os outros traços fisionómicos. Vestia calças de ganga azuis e uma blusa cuja cor não me ocorre.»
Fez uma pausa, talvez para observar como eu estava a reagir.
«Poucos dias depois veio de novo à loja e confessou que não voltava mais, mas deixava semanalmente um papel à porta da rua com a lista de encomendas.» 
«Assim, de um momento para o outro?» 
«Tal e qual. O meu empregado limitava-se a dar três pancadas na porta, a deixar o cabaz com as encomendas e a levantar da soleira a nova lista.» 
«Estranho!» 
«E assim foi. Olhe, meu amigo, ela parecia ser uma mulher comunicativa, sem problemas, muito segura de si. De um momento para o outro, isolou-se. Porquê, não sei. Admiti a hipótese de ser escritora e de precisar de silêncio para o seu trabalho.»
«A mulher tinha cabelos curtos, escuros?»
«É como o senhor diz. Como adivinhou?»
«Então é ela!»
«Ela, quem?»
«A mulher do quadro. Na sala há um quadro de uma mulher com as características que apontou. Mas continue...» 
Fez um gesto largo.
«Há pouco mais a dizer. Uma vez, quando o meu empregado foi levar as compras, não encontrou a lista. Sem saber o que fazer, ficou parado. Depois decidiu-se por bater à porta. Ninguém respondeu. Então deixou à porta a cesta com os víveres, veio para a loja e contou-me o sucedido. Mandei-o voltar no dia seguinte. A cesta continuava na soleira da porta.» 
«E voltou a bater à porta.»
«Sim. Três pancadas.» 
«Ninguém respondeu. Certo? E depois, que aconteceu?»
«Ora. Continuou a ir à casa. Ao fim de pouco mais de uma semana começou a vir do interior um cheiro nauseabundo. Comuniquei o caso ao polícia de giro que, por sua vez falou com o chefe da esquadra. Ato continuo arrombaram a porta e depararam com um corpo da mulher, já cadáver, enforcado.»
«Onde estava o corpo?»
«Na sala.»
«As mulheres matam-se normalmente com veneno ou comprimidos. Não terá havido alguém que a assassinasse?»
«Foi feita a autópsia do corpo, meu amigo.»
«Muito me conta. E agora falam do aparecimento do fantasma dessa tal mulher bela e de olhar penetrante. Vem reclamar o quê?»
«Isso já não sei. Tem que perguntar ao fantasma se alguma vez lhe aparecer. Só sei que essa casa foi arrendada várias vezes e sempre abandonada cerca de um mês após o arrendamento.»
«Porquê?»
«Parece que ouviam ruídos estranhos durante a noite e não conseguiam dormir.»
«Pois.»
«Não vai reconsiderar?»
«Longe disso. Estou há uma semana a habitar a vivenda e ainda não tive agradável prazer de ouvir os tais ruídos estranhos, as coisas a mudarem misteriosamente de sítio, ou então de tomar o pequeno almoço com a mulher do olhar penetrante. Nem que seja um simples café.»

O café estava pronto. Muito quente, como ela tinha pedido. Levei a cafeteira, duas chávenas e pires, e também o açúcar.
«Aqui está. Espero que esteja ao seu gosto.»
Não havia ninguém na sala. Provavelmente ela tinha ido à casa de banho.
Deixei-me ficar sentado, mas avisei:

«Inês, olhe que o café arrefece...»
Nenhuma resposta. Levantei-me e dei duas pancadas ligeiras na porta da casa de banho.
«Inês...»
De novo o silêncio. Senti um breve arrepio percorrer o corpo de alto a baixo.

Não podia ser!
«Vou abrir!» gritei.
Abri a porta. Pasmei. A mulher tinha-se eclipsado. A janela da casa de banho continuava fechada por dentro.
Voltei à sala e encontrei-a sentada no sofá, a levar a chávena à boca.
«Pregou-me um susto! Onde se meteu, alma de Deus?»
«Não percebo. Passou-se alguma coisa com você. Pousou as coisas em cima da mesa e dirigiu-se logo para a casa de banho.» Disse ela.
Senti que estava a entrar em paranoia. Havia qualquer coisa errada. Sem dúvida. Não tinha outro remédio senão fazer o que fiz.
«Que está a fazer? Olhe que não consinto!»
Sempre ouvira dizer que os fantasmas eram tão frios como o gelo. Ora acontecia que as mãos e as pernas dela estavam bem quentes.
«Desculpe, estou baralhado. Não tive intenção de a apalpar no sentido corrente do ato.»
«Então como explica o que fez?»
«Acredite que não a vi na sala e fui à casa de banho. Em face do acidente podia ter-se sentido mal. Um derrame interno, por exemplo.»
«Não faz a coisa por menos. Mas isso não justifica que tenha posto as mãos nas minhas pernas!» 
E pernas bem feitas.
Aqueles olhos!
Apontei para a parede onde estava o quadro.
«Não vai negar que...»
Levantei-me de imediato e dirigi-me para o aparador. Por cima dele não havia qualquer quadro, nem escápula para o segurar, nem um simples buraco na parede.
«Mas ele estava ali!» 
«Ele, quem?»
Contive-me e virei-me para ela. Sorriu e depois levantou-se.

«Já me sinto recomposta. É altura de partir...»
«Como? Não vai enfrentar a intempérie!»
«Qual intempérie?»
Abriu a porta da rua. A noite serenara.
«Adeus... Mais uma vez agradeço a sua oportuna intervenção e também a hospitalidade. O café era bom. Robusta?»
«Quase arábica. Um pouco de robusta. Mas vai a pé?»
«Talvez encontre uma vassoura por aí.» Ironizou.
«Não brinque. Bom, tudo bem. Ou tudo mal.»
«Não ligue. Estou a brincar. Adeus, Mário para sempre. Estou-lhe muito grata.»
«Se assim o quer, Inês...»
Fiquei a vê-la, a afastar-se. Voltou-se ainda para trás e fez-me um aceno a que correspondi. Em poucos segundos perdi-a de vista.
Fechei a porta e voltei para a sala. Foi nesse momento que ouvi um estrondo e sobressaltei-me. Olhei em todas as direções e acabei por ver o quadro no chão, à frente do aparador. Senti de imediato um calafrio.
A moldura estava irrecuperável. Quanto à tela não tinha uma única beliscadura.
Senti de novo a chuva a cair. Cocei a cabeça e pus-me a pensar. Certamente a Inês não ia longe. Tinha que voltar para trás.
Esperei alguns minutos e nada. Então peguei na lanterna, abri a porta da rua e dispus-me a enfrentar lá fora a borrasca.
Em poucos tempo cheguei à berma da estrada e apontei a lanterna num e noutro sentido da estrada. Da Inês nem sinal. 
Que fazia ali?
Dispus-me a regressar a casa.
«Ah... o carro!» lembrei-me.
O meu pressentimento não foi infundado. Descobri a árvore onde carro tinha embatido, mas não vi o carro nem qualquer vestígio do embate violento.
«Essa agora!» exclamei.
Voltei para casa. Não preguei olho nessa noite.
De manhã falei com o senhorio e aleguei afazeres de última hora para desistir da semana que ainda me faltava passar.
«Pode verificar que não falta nada na casa. Só o quadro por cima do aparador. A corda partiu-se e ficou danificado. Vou mandá-lo restaurar e depois devolvo-o.»
«De que quadro está a falar? Ah... o daquela mulher...»
«Não se preocupe que vou deixar uma caução. Quanto quer exatamente?»
«Se ele caiu, tanto melhor. Até lhe agradeço. Confesso que sempre me perturbou o olhar daquela mulher. Quem quer que ela fosse, tinha magnetismo no olhar. Ai tinha, tinha!»
Assim acaba a história, iniciada, não propriamente numa noite de borrasca, nem no momento em que aluguei a vivenda pintada de amarelo que, diziam na aldeia, era habitada por um fantasma. Uma mulher de idade madura, que ainda conservava traços de uma beleza que a tornava ainda atraente.
Suicidou-se por amor?
Outra dúvida:
Porque foi que ela voltou?
Duas perguntas que ficavam sem explicação.
Existem portas que ligam, momentaneamente, o nosso mundo e o outro. Está mais que referenciado nos livros da especialidade. 
Mas este caso foi muito mais além do que uma simples ligação de dois mundos, pois quando regressei ao meu apartamento e desfiz as malas encontrei, no fundo de uma delas, um alfinete de brilhantes igual ao que estava pintado no quadro da mulher de cabelos curtos e olhar penetrante.
Da rosa vermelha, nem sinal…

Sem comentários:

Enviar um comentário