terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Evocação

 


Analogia


 
Tudo existe, no presente e no esquecimento...
O desejo que sempre tive de beijar os teus lábios. A saudade de um passado que ruiu. Tudo não passou de uma ilusão.
O nosso sonho?, que é feito dele?
Há um abismo profundo a separar os caminhos de ontem e de hoje. Há mil promessas que imitam fachos de realidade. Só vejo uns olhos tristes e longínquos a fitarem-me, em segredo, na contemplação hipnótica de um deus quase deus para ti. É doloroso viver no presente e no esquecimento. Tão doloroso que chego a pensar que esqueci. Talvez por isso, para manter ardente a chama, me envies miragens, tão perfeitas que sou arrastado na torrente do sonho que, mais tarde ou mais cedo, desagua em pesadelo.
Os teus lábios estão frios. Distantes. Ainda ontem, quando nos encontrámos, eras a rapariga do vestido branco. Sempre te vi jovem. Para mim, nunca foste a mulher que o outro beijou. Há esquecimento semeado pelo presente que não tem calor para germinar. Ao mesmo tempo, o presente está esburacado pelo rebentamento de sonhos, rosas sem perfume que enfeitam mitos.
Quem nos afastou tão de repente?
Eras a estrela que deixou de brilhar no caminho de um transviado. Jamais terei os teus lábios de sabor a morangos silvestres. Jamais te terei...
Mas um dia, vi-te. Toda de branco. Olhos tristes e longínquos. Conheci-te logo ao primeiro olhar. Eras a mulher única. A mulher que deixei fugir.
Os nossos projetos?, lembras-te?
Podia ter acontecido, mas o maquinista da vida levou-me por caminhos diferentes que me afastaram de ti. Se pudesse, quebrava as grilhetas que me prendem à solidão e subia ao teu mundo para conhecer o sabor dos teus lábios. Hoje estão frios...
No céu brilhava uma estrela que era a luz da minha vida. Mas um dia parti. Depois, ouvi dizer que se apaixonaram por ti, estrela. Ouvi dizer que me esqueceste. Morreu o sonho. Agora não há nada.

Nunca mais te vi, nem nunca mais te verei. Mas há quem diga que ainda te ouve chorar...

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