O poeta esquecido...
"José Duro nasceu em Portalegre em 22 de Outubro de 1875. Morreu, com 23 anos, em Lisboa, a 18 de Janeiro de 1899.
Era filho de mãe solteira, a operária de lanifícios Maria da Assunção Cardoso, e do industrial José António Duro. O seu poema mais precoce, um soneto intitulado A Morte, escrito em Portalegre em 1895, revela já o temperamento melancólico, pessimista e mórbido do autor, que é ainda mais marcado na sua obra mais conhecida, Fel, livro escrito em 1898, quando a tuberculose de que sofria há muito e que provavelmente teve muita influência no seu carácter sombrio, anunciava a sua morte certa e iminente, que veio a acontecer apenas alguns dias depois da publicação.
Em 1896 publicou em Portalegre um folheto de versos que intitulou Flores.
A prostituição, a morte, a tuberculose e o desespero são os temas mais recorrentes da sua poesia, por muitos considerada a concretização mais negativista das correntes estéticas decadentistas em Portugal.
Fel é uma espécie de diário poético dos últimos dias do poeta. O poema Doente que encerra o livro é uma longa confissão de amargura e desespero de um jovem que sabe que a morte está próxima (Ademar Santos).
Um dia, o poeta que já publicara em 1896 o livro Flores, procura Mayer Garção porque queria imprimir o seu segundo livro e, antes de o publicar, gostava que alguém o lesse:
“Encontrei-me com José Duro na cervejaria do Gelo. Não esquecerei nunca a febre que reluzia nos olhos desse rapaz, em cujas faces se descortinavam já os estigmas da morte próxima.
Sentámo-nos a uma mesa, e, com voz rouca, durante longo tempo, ouvi a leitura do seu manuscrito, entoada com estranha paixão. Os criados perpassavam, servindo fregueses, àquela hora ainda raros, e, a essa banal mesa de café, eu assistia ao desenrolar de imagens, escutava a música dos ritmos, via desfilar as visões daquele espírito amargurado.
(…) ali, aquele poeta desgraçado e amargo despenhava perante mim os diamantes do seu espírito, porventura imperfeitamente lapidados, mas dum brilho, duma pureza, duma água tão cristalina que se diriam porvir da terra virgem, aliando à cor do sol o perfume das flores silvestres.
José Duro, com a sua voz rouca, quase não fazia uma pausa. OH! Rapidez terrível, aflitiva da sua leitura, a ânsia a exprimir em gritos o fruto da sua paixão! Dir-se-ia que esse rapaz, tão novo, receava não ter vida para chegar ao fim, e por isso traduzia a correr, a marcha final dos seus sonhos, na galopada frenética das suas palavras!”
Em 1950, a Câmara Municipal de Lisboa homenageou o poeta dando o seu nome a uma rua na zona de Alvalade, mais propriamente uma perpendicular sul à Avenida da Igreja.
Frequentou a Escola Politécnica de Lisboa, cidade onde, em tertúlias de café, veio a desenvolver o seu interesse pela literatura, nacional e estrangeira, sofrendo forte influência de Baudelaire e de António Nobre. De temperamento melancólico e pessimista, que se reflecte em Fel (1898), ficou conhecido pela veemência da dor, o sentimentalismo e o ambiente macabro e tétrico dos seus poemas. A valorização da sua poesia foi desigual, enaltecendo-o alguns e sendo alvo de troça por parte de outros. Morreu vítima de tuberculose. Para além de Fel, escreveu, em 1896, Flores. Em 1985, António Ventura havia organizado a edição de Páginas Desconhecidas, com obras de José Duro.
José Duro, de quem hoje ninguém fala nem sequer recorda o nome, não foi um poeta consensual. Alguns riram-se mesmo dos seus poemas. É uma consequência, talvez, de ser demasiado ingénuo e autêntico, ao mesmo tempo que artificial e empolado. Outros porém respeitaram a obra deste sequaz satânico e decadente que bebeu em António Nobre (também tísico como ele) o gosto por cadaverosidades, em Guerra Junqueiro o uso do sarcasmo, da grandiloquência e do sensacionalismo, e em Baudelaire o engodo pelas Flores do Mal. Por alguma razão a obra conseguiu chegar à décima primeira edição."
(notas compiladas de várias fontes) O livro que aí vai - obra de um incoerente -
É um livro brutal, é um poema a esmo...
Pensei-o pela rua olhando toda a gente,
Escrevi-o no meu quarto olhando-me a mim mesmo...



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