Que frio!, que solidão! Frio? É mais o reflexo da solidão em que me encontro. Tanto me faz estar encurralado entre as quatro paredes do meu quarto como perder-me na multidão anónima da avenida mais movimentada do planeta.
Já fizeram a experiência num dia cinzento, mesmo que o céu esteja azul?
Nem o azul vira cinzento, nem o cinzento vira azul. Por vezes, cinzento-azul. Talvez seja possível. É no que dão as formatações cegas para as quais se recorre quando se pretendem apagar as recordações dos tempos azuis, tão válidas para virem à ribalta como as outras, as que verdadeiramente queremos apagar. Umas não podem existir sem as outras. Permanecem. Felizmente umas e infelizmente as outras.
Sabem uma coisa? Não sabem porque não são adivinhos. Mas, adiante. Já não sou o caçador dos ditos amores impossíveis. O eterno amante dos acontecimentos na "tela dos corações caídos". Nem o perdedor de apostas feitas no último minuto.
Era outro tempo. O tempo do vendedor gratuito de ilusões às mulheres que tinham saído feridas por amores impossíveis. Mas não afirmo que as ilusões tinham um preço. Nem, tão pouco, dava abrigo às paixões ainda com sangue vivo a correr. Nem tão pouco ainda as descartava logo, nem as usava até à exaustão.
Se afirmarem que estou a mentir, salto no próximo atalho do destino e depois fico parado, à espera, com os sentidos ativados até ao máximo, não vá acontecer um falso alarme, sinal que não estou a dizer a verdade. Por vezes é preciso parar, olhar e ouvir...
Os pântanos abundam, sem outra lei que não a sua de serem simplesmente pântanos, criados à medida dos incautos e também dos que os desejam.
Que frio!, que solidão! Esta viagem que estou a fazer pela imensidão aparentemente desgovernada dos neurónios, já dura há mais de uma dúzia de anos e continua a ter linhas e linhas disponíveis para continuar.
Mas porque viajo tanto se estou sempre aqui?
Já lancei para o éter milhares e milhares de palavras. Nenhuma se perdeu. Estão lá todas. Prontas a serem analisadas pelos pesquisadores silenciosos que chegam, de mansinho, à procura de despojos que hoje agarram, ligam, e amanhã desmembram. É natural. Foi sempre assim. Mas pegar nos despojos e não conseguir uma palavra-chave para entrar no segredo, não é lógico, não é próprio dos seres racionais. Assim como o "gosto" e o "não gosto" de uma certa rede social que todos sabemos qual é, e que eu usei. Mas agora já não falo com os meus "amigos do gosto e não gosto", nem falo de mim, das minhas histórias nebulosas e assim. Mas não deixo de ser um deles, entenda-se, embora já não esteja com eles. Ficaram os tais despojos. Paz à sua alma.
Tinha tantas "amigas" em rede! Que é feito delas? Da Simone. Da Maria. Da "Fadinha da Lagoa Azul". De tantas outras.
Que frio!, que solidão trouxe o seu afastamento! Só ficou a curiosidade de saber quem eram, como eram, o que pensavam de mim. Somos todos reais, embora na tela deixemos o mais virtual de nós. As falsas emoções. A sensibilidade desvirtuada. As nossas sombras.
Somos racionais, mas naquela tela de movimento sem fim comportamo-nos como fantasmas modernos que já não usam correntes e assim não são denunciados. Elas "amam" os nossos fantasmas. Elas são fantasmas que nós "amamos". Deslizamos, uns e outros, no mais alto ruído do silêncio durante a eterna pesquisa dos dados escondidos, muitas das vezes com a certeza de não serem verdadeiros.
E tem que ser assim?, não há volta a dar? naquele mundo virtual, não.
As linhas de viagem, que se ligam, cruzam e entrecruzam, já não são o que eram. Agora só vejo água a correr no leito de um rio. Gotas agregadas de água que não podem voltar atrás, imitando a vida ou a vida imitando-as. E foram tantas essas viagens! Muitas, até que chegou a última porque o barco da viagem parou e nunca mais seguiu as águas que foram na corrida do seu destino.
Contemplo o leito agora seco do rio e tal dá-me desconforto. Até posso ser eu a contemplar-me como era ontem. Acontece. Por vezes acontece, mas não é sinal que a ausência das palavras signifique que o plano de viagem esteja adiado. Foi preciso parar e fazer outro. Há mais alternativas, como fugir sem ser a fugir.
Recuando no tempo, se antes desta autoestrada existir não vislumbrei alternativa, porque será que me queixo agora?
E tem que ser assim?, não há volta a dar? naquele mundo virtual, não.
As linhas de viagem, que se ligam, cruzam e entrecruzam, já não são o que eram. Agora só vejo água a correr no leito de um rio. Gotas agregadas de água que não podem voltar atrás, imitando a vida ou a vida imitando-as. E foram tantas essas viagens! Muitas, até que chegou a última porque o barco da viagem parou e nunca mais seguiu as águas que foram na corrida do seu destino.
Contemplo o leito agora seco do rio e tal dá-me desconforto. Até posso ser eu a contemplar-me como era ontem. Acontece. Por vezes acontece, mas não é sinal que a ausência das palavras signifique que o plano de viagem esteja adiado. Foi preciso parar e fazer outro. Há mais alternativas, como fugir sem ser a fugir.
Recuando no tempo, se antes desta autoestrada existir não vislumbrei alternativa, porque será que me queixo agora?
Ah! Touché. Afinal sempre vou lançar as palavras fragmentadas para o éter e ficar à espera das respostas perdidas que nunca virão. O barco da viagem segue sempre viagem, quer o rio leve água ou não, porque navega por metáforas.
Hoje faltam as ideias novas e repetem-se as outras, bolorentas. "Macaco de imitação!", disse alguém. Plagiaste as tuas próprias ideias! O plágio vai lixar-te já que não posso deitar-te abaixo de outra forma. Formata-te ou morre por ti. E não, não me arrependo, nem tenho remorsos mesmo que a tua morte tenha sido violenta e tivesses deixado como justificação uma mensagem encriptada.
A vida é feita de ciclos. Uns fecham-se. Outros abrem-se. E é bom sinal que assim seja. Não sei se o meu ciclo fechou ou se está a abrir. Qualquer que seja a situação, vou quebrar as amarras que prendem o barco à margem, arregaçar as mangas e atirar-me às águas do leito seco. Entretanto as novas ideias estão a chegar, embora digam os "iluminados" que já não há novas ideias. Só remendos. Plágios. Plágios de plágios. Tudo plágios. Apenas se dão voltas às palavras já gastas. Mas eu vou contrariá-los. Ah!, antes conseguisse porque seria inédito. Mas se ontem não consegui muito menos hoje ou no futuro.
"Quantos são hoje?" Plágio.
"Que bom que é..." Plágio, se a frase for completada.
"Quero pensar só em ti para te ter sempre comigo!" Um plágio meu. Vou multar-me.
Estejam atentos, amigos e amigas invisíveis do meu mundo sem nexo. Hoje quis que fosse assim. Amanhã o barco real terá água real para poder navegar e oxalá o rio não esteja seco lá mais para diante. Nunca se sabe do amanhã.
Gostava tanto de ter saltado de ontem para amanhã, porque hoje sinto-me em dia não. Como um peixe fora de água. Bom, é uma metáfora que está muito batida. Preciso de encontrar outra. Estou saturado dos estafados dias azuis em que me sinto "estafadamente" cinzento. Façam também desaparecer esses dias estafados.
Mas hoje não é como todos os dias que se repetem?
Estou triste? Talvez. Nostálgico? Talvez. Mágico? Faz-me rir só de pensar. Se fosse mágico, não tinha perdido o que já foi meu. Que bom que era ter comigo o químico Lavoisier! Com ele, nada se perdia. Tudo se transformava. Mas se tudo se transformava, qual era a solução para voltar a ter a certeza que era aquilo exatamente o que perdi? Assim, deixo em paz o químico. Preciso de ter na minha posse algo mais eficaz que me faça sair do marasmo em que estou. É um absurdo, se nem sequer desejo ser senhor do imprevisto que me espera depois de saltar o muro que me prende a vontade de sentir à solta as emoções. Por exemplo, o desejo de assaltar um banco e sair sem um maço de notas para recordação. Balear uma sombra e correr a apanhar a bala. Esventrar um corpo invisível. Ver o meu duplo a passear no jardim e depois ir ao seu encontro (ideia estafada para contrariar a tese de que o mesmo corpo não pode estar ao mesmo tempo em sítios diferentes - ouviste, eletrão? - e descobrir que sou eu e o meu duplo está a ver-me do sítio onde eu estava.
Quantos são hoje? Não sei. Ou sei e não interessa. Nada acrescenta ou serve de introito a mais uma queixa (ou várias?) estranha. E aí vai. Sinto-me nervoso por estar calmo. O ócio faz-me stress. Quando o vento assobia forte a canção da tempestade, fico indiferente porque não passa de um assobio que sibila e foge de mim. Para o largo. Bem ao largo, porque tenho uma tempestade mais forte cá dentro que é mais importante enfrentar. Uma tempestade que assobia e arrasa como nenhuma outra das visíveis.
... Gostava tanto de ser a flor do cato que abre só por um dia no deserto que é eterno, que tem o cato que mostra a flor só por uma dia, que me teve ontem, que me tem hoje e que me terá sempre!
... e mais ainda, gostava tanto de renascer ao crepúsculo para sentir saudades de viver só um dia no último dia do ano que me resta. Um dia especial. Um dia só para ti, se é que não estiveste dentro do sonho que vive cá dentro, que não dura sequer uma hora e é toda a minha vida.
E já agora, porque as palavras estão a esgotar-se ou perderam-se, vem ter comigo, sonho, e abraça-me mesmo que sejas um sonho. Vem, nem que seja por uma hora de loucura. Vem e afasta de mim este tédio que me consome, senão consumo-o eu. Esta tristeza não tem cura porque não fala comigo e assim não sei o porquê do seu mutismo. E, antes que tudo isto me consuma, vem, ilusão de amar! Vem ter comigo. Vem!... mesmo que não seja por tudo isto...
Gostava tanto só de te rever! O resto...? Não passa nem passou da porra de uma monotonia desarmónica.
Agora...
A última coisa que me passaria pela cabeça era acreditar numa frase que não é da minha autoria, e não sei de quem, que diz “não vais conhecer o amor se não te entregares a ele”. Foi o que tentei fazer e deu no que deu. A verdade está cada vez mais distante e o que se passa é, na realidade, o resultado de um puro ato de magia do momento. Infelizmente mais nada. Aconteceu e não volta acontecer.
Aqui estamos. Lado a lado. Cada um com a sua verdade. Cada um a tentar adivinhar o pensamento do outro. Estamos lado a lado. Não frente a frente. Não de olhos nos olhos. Um, com vontade de dizer “até amanhã, meu amor, dorme bem”. O outro... bom, é melhor não dizer porque não tem amanhã.
Eu sei o que penso, mas não sei o que pensas. E o mesmo se deve passar contigo.
Isso preocupa-me, porque, nessas condições estamos a ver-nos em caminhos paralelos. Provavelmente à procura de um atalho que nos leve ao encontro um do outro. Mas haverá atalhos entre caminhos paralelos?
Uma história de amanhã...
Noite estrelada. Morna. Mas sinto frio cá dentro. Um frio que me gela até aos ossos. É terrível este frio intenso numa noite morna e estrelada que podia convidar ao sonho e há algo que me bloqueia e fragiliza. Os escaninhos da memória, onde se escondem metros e metros de filmes que não quero recordar, agitam-se e estão prontos a soltarem segredos de há muito. Foram mais que longas horas à espera. Sonhos que começaram e não acabaram. Sonhos que não passaram de ondas a desfazer-se em espuma na praia dos desencontros e dos desencantados. É uma injustiça ver a minha onda afastar-se para lá da linha do horizonte, a perder-se para sempre. Oxalá não seja a última porque a solidão mata. Não quero ficar sozinho com a minha solidão.
Então quem devia estar comigo à beira-mar, esperando por aquela onda?
Olho o céu da noite. Estrelado, já disse. De súbito, foi aquecido pelo riscar efémero de uma estrela cadente. Coisa rara. As estrelas cadentes são raras nesta época. E muitos são os desejos que ficam por concretizar-se se não houver uma estrela cadente, um asteroide imprudente que entrou na zona de influência gravítica da Terra.
«Pede um desejo!» diz uma voz
Olho em volta. Só estou eu e a voz. Quem me dera que o desejo se realize. Mas não importa o desejo, pois sinto-me ausente nesta praia dos malditos, numa maldita noite que vai parir o dia de amanhã, vazio, que nada traz para mim porque é vazio. A não ser a sucessão monótona dos dias e das noites em que nada, ou quase nada, acontece. Admitindo o quase:
Hoje faltam as ideias novas e repetem-se as outras, bolorentas. "Macaco de imitação!", disse alguém. Plagiaste as tuas próprias ideias! O plágio vai lixar-te já que não posso deitar-te abaixo de outra forma. Formata-te ou morre por ti. E não, não me arrependo, nem tenho remorsos mesmo que a tua morte tenha sido violenta e tivesses deixado como justificação uma mensagem encriptada.
A vida é feita de ciclos. Uns fecham-se. Outros abrem-se. E é bom sinal que assim seja. Não sei se o meu ciclo fechou ou se está a abrir. Qualquer que seja a situação, vou quebrar as amarras que prendem o barco à margem, arregaçar as mangas e atirar-me às águas do leito seco. Entretanto as novas ideias estão a chegar, embora digam os "iluminados" que já não há novas ideias. Só remendos. Plágios. Plágios de plágios. Tudo plágios. Apenas se dão voltas às palavras já gastas. Mas eu vou contrariá-los. Ah!, antes conseguisse porque seria inédito. Mas se ontem não consegui muito menos hoje ou no futuro.
"Quantos são hoje?" Plágio.
"Que bom que é..." Plágio, se a frase for completada.
"Quero pensar só em ti para te ter sempre comigo!" Um plágio meu. Vou multar-me.
Estejam atentos, amigos e amigas invisíveis do meu mundo sem nexo. Hoje quis que fosse assim. Amanhã o barco real terá água real para poder navegar e oxalá o rio não esteja seco lá mais para diante. Nunca se sabe do amanhã.
Gostava tanto de ter saltado de ontem para amanhã, porque hoje sinto-me em dia não. Como um peixe fora de água. Bom, é uma metáfora que está muito batida. Preciso de encontrar outra. Estou saturado dos estafados dias azuis em que me sinto "estafadamente" cinzento. Façam também desaparecer esses dias estafados.
Mas hoje não é como todos os dias que se repetem?
Estou triste? Talvez. Nostálgico? Talvez. Mágico? Faz-me rir só de pensar. Se fosse mágico, não tinha perdido o que já foi meu. Que bom que era ter comigo o químico Lavoisier! Com ele, nada se perdia. Tudo se transformava. Mas se tudo se transformava, qual era a solução para voltar a ter a certeza que era aquilo exatamente o que perdi? Assim, deixo em paz o químico. Preciso de ter na minha posse algo mais eficaz que me faça sair do marasmo em que estou. É um absurdo, se nem sequer desejo ser senhor do imprevisto que me espera depois de saltar o muro que me prende a vontade de sentir à solta as emoções. Por exemplo, o desejo de assaltar um banco e sair sem um maço de notas para recordação. Balear uma sombra e correr a apanhar a bala. Esventrar um corpo invisível. Ver o meu duplo a passear no jardim e depois ir ao seu encontro (ideia estafada para contrariar a tese de que o mesmo corpo não pode estar ao mesmo tempo em sítios diferentes - ouviste, eletrão? - e descobrir que sou eu e o meu duplo está a ver-me do sítio onde eu estava.
Quantos são hoje? Não sei. Ou sei e não interessa. Nada acrescenta ou serve de introito a mais uma queixa (ou várias?) estranha. E aí vai. Sinto-me nervoso por estar calmo. O ócio faz-me stress. Quando o vento assobia forte a canção da tempestade, fico indiferente porque não passa de um assobio que sibila e foge de mim. Para o largo. Bem ao largo, porque tenho uma tempestade mais forte cá dentro que é mais importante enfrentar. Uma tempestade que assobia e arrasa como nenhuma outra das visíveis.
Não gosto desta vida fútil. Não me motiva. Nem sequer me amedronta se, alguma vez, vir no céu o cogumelo da bomba a anunciar o que já soubemos como foi porque aconteceu duas vezes. Uma terceira talvez venha a ser A probabilidade assim o diz. Não é ser negativo porque já estava negativo. O oriente será a origem certa de várias origens possíveis.
Cogumelos nunca mais. É um desejo ou uma ordem?
Estou tão farto desta imitação de viver no meio de palavras a esmo que escrevo que até o vício foge de mim! O afeto esconde-se. O ódio, tímido, pede licença para entrar. Só entra se vier do amor que gerou um dia e ficou perdido algures, lá muito para trás.
Quero saber como se salta de ontem para amanhã. Porquê? Porque é hoje.Todo este cenário que me envolve é insuportável. Tenho que tomar uma decisão. Que decisão? Beber um copo de água porque tenho sede e imaginar que estou a ser envenenado, lentamente, com arsénico. Bom, isto é a loucura a instalar-se. Uma espécie de tempestade louca. O que sinto é um sinal que ela veio para ficar, porque estou a viver, dia após dia, um viver que não passa de um sonho a contar outro sonho. Uma história curta num tempo curto. Sem princípio nem fim. Uma história que fala vagamente de um desejo.
Cogumelos nunca mais. É um desejo ou uma ordem?
Estou tão farto desta imitação de viver no meio de palavras a esmo que escrevo que até o vício foge de mim! O afeto esconde-se. O ódio, tímido, pede licença para entrar. Só entra se vier do amor que gerou um dia e ficou perdido algures, lá muito para trás.
Quero saber como se salta de ontem para amanhã. Porquê? Porque é hoje.Todo este cenário que me envolve é insuportável. Tenho que tomar uma decisão. Que decisão? Beber um copo de água porque tenho sede e imaginar que estou a ser envenenado, lentamente, com arsénico. Bom, isto é a loucura a instalar-se. Uma espécie de tempestade louca. O que sinto é um sinal que ela veio para ficar, porque estou a viver, dia após dia, um viver que não passa de um sonho a contar outro sonho. Uma história curta num tempo curto. Sem princípio nem fim. Uma história que fala vagamente de um desejo.
... Gostava tanto de ser a flor do cato que abre só por um dia no deserto que é eterno, que tem o cato que mostra a flor só por uma dia, que me teve ontem, que me tem hoje e que me terá sempre!
... e mais ainda, gostava tanto de renascer ao crepúsculo para sentir saudades de viver só um dia no último dia do ano que me resta. Um dia especial. Um dia só para ti, se é que não estiveste dentro do sonho que vive cá dentro, que não dura sequer uma hora e é toda a minha vida.
E já agora, porque as palavras estão a esgotar-se ou perderam-se, vem ter comigo, sonho, e abraça-me mesmo que sejas um sonho. Vem, nem que seja por uma hora de loucura. Vem e afasta de mim este tédio que me consome, senão consumo-o eu. Esta tristeza não tem cura porque não fala comigo e assim não sei o porquê do seu mutismo. E, antes que tudo isto me consuma, vem, ilusão de amar! Vem ter comigo. Vem!... mesmo que não seja por tudo isto...
Gostava tanto só de te rever! O resto...? Não passa nem passou da porra de uma monotonia desarmónica.
Agora...
A última coisa que me passaria pela cabeça era acreditar numa frase que não é da minha autoria, e não sei de quem, que diz “não vais conhecer o amor se não te entregares a ele”. Foi o que tentei fazer e deu no que deu. A verdade está cada vez mais distante e o que se passa é, na realidade, o resultado de um puro ato de magia do momento. Infelizmente mais nada. Aconteceu e não volta acontecer.
Aqui estamos. Lado a lado. Cada um com a sua verdade. Cada um a tentar adivinhar o pensamento do outro. Estamos lado a lado. Não frente a frente. Não de olhos nos olhos. Um, com vontade de dizer “até amanhã, meu amor, dorme bem”. O outro... bom, é melhor não dizer porque não tem amanhã.
Eu sei o que penso, mas não sei o que pensas. E o mesmo se deve passar contigo.
Isso preocupa-me, porque, nessas condições estamos a ver-nos em caminhos paralelos. Provavelmente à procura de um atalho que nos leve ao encontro um do outro. Mas haverá atalhos entre caminhos paralelos?
Uma história de amanhã...
Noite estrelada. Morna. Mas sinto frio cá dentro. Um frio que me gela até aos ossos. É terrível este frio intenso numa noite morna e estrelada que podia convidar ao sonho e há algo que me bloqueia e fragiliza. Os escaninhos da memória, onde se escondem metros e metros de filmes que não quero recordar, agitam-se e estão prontos a soltarem segredos de há muito. Foram mais que longas horas à espera. Sonhos que começaram e não acabaram. Sonhos que não passaram de ondas a desfazer-se em espuma na praia dos desencontros e dos desencantados. É uma injustiça ver a minha onda afastar-se para lá da linha do horizonte, a perder-se para sempre. Oxalá não seja a última porque a solidão mata. Não quero ficar sozinho com a minha solidão.
Então quem devia estar comigo à beira-mar, esperando por aquela onda?
Olho o céu da noite. Estrelado, já disse. De súbito, foi aquecido pelo riscar efémero de uma estrela cadente. Coisa rara. As estrelas cadentes são raras nesta época. E muitos são os desejos que ficam por concretizar-se se não houver uma estrela cadente, um asteroide imprudente que entrou na zona de influência gravítica da Terra.
«Pede um desejo!» diz uma voz
Olho em volta. Só estou eu e a voz. Quem me dera que o desejo se realize. Mas não importa o desejo, pois sinto-me ausente nesta praia dos malditos, numa maldita noite que vai parir o dia de amanhã, vazio, que nada traz para mim porque é vazio. A não ser a sucessão monótona dos dias e das noites em que nada, ou quase nada, acontece. Admitindo o quase:
«Então o que vai acontecer?»
Tanto pode ser mau, como não ser bom. Bom. Quero o bom. Que bom que é não ser quem vai acordar amanhã. E tenho sorte porque amanhã é o dia do outro. Ao menos, esse não se enamora nas noites estreladas ou coisas parecidas, nem precisa de esperar pela onda que não vem e tem sempre tudo o que quer e eu o que não quero. Também deve ser monótono. Deixemo-lo em paz. Por enquanto.
Agora a noite começa a estar fria. Sinal que o tempo continua a passar e ainda está comigo porque a minha onda ainda não chegou, nem está para chegar. Não espero nada de novo, como já é hábito. Mas porque não tenho planos, mesmo que a noite esteja cada vez mais fria vou ficar por aqui.
Ah!, se ela pudesse estar agora comigo, à beira-mar, a ouvir também o ruído das ondas! Muito juntos, como um só, esperando pela onda que nunca virá!
Mas quem é ela, senão uma figura de estilo?
Olho para dentro e vejo o outro eu que não eu mas eu. O do costume. Pois. Agora percebo. Descobri o seu segredo. Julga-se mago das palavras, mas não passa de um simplório manipulador e ladrão dos meus pensamentos. Assim, obrigado. Também eu conseguia. Com esse trunfo, tem tudo o que quer e às vezes não quer. Fomiga as abelhas e rouba o mel.
E se tentasse ser como ele?
Não quero. Prefiro lutar para ter hoje o que vou perder amanhã. E é lógico. Como acontece aos outros, um dia vou chegar à conclusão que fica cá tudo menos eu.
Por momentos deixo de ver o profundo negro do céu salpicado por milhões de estrelas, muitas delas invisíveis ao alcance dos meus olhos. Mesmo que sinta frio, é bom estar aqui, à beira-mar. O outro eu ausentou-se. Talvez tenha farejado uma nova paixão. E, sorte a minha, deixou sobre a secretária a esferográfica e o papel. É um ser à moda antiga. Foge do computador como o soldado amanuense das armas. Mas tem uma virtude. Manipula menos as palavras. Não que faça mal. E, às vezes, até dá jeito virar de pernas para o ar um texto. Baralhar as cartas do jogo sujo e distribuir de novo para ficar tudo na mesma.
Vejam este sorriso de vencedor. Finalmente vou conhecer o seu segredo. Descobrir o centro donde vêm suas as histórias. Se ele tira partido delas, também posso aproveitar-me. Ou não me chame eu.
Cá estão as histórias que ainda não saíram. Vou lê-las, separar o trigo do joio.
Mas que fui fazer, se só vejo nelas o joio? E estas, não as quero. Afinal entrei no sítio negro da memória. Logo ia acontecer o imprevisível. Azar o meu. Não quero ficar aí. Tenho que fugir a sete pés.
Mas onde estão as histórias que ainda não foram contadas?
«Estão aqui. Eu sou o seu guardião. Desculpa. Digo que estou a sorrir de gozo porque sei que não me vês. Que história querias ter nas tuas mãos? Tenho soluções para tudo.»
«Mas quem és tu, voz?»
«Adivinha.»
«Sou tu. Eu.»
Só me faltava mais esta! Fingiu que se ausentava e apossou-se de novo da esferográfica e do papel que lhe roubei e agora quer bloquear-me aqui, no centro das histórias que não estão para sair e sem ter acesso às outras. Agora vai manipulá-las à sua imagem. Antes continuar à beira-mar, na estafada praia dos desencontros e dos desencantados, bla bla bla, a ver o céu da noite, estrelado, aquele céu que inspira todos os sonhos impossíveis, do ser prisioneiro de mim próprio. Afinal eu.
«Tenho uma história para ti. Queres?»
Admito que sim, que quero, mas interrogo-me se não a rejeitou porque a mesma não tinha um final feliz.
«E que história é?»
«Depois vês. Mas aviso-te. Ou esta história ou nada.»
Agora vem com chantagens. Ou a história ou nada.
«Não vou jogar no escuro.»
Chego bem para ele, mas não basta. Lidar com entes invisíveis é coisa difícil. Mas não impossível.
«Então, ficas com nada.»
Deixei de ouvir a voz. Eu. O outro eu. O manipulador. O guardião das histórias.
Será que vou arrepender-me por não aceitar?
Já não estou à beira-mar. As ondas foram para longe, mas nada me garante que amanhã não estejam de regresso.
E amanhã, o que me espera o amanhã, onde o tempo parou para esperar por mim, quando entrei no centro das histórias?
Agora os olhos perdem-se na distância. Oiço o eco da voz, vejo uns olhos negros e profundos, sinto o contacto suave de um corpo mestiço. O convite erótico de uma mulher envolta num lençol de banho que deixou cair.
Afinal sei qual é a história. Mas já foi contada!
Na tela dos corações caídos, mundo do eterno virtual, estamos juntos um momento. Eu e o seu olhar profundo, o contacto da sua pele mestiça e a voz doce que me sussurra sonhos de ontem para amanhã.
O outro eu enganou-me.
Paixões leva-as o vento e se este sopra do sul traz de volta tempestades interiores que deixam feridas profundas. Não as quero, mas este é talvez o meu destino. Tê-las iguais às que já foram contadas.
Fico a pensar.
«Então?»
É isso. Vou outra vez à beira-mar, onde estive e já não estou. Mas o tempo que teima em voltar do tempo que ontem parou, não o quero. Só desejo contar uma história de hoje para amanhã.
Mas onde estão as palavras certas?
Tanto pode ser mau, como não ser bom. Bom. Quero o bom. Que bom que é não ser quem vai acordar amanhã. E tenho sorte porque amanhã é o dia do outro. Ao menos, esse não se enamora nas noites estreladas ou coisas parecidas, nem precisa de esperar pela onda que não vem e tem sempre tudo o que quer e eu o que não quero. Também deve ser monótono. Deixemo-lo em paz. Por enquanto.
Agora a noite começa a estar fria. Sinal que o tempo continua a passar e ainda está comigo porque a minha onda ainda não chegou, nem está para chegar. Não espero nada de novo, como já é hábito. Mas porque não tenho planos, mesmo que a noite esteja cada vez mais fria vou ficar por aqui.
Ah!, se ela pudesse estar agora comigo, à beira-mar, a ouvir também o ruído das ondas! Muito juntos, como um só, esperando pela onda que nunca virá!
Mas quem é ela, senão uma figura de estilo?
Olho para dentro e vejo o outro eu que não eu mas eu. O do costume. Pois. Agora percebo. Descobri o seu segredo. Julga-se mago das palavras, mas não passa de um simplório manipulador e ladrão dos meus pensamentos. Assim, obrigado. Também eu conseguia. Com esse trunfo, tem tudo o que quer e às vezes não quer. Fomiga as abelhas e rouba o mel.
E se tentasse ser como ele?
Não quero. Prefiro lutar para ter hoje o que vou perder amanhã. E é lógico. Como acontece aos outros, um dia vou chegar à conclusão que fica cá tudo menos eu.
Por momentos deixo de ver o profundo negro do céu salpicado por milhões de estrelas, muitas delas invisíveis ao alcance dos meus olhos. Mesmo que sinta frio, é bom estar aqui, à beira-mar. O outro eu ausentou-se. Talvez tenha farejado uma nova paixão. E, sorte a minha, deixou sobre a secretária a esferográfica e o papel. É um ser à moda antiga. Foge do computador como o soldado amanuense das armas. Mas tem uma virtude. Manipula menos as palavras. Não que faça mal. E, às vezes, até dá jeito virar de pernas para o ar um texto. Baralhar as cartas do jogo sujo e distribuir de novo para ficar tudo na mesma.
Vejam este sorriso de vencedor. Finalmente vou conhecer o seu segredo. Descobrir o centro donde vêm suas as histórias. Se ele tira partido delas, também posso aproveitar-me. Ou não me chame eu.
Cá estão as histórias que ainda não saíram. Vou lê-las, separar o trigo do joio.
Mas que fui fazer, se só vejo nelas o joio? E estas, não as quero. Afinal entrei no sítio negro da memória. Logo ia acontecer o imprevisível. Azar o meu. Não quero ficar aí. Tenho que fugir a sete pés.
Mas onde estão as histórias que ainda não foram contadas?
«Estão aqui. Eu sou o seu guardião. Desculpa. Digo que estou a sorrir de gozo porque sei que não me vês. Que história querias ter nas tuas mãos? Tenho soluções para tudo.»
«Mas quem és tu, voz?»
«Adivinha.»
«Sou tu. Eu.»
Só me faltava mais esta! Fingiu que se ausentava e apossou-se de novo da esferográfica e do papel que lhe roubei e agora quer bloquear-me aqui, no centro das histórias que não estão para sair e sem ter acesso às outras. Agora vai manipulá-las à sua imagem. Antes continuar à beira-mar, na estafada praia dos desencontros e dos desencantados, bla bla bla, a ver o céu da noite, estrelado, aquele céu que inspira todos os sonhos impossíveis, do ser prisioneiro de mim próprio. Afinal eu.
«Tenho uma história para ti. Queres?»
Admito que sim, que quero, mas interrogo-me se não a rejeitou porque a mesma não tinha um final feliz.
«E que história é?»
«Depois vês. Mas aviso-te. Ou esta história ou nada.»
Agora vem com chantagens. Ou a história ou nada.
«Não vou jogar no escuro.»
Chego bem para ele, mas não basta. Lidar com entes invisíveis é coisa difícil. Mas não impossível.
«Então, ficas com nada.»
Deixei de ouvir a voz. Eu. O outro eu. O manipulador. O guardião das histórias.
Será que vou arrepender-me por não aceitar?
Já não estou à beira-mar. As ondas foram para longe, mas nada me garante que amanhã não estejam de regresso.
E amanhã, o que me espera o amanhã, onde o tempo parou para esperar por mim, quando entrei no centro das histórias?
Agora os olhos perdem-se na distância. Oiço o eco da voz, vejo uns olhos negros e profundos, sinto o contacto suave de um corpo mestiço. O convite erótico de uma mulher envolta num lençol de banho que deixou cair.
Afinal sei qual é a história. Mas já foi contada!
Na tela dos corações caídos, mundo do eterno virtual, estamos juntos um momento. Eu e o seu olhar profundo, o contacto da sua pele mestiça e a voz doce que me sussurra sonhos de ontem para amanhã.
O outro eu enganou-me.
Paixões leva-as o vento e se este sopra do sul traz de volta tempestades interiores que deixam feridas profundas. Não as quero, mas este é talvez o meu destino. Tê-las iguais às que já foram contadas.
Fico a pensar.
«Então?»
É isso. Vou outra vez à beira-mar, onde estive e já não estou. Mas o tempo que teima em voltar do tempo que ontem parou, não o quero. Só desejo contar uma história de hoje para amanhã.
Mas onde estão as palavras certas?

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