sábado, 25 de maio de 2024

A propósito de flores...




Disseste-me há dias que não gostavas de rosas. Vermelhas. Brancas. Amarelas. De qualquer cor que fossem elas.
Perguntei-te porquê e não respondeste. Talvez porque já gostaste de rosas. Das rosas vermelhas que uma vez te ofereci. Não negues. Será porque já não gostas de mim? Esse olhar distante diz tudo. Há qualquer obstáculo entre nós. Outro homem...?, tens outro homem?
Não acreditei e pus-me a pensar no porquê do teu silêncio. Fechei os olhos. Tenho por hábito fechar os olhos quando preciso que os pensamentos venham mais límpidos. E eis que eles estão a ser. Julgo ter encontrado a resposta. Talvez por as rosas serem banais. É habitual um homem oferecer rosas à mulher que ama e esse hábito acaba por cair na vulgaridade. É isso. Tudo bem. Não gostas de rosas porque são vulgares. Flores belas, das mais diversas cores, mas vulgares. Ah sim. Brancas nem pensar. Sei muito bem porquê. Tu própria te justificaste. Agora me recordo. Rosas brancas eram para os mortos, disseste.

E naquela tarde em que esperei por ti quase uma hora?
Tivemos um pequeno arrufo porque fiquei irritado com o teu atraso. O céu estava azul, mas eu sentia-me cinzento. Implicativo. Tu não levaste a mal e pouco depois já estava a pedir-te desculpa pela minha incorreção. Então disseste:
«Gosto de orquídeas. Qualquer que seja a sua cor...»
«Ah... as orquídeas. Não sabia que gostavas de orquídeas. Nunca me disseste.»
«Pois não. Estou a dizer-te agora. Oferece-me uma orquídea e em troca dou-te um beijo.»
«Prometo que amanhã ofereço-te uma orquídea. E agora dá-me um beijo adiantado. Um beijo doce.»
«Beijos adiantados, não. Só depois da orquídea, menino!»




Pus-me outra vez a pensar. Claro que pensei depois da orquídea e do beijo que, na verdade, soube-me a pouco. Coisa forçada?

Quando os nossos destinos se aproximaram, ofereci-te rosas vermelhas todos os meses e nunca me disseste que não gostavas de rosas. E já afirmaste mais que uma vez que és uma mulher frontal.
Há quem diga a pés juntos que as rosas vermelhas espelham a paixão. É uma opinião. Respeito as opiniões dos outros. Mas sabes...?, ofereci-te rosas vermelhas só por amor. Se fosse paixão, nada restaria ao fim de muito pouco tempo senão a cinza fria de um falso amor e nada disto aconteceu. A suposta paixão da rosa vermelha ardeu com uma chama quente e continuará a arder. Assim, o que sinto por ti é amor. Nunca foi paixão. E tu?

Recordo-me ainda que também te ofereci uma orquídea em vaso, mas as suas flores murcharam ao fim de pouco tempo.
«Não tenho sorte com as plantas.» Desculpaste-te.
As orquídeas não necessitam de muita água. Não foi por aí que a planta morreu. Acho que te esqueceste de “falar” com ela e tal lapso foi fatal. É que as plantas não falam, mas gostam, tal como as mulheres, de serem apreciadas, encorajadas, protegidas. Coisa que não fizeste à pobre da orquídea. Aliás, já admitiste, mais que uma vez, ser disparate “falar” com uma planta, nem que seja com uma orquídea.

«E de amores-perfeitos? Gostas de amores perfeitos?»
«Sabes muito bem que não há amores perfeitos!» foi a tua resposta.




Pus de parte as rosas, as orquídeas e os amores-perfeitos e então pensei nos malmequeres. Mas ao pensar nos malmequeres estava a jogar numa roleta russa.
«Mal me quer... bem me quer... muito... pouco... nada!»




Definitivamente não. Nada de oferecer-te mais flores. Talvez fosse melhor seres tu a oferecer-me uma rosa.
«É mau gosto!» comentaste de imediato, desconfiada e agastada.
Tudo bem, é uma opinião. Mas ouve o que me falta dizer ainda, flor que todas as noites murcha e também todas as manhãs renasce...
... quando será o dia em que me vais dizer que conheces o amor porque já te entregaste toda a ele?
Quanto a ofereceres-me uma flor, não é um gesto de mau gosto. Antes pelo contrário. Aspirar a proximidade constante do perfume que exala do teu corpo, acariciar-te como se faz a uma flor frágil, beber a doçura das tuas palavras, ouvir o bater apressado do teu coração, sentir o toque das tuas mãos nas minhas... quem és tu senão a flor que quero que me ofereças?
Não consegui ler o que se escondia no teu meio sorriso.
Embaraço? Afastamento?

O tempo passou e descobri então que era paixão, e não amor, o que sentiras por mim quando os nossos destinos se cruzaram. É que as paixões são, mais tarde ou mais cedo, levadas pelo vento sul que deixa como rasto tempestades interiores.
Demasiado tarde!, penso agora. Devia ter-te oferecido um cato, porque a flor do cato é bela como tu e só dura um dia!




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