Estava
a ouvir o noticiário das vinte horas e trinta minutos e fui surpreendido com
uma notícia. Lavrava um grande incêndio em Tenerife. Vi nas imagens o
"Teide" [1] na sua imponência lá no
alto. Tudo à sua volta estava em chamas. Um espetáculo triste.
Veio-me à memória o Natal e a passagem do ano de 2013 em Santa Cruz de Tenerife a bordo do rebocador Montalvo.
Tinha saído da Cidade da Praia a rebocar o "Vila Real", da Somague. Começámos logo a apanhar vento forte de norte e uma ondulação de cerca de dois metros. A velocidade começou a diminuir e lá fomos devagar, devagarinho, rumo a Lisboa. Subitamente o tempo agravou-se e logo de manhã recebemos instruções para arribar a Santa Cruz.
Veio-me à memória o Natal e a passagem do ano de 2013 em Santa Cruz de Tenerife a bordo do rebocador Montalvo.
Tinha saído da Cidade da Praia a rebocar o "Vila Real", da Somague. Começámos logo a apanhar vento forte de norte e uma ondulação de cerca de dois metros. A velocidade começou a diminuir e lá fomos devagar, devagarinho, rumo a Lisboa. Subitamente o tempo agravou-se e logo de manhã recebemos instruções para arribar a Santa Cruz.
Almoçámos
já atracados em Tenerife. Durante a refeição muito se falou nos dias que
iríamos estar parados e seria difícil chegar a tempo de passar o Natal em casa.
Entretanto
o nosso comandante Fredy diz:
«O
tempo vai levantar daqui a três dias e já não dá para passar o Natal em casa.
Esse será passado a navegar."»
O
mestre Paulinho diz de sua justiça:
«Com
muita sorte ainda passamos o Natal em casa.»
Alguém
diz:
«Seria
bom, mas não sonhes com isso.»
O
almoço acaba e pensa-se em ir a terra. Estamos num cais bem longe do centro.
O
2º maquinista Tiago vai informar-se no cais com os guardas e regressa com
notícias frescas. Ir ao centro é fácil, mas é bem longe. Primeiro vai-se a pé
pela rua paralela ao cais até às bombas de gasolina. São quinze minutos a andar
normalmente. Aí chegados, apanhamos o autocarro para o centro. O bilhete custa
um euro e oitenta cêntimos. No regresso é o inverso.
«Chefe,
quer vir?»
Penso
e digo:
«Hoje,
não. Amanhã irei.»
«Sendo
assim, vou aproveitar a tarde e, se calhar, janto no McDonald's, pois
estou com saudades de comer um hambúrguer.»
«Aproveita
enquanto podes, puto reguila.»
Vou
até ao camarote, telefono à Luísa e conto-lhe as novidades.
«O
Natal já foi.» Digo com uma certa mágoa. «Vamos a ver a passagem do ano.»
Como
tudo é diferente! Hoje pego no telemóvel e falo para onde quero. Se preciso de dinheiro vou ao multibanco. Mas há outras coisas que não mudam. Por exemplo, o mercado negro
ainda existe em certos países como os de África e da América do Sul.
Passo
a tarde a passear pelo cais e avisto o longo caminho que leva às bombas de
gasolina. Penso para comigo:
«Amanhã
irei lanchar ao "Corte Inglês" e compro a prenda de Natal para a Luísa.»
Manhã
do dia seguinte...
Falo com o Tiago e fico a saber que o caminho até é agradável
de fazer.
Almoço e vou até ao centro e reparo nas ruas enfeitadas com a decoração. À noite, com tudo iluminado, deve se bonito de ver-se.
Almoço e vou até ao centro e reparo nas ruas enfeitadas com a decoração. À noite, com tudo iluminado, deve se bonito de ver-se.
Vou
lanchar ao "Corte Inglês". Como uma azevia e bebo um chocolate
quente. Compro a prenda da Luísa e vou para a rua e ando por aqui e por ali à
espera que anoiteça.
Janto
no McDonald's. Durante o jantar as iluminações acendem-se. Apesar de
simples, são bonitas pelo seu conjunto de cores.
Apanho
a camioneta até às bombas de gasolina. Sigo a pé para bordo do Montalvo. Apesar
de ser dezembro a temperatura em Tenerife está amena. Uma maravilha. Valha-me isso.
No
dia seguinte, o nosso comandante Fredy e o cozinheiro Antunes combinam ir às
compras, pois os mantimentos já não são muitos e ninguém sabe a duração da
estadia. Falam para Setúbal e o dinheiro é depositado na conta do Antunes. O
supermercado eleito é o Carrefour por ser o mais barato e ter mais
variedade de artigos.
Mais de meia tripulação vai a terra abastecer-se e assim passa-se a
tarde. As compras são trazidas a bordo pelo Carrefour. Quanto ao jantar
é comprado no McDonald's e comido a bordo. Em dias de compras a
paparoca vem de fora.
Os
dias passam e nada quanto à saída. Ora está o tempo mau na nossa costa, ou está
o tempo mau na zona atlântica. Com estes contratempos o Natal e o Ano Novo vão
ser passados nas ilhas Canárias. Já não há esperança de chegarmos a tempo às
nossas casas. O ambiente a bordo é de tristeza, mas como o velho ditado diz
"morre dia, morre dólar". Assim, logo se pensa fazer as festas a
bordo o melhor possível.
Pôs-se a situação à dona Manuela, chefe do pessoal da Rebonave.
Pôs-se a situação à dona Manuela, chefe do pessoal da Rebonave.
«Vou
depositar o dinheiro para que não falte nada a bordo.» Disse.
E
assim foi. Não faltou nada. Umas iguarias compradas. Outras feitas. Como as
fatias douradas do 3º maquinista Pompílio.
A
estadia prolonga-se e pensa-se em alugar um carro para dar umas voltas pela ilha
e ir ao "Teide".
Vamos
a uma agências e somos informados que os carros estão todos alugados até à
passagem do ano. É uma altura de muito turismo em Tenerife. Só no princípio do
ano há carros disponíveis.
Expomos
a nossa situação, que é compreensível e fica um carro reservado.
«Caso
formos embora, tudo bem, o senhor desmarca.»
O
preço é convidativo. Só falta o principal. Um carro. Somos quatro para o
aluguer. É só esperar.
Os
dias passam-se o melhor possível. Uns lanches no "Corte Inglês". Uns
jantares no restaurante chinês e no "Mac". Uns passeios pelos
arredores de Santa Cruz com alguma praia à mistura, apesar de estarmos em dezembro. Quanto às compras, estas são guardadas para depois do Natal, altura
em que entra tudo em saldo no "Corte Inglês".
O
tempo continua mau na nossa costa e não temos condições para sair. Vamos
ficando e começamos a ganhar hábitos. Todos os dias dou as minhas voltas e vou
lanchar, como não podia deixar de ser, umas iguarias de Natal à cafetaria do
"Corte Inglês". Outros vão para a esplanada do restaurante chinês,
onde têm internet. Aí passam a tarde, ou ficam para jantar. À noite há
quem vá para um bar beber umas cervejas. Toda a tripulação está feliz. Todos
têm as suas preferências satisfeitas.
Chega
a noite de Natal que é passada em grande harmonia. Uns lembram a família que
está longe. Outros dizem que não se pode ter tudo; e lá vem o velho ditado:
"morre dia, morre dólar".
Ficamos
na messe a conversar mais um pouco. E depois, camarote. É tempo de falar com os
entes queridos.
O
dia de Natal é passado a bordo. Dou um passeio pelo cais para esticar as pernas
e volto a falar para casa. As saudades apertam. E assim se passa o Natal.
Apesar da distâncias talvez tenha sido o melhor de todos passado fora.
Chega mais
um dia. É o tempo de saldos. Faço as minhas compras. Vejo uns "Reis
Magos" montados nos seus camelos. Faltam-me no presépio. Serão caros?
Pergunto o preço. É convidativo. Nem sequer hesito.
Vou para a secção de roupas e faço mais compras. A viagem já dura desde outubro e estou a precisar de roupa mais quente.
Vou para a secção de roupas e faço mais compras. A viagem já dura desde outubro e estou a precisar de roupa mais quente.
Chega
a hora do lanche e entro na cafetaria. Mais doces de Natal e um chocolate
quente. Fico por lá a fazer horas para apanhar a camioneta.
Janto
a bordo. De seguida vou para a cama. Até chegar o sono, ponho-me a ler "O
Pagem da Duquesa", de Campos Júnior. Trata-se de um romance histórico
muito interessante.
A
nossa saída continua a ser adiada. A Companhia de Seguros não dá luz verde para
sair. A Somague, a Rebonave e a Seguradora falam umas com as outras mas nada
fica resolvido. O mau tempo na costa é uma realidade. As janelas entre a
bonança e a tempestade são pequenas. Não há condições de furar o tempo.
Chega
a passagem do ano e vamos às compras para não faltar nada a bordo. Tudo
continua a correr em bom ambiente.
Depois
do jantar formou-se um grupo para ir ver o fogo de artifício. Não dei por
perdido o tempo. Foi muito bom. A seguir, o grupo dividiu-se. Uns foram para
bordo, como eu e o Fredy. Outros continuaram por terra.
O
dia de Ano Novo também foi passado a bordo. Nada faltou ao almoço e ao jantar. O
bom ambiente manteve-se.
Finalmente
chega a manhã de telefonar à agência a saber do carro. Boa notícia. O carro
está à nossa disposição.
Diz
o Antunes:
«Estamos
no ir! Temos muito que andar até à agência...»
E
lá vamos até ás bombas de gasolina para apanhar a camioneta. As formalidades do
carro são feitas e este é-nos entregue. Começa o passeio pela ilha. Contornamos
a marginal em direção ao "Teide". Aí chegados, almoçamos num
restaurante perto da estação do funicular.
No
fim do repasto entramos no funicular que nos vai levar ao ponto mais alto de
Espanha.
E
que vemos lá em cima? Uma vista maravilhosa. Vale a pena, mas está muito frio e estamos rodeados de neve. Pouco
depois voltamos para baixo. Na zona dos restaurantes a temperatura é bem mais
agradável, apesar da altitude.
Chegados
ao carro é o momento do regresso ao centro da ilha. Fazemos várias paragens
para apreciarmos a paisagem. Como é cedo, resolvemos ir à parte norte da ilha,
onde jantamos e passamos um pouco da noite.
Fala-se
do tempo que vamos ficar com o carro. O preço é bom e o carro faz muito jeito
porque o centro é longe. Com o carro ao portaló tudo fica perto. São mais dois
dias que aproveitamos bem indo a uma série de estâncias balneares. E
assim se vai passando o tempo...
Finalmente
chegou o dia da saída rumo a Lisboa, onde vai ficar o "Vila Real".
Depois, Setúbal. Mas
nem tudo continuou a ser rosas. Para variar, começámos a apanhar vento norte e
ondulação de metro e meio. Lá fomos navegando devagar, devagarinho. Com o tempo
a agravar-se, veio a ordem de arribar a Portimão. Aí atracámos e ficámos dois
dias.
Saímos
com vento pela proa e ondulação de metro e meio. A velocidade não ultrapassou
os dois nós e seguimos ao longo da costa. Em caso de agravamento do tempo
arribávamos a Sines. Mas não aconteceu. Felizmente. Até que chegámos a Lisboa, onde ficou o "Vila Real". Daí a Setúbal foi um
pulo. Só quatro horas.
Esta
viagem teve início a 27 de outubro e só terminou a 17 de janeiro.
Foi a minha primeira viagem no Montalvo que se iniciou a rebocar dois batelões para o Togo. Nunca se pensou chegar a Setúbal em janeiro de 2014.
Foi a minha primeira viagem no Montalvo que se iniciou a rebocar dois batelões para o Togo. Nunca se pensou chegar a Setúbal em janeiro de 2014.
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