Fui encontrar no casino um ambiente calmo, de transição. Segundo o Raul, e concordava com ele, das sete às nove, com menos jogadores de volta das máquinas, o casino novo diminuía drasticamente os prémios e havia que jogar com moderação.
Lembrei-me de uma teoria do Raul que, só por acaso, não estava presente nesta noite. Também, por acaso, nada tínhamos combinado. Apetecia-me estar sozinho nesta noite a enfrentar a "besta".
«Estamos na hora sexual! Pianíssimo, meu amigo!»
«Que queres dizer com isso, Raul?»
«Neste período ainda nos vão lixar mais.»
«Tens razão. Há pouca gente a jogar. Acontece o mesmo quando há um jogo de futebol importante transmitido pela televisão.»
Era bem verdade. E, lembrando-me do aviso do meu amigo, escolhi uma das máquinas de prémios progressivos para inaugurar a noite. Treasures of Acropolis. Aliás, conservava recordações agradáveis dessa máquina.
Com toda a cautela introduzi uma nota de cinco euros na ranhura da máquina e comecei a jogar com lentidão. Não tardou que entrasse no bónus e tive então oportunidade de descobrir o porquê de uma espécie de medalha azul de muitas pontas que descoberta num local determinado das colunas era logo transportada para uma das quatro ranhuras circulares existentes no topo de um templo. Saíram-me três medalhas e tive direito a três prémios, ganhando à volta de quarenta euros. Era bom para começar. Assim continuasse a acontecer.
Já depois da meia-noite decidi jogar numa máquina do primeiro piso, de nome Fox on the Run, mais conhecido pelas "Raposas". Logo a seguir ao êxito dos quarenta euros tinha começado a jogar numa dessas máquinas e dera-me bem. Motivado, continuei a jogar. Talvez a máquina continuasse "aberta"
No momento, três jovens, um homem e duas mulheres, olhavam com curiosidade para uma das máquinas. Instalei-me e logo se afastaram. Para meu espanto, pouco depois estavam sentados atrás de mim, feitos mirones, mas mantendo a distância. Não foi a presença deles que me irritou. Já não vinha bem do piso de cima por causa de uma máquina que achei estar a ser manipulada.
«Teoria da conspiração.» Teria dito o Raul.
Sentia-me acelerado. Devia controlar-me para não perder muito, começando a controlar a situação. Talvez até jogar mais baixo.
Por acaso entrei no bónus. Tinham aparecido três raposas.
Os jovens comentavam discretamente qualquer coisa entre si que devia estar relacionada com o jogo e vi-me na necessidade de voltar-me para trás e explicar que o bónus consistia em jogos gratuitos e para tal tinham que sair três ou mais raposas. No bónus, sempre que aparecia uma raposa ou mais eram acrescentadas jogadas gratuitas, além da habitual pontuação. Só havia um contra. Os bónus concedidos de início eram escassos.
Avançaram os bancos para mais perto ante a abertura que mostrei para com eles. Aproveitei para lhes explicar mais uns tantos detalhes e dei conta que a proximidade deles não me perturbava. Antes pelo contrário. A questão do nervosismo, não lhes expliquei. Quanto a mim, tinha a ver com outra causa que também não era a irritação com a máquina do piso superior.
Então o que era?
Sem saber porquê lembrei-me do livro da Annie Besant, O Homem e os seus Corpos. Admiti não ser dotado de visão astral para ver essas hordas de elementais repugnantes aglomerados à minha volta a fim de absorverem as emanações impuras do tabaco que sou obrigado a inalar e que impregna a própria roupa de um cheiro intenso que demora algum tempo a desvanecer-se. Já para não falar dos elementares, seres humanos que vivem no mundo astral enclausurados nos seus corpos astrais e que também são atraídos para as pessoas cujos corpos astrais contenham matéria de natureza idêntica à sua e que, a existirem, provocam alterações a nível do sistema nervoso de quem é assediado.
Seriam estudantes universitários?
Depois da conversa inicial sobre o funcionamento da máquina onde jogava, passámos para outros temas sempre relacionados com o jogo nos casinos. Entretanto já me sentia mais calmo. Parecia que a presença deles me tinha acalmado
Aproveitei para expor o meu ponto de vista acerca da manipulação programática de todas as máquinas. Estavam organizadas por temas, formando os tais blocos em cuja existência tenho vindo a insistir. Então a conversa tomou um rumo tão interessante que me desinteressei do jogo e tentei estudar as pessoas com quem falava. Uma das mulheres, com olhos escuros e cabelo curto, mostrava-se menos do que a outra. Curiosamente não me era estranha. A outra, mais próxima de mim, de olhos esverdeados, melosos, era tão simpática quanto curiosa de saber coisas e mais coisas sobre o jogo e os dados que eu ia debitando.
Estabelecemos desde logo uma química de comunicação fora do comum. Quanto ao único homem do grupo, este vestia-se de forma clássica. Um fato castanho, camisa branca e gravata cuja cor não me ocorre. Era, sem dúvida, o elemento menos interventivo no grupo. Talvez estivesse a desempenhar o seu papel, pois, a certa altura, referiu-se a um jogo do leilão e ao modo perigoso como jogava. Não conhecia esse jogo a que se referia e que se situava, segundo ele, para os lados da Star Wars.
Deu-me a ideia de ser um jogador compulsivo, insistindo muito que jogava nessas máquinas sempre da mesma forma. Com o número máximo de linhas e de apostas por linha.
Em face do que me disse, fiz as contas num relâmpago. Como a máquina era de dez cêntimos cada aposta totalizava quatro euros e cinquenta cêntimos.
«Quando entrei no leilão consegui ganhar uma boa quantia mas deixei tudo na máquina.»
O costume. Mas no seu caso se estivesse a falar verdade, e acontecia que eu não acreditava. Era barro que estava a atirar à parede.
«Logo a seguir ao prémio não devia ter continuado na mesma máquina.»
«Tem razão.»
A conversa, do tipo quase interrogatório, durou mais que meia hora e foi tão interessante que até me esqueci de jogar. De vez enquanto premia o botão de reapostar, mas o jogo estava ferido de morte. Estive a ganhar e acabei por perder.
Mas vou dar nomes aos três intervenientes nesta história. A mulher dos olhos melosos, serena, envolvente e incisiva pode chamar-se Mariana. Quanto à companheira dos olhos escuros, que parecia esconder-se de mim, dou-lhe o nome de Carla. E ele, Francisco. Portanto, Mariana, Carla e Francisco.
«Já estudou o algoritmo da máquina?» perguntou a Mariana a certa altura.
Os processos de cálculo...? As operações lógicas...?
Insistiu.
«Cada máquina tem um algoritmo.»
Seria mais favorável o jogo numa máquina a dezassete linhas? E no dia seguinte? Talvez sim, talvez não. Além disso, devia haver toda uma sequência de acontecimentos que poderiam ser alterados por rotinas em que entravam os comandos if... else... then e muitas mais complicações lógicas que "atacavam" situações fora do comum, como apostas fortes, alterações bruscas de valores de créditos apostados, abandonos provocados por prémios (altos ou baixos), entrada dum ticket doutra máquina, uma nota de quinhentos euros introduzida, etc, etc...
«E a roda da sorte?» perguntou a Mariana.
«É uma grande aldrabice. Os prémios não compensam o investimento. Para haver hipótese de acesso à roda é preciso investir continuamente oitenta créditos. E se calha ao jogador o prémio de trezentos créditos, o mais baixo de todos?»
«Pois é.»
«E qual é para si o melhor jogo?»
«Depende...»
«Depende de quê?»
«Qualquer máquina é boa quando "abre".»
«Já ouvi dizer que é a Cleopatra. Conhece?»
Referia-se à Cleopatra do Fort Knox?
«Não sei. Há outra?»
«Sim.»
Mudou de assunto e fez uma pergunta delicada:
«É viciado nas máquinas?»
Demorei a responder.
«Neste momento, dadas as circunstâncias, um pouco. Mas virão melhores tempos, quando já não houver mais histórias no casino para contar. Gosto de jogar, mas também sou mau perdedor. Noutros tempos já tive várias sociedades no totoloto e cheguei mesmo a programar em Clipper para tentar obter um sistema infalível. Utopias. Nunca tive êxito.»
«Dizem que há câmaras ocultas nas máquinas.»
Toda a gente fala disso, Mário! Quem vê certos filmes fica elucidado.
«Não há provas» admiti. «Mas é muito provável que sim.»
«Estamos a ser vigiados neste momento?»
Sorri.
«Provavelmente.»
Fiz um aceno para o topo da máquina das raposas.
«Olá...»
Acharam graça.
«É muito provável que estejamos neste momento a ser vigiados, embora não possa haver um vigia para cada máquina.
«Então?»
Estava atolado perto da fronteira da teoria da conspiração, mas fui em frente.
«Cada máquina deve ter um sistema de deteção e informação sobre anomalias, como, por exemplo, o ritmo do jogo, o modo como se primem os botões, a introdução repetida de notas durante o mesmo jogo, as pausas demoradas e outros dados que vai recolhendo. Além disso, os fiscais andam à volta dos jogadores como carraças. Não é por acaso. Não procuram só detetar falcatruas. Eles observam para além disso.»
«É capaz de ser.» Concordou o Francisco.
«A propósito, já reparou que alguns fiscais, isto para não falar nos chefes de sala, andam com auriculares e travam diálogos com... sabe-se lá quem?»
Seguiram-se relatos de alguns casos ocorridos no casino que achei anómalos, incluindo telemóveis que alguns jogadores usavam enquanto faziam as suas jogadas.
«Ela usava o telemóvel, de que forma não sei. Entretanto os créditos subiam. Eu, que estava ao seu lado, perdia. Insistia em jogar só para tentar descobrir o mistério do telemóvel. Em vão. Continuou a ganhar e tive que desistir da máquina para não acumular mais prejuízos e também porque podia ser acometido por qualquer reação de mau perder.»
«Já pensou a fundo na causa?»
«Por mais que tente, não.»
«Quanto a mim, acho que são interferências que vão alterar a sequência das jogadas.»
Acenei afirmativamente com a cabeça.
«É capaz de ter razão. O telemóvel ligado pode interferir na sequência de uma máquina. Não são só as alterações das sequências motivadas pelo êxito ou não êxito das jogadas. Mas como fazem não sei.»
«Experimente usar um telemóvel em frente a um rádio. E numa estação de serviço.»
«Aí é muito perigoso.»
Tirou o telemóvel da máquina e manipulou-o, convidando-me a jogar. Joguei e nada aconteceu de anormal nas jogadas que se seguiram. Continuei a perder até o saldo ficar a zeros. E não demorou muito tempo.
Ou usou o telemóvel com outro objetivo?
No momento este estava virado na minha direção e dava para pensar. Talvez tenha tirado uma fotografia furtiva.
A tese de serem jornalistas começou a ganhar força. Então, tive um impulso e puxei da carteira. Enquanto procurava um papel, revelei-lhes que um amigo tinha blogues na net.
«Eu conto e ele escreve.»
Acabava de fazer uma aposta arriscada. Uma aposta máxima, mas contínua, que se prolongava por vários dias.
«Cá estão os endereços dos blogues.»
Senti um brilho novo nos olhos da Mariana. Expliquei em poucas palavras o tema de cada um dos blogues. Preto no branco.
«Prometo que vou deixar um comentário no blogue.» Disse. «Vocês gostam sempre que se escrevam umas palavras.»
A Mariana prometeu. E também o certo é que promessas levava-as o vento.
«Esta história com vocês vai aparecer. Vou contar ao meu amigo.»
Pareceu entusiasmada.
O jovem do fato castanho perguntou:
«Porquê tantos blogues?»
«Uns já acabaram e outros entretanto começaram.»
Esgotou-se a conversa e despedimo-nos. A Mariana reforçou a promessa de deixar o tal comentário.
Fui para a esquerda e eles para a direita. Encontrámo-nos outra vez, claro. Mesmo em frente às máquinas da Star Wars.
Mas onde eram as máquinas do leilão?
«São estas.» Informou a Carla.
Só podia ser aquele grupo de seis máquinas.
«Foi nesta que joguei.» Disse o Francisco, apontando para a máquina do meio que estava virada para os "clones" da Star Wars. «Sempre nestas teclas.»
Aposta máxima e reapostar! É parvo ou então está a mentir.
Entretanto a Carla começou a jogar numa das máquinas do outro lado. Resolvi experimentar dez euros. Quando me preparava para premir mais uma vez o botão de reapostar, vi que a Carla já jogava na máquina à minha esquerda.
«Continue» disse ela. «Estou apenas a jogar numa linha.»
«Numa linha?»
«Só para me entreter.»
Não me deixei influenciar. Apostei pouco.
«Tens cinco euros que me emprestes?» perguntou o Francisco à Mariana.
Procurou na carteira algo que não encontrou. Pelos gestos lentos pareceu-me que procurava de verdade, mas a expressão do rosto dizia o contrário.
«Está bem, abelha.» Deve ter pensado.
Já sabia o que a casa gastava. Ou então, como jogadores compulsivos que me pareceram ser, tinham jogado até à última nota.
Despedi-me mais uma vez.
«Então até à vista...»
O olhar fixou-se na Mariana. Foi a última imagem de um filme mal contado, já que, desde o princípio, qualquer coisa não funcionava bem.
«Qual é o teu algoritmo?»
A resposta veio quase a seguir. Joguei, perdi e não descobri qual era o algoritmo da máquina.
«Quando entrei no leilão consegui ganhar uma boa quantia mas deixei tudo na máquina.»
O costume. Mas no seu caso se estivesse a falar verdade, e acontecia que eu não acreditava. Era barro que estava a atirar à parede.
«Logo a seguir ao prémio não devia ter continuado na mesma máquina.»
«Tem razão.»
A conversa, do tipo quase interrogatório, durou mais que meia hora e foi tão interessante que até me esqueci de jogar. De vez enquanto premia o botão de reapostar, mas o jogo estava ferido de morte. Estive a ganhar e acabei por perder.
Mas vou dar nomes aos três intervenientes nesta história. A mulher dos olhos melosos, serena, envolvente e incisiva pode chamar-se Mariana. Quanto à companheira dos olhos escuros, que parecia esconder-se de mim, dou-lhe o nome de Carla. E ele, Francisco. Portanto, Mariana, Carla e Francisco.
«Já estudou o algoritmo da máquina?» perguntou a Mariana a certa altura.
Os processos de cálculo...? As operações lógicas...?
Insistiu.
«Cada máquina tem um algoritmo.»
Seria mais favorável o jogo numa máquina a dezassete linhas? E no dia seguinte? Talvez sim, talvez não. Além disso, devia haver toda uma sequência de acontecimentos que poderiam ser alterados por rotinas em que entravam os comandos if... else... then e muitas mais complicações lógicas que "atacavam" situações fora do comum, como apostas fortes, alterações bruscas de valores de créditos apostados, abandonos provocados por prémios (altos ou baixos), entrada dum ticket doutra máquina, uma nota de quinhentos euros introduzida, etc, etc...
«E a roda da sorte?» perguntou a Mariana.
«É uma grande aldrabice. Os prémios não compensam o investimento. Para haver hipótese de acesso à roda é preciso investir continuamente oitenta créditos. E se calha ao jogador o prémio de trezentos créditos, o mais baixo de todos?»
«Pois é.»
«E qual é para si o melhor jogo?»
«Depende...»
«Depende de quê?»
«Qualquer máquina é boa quando "abre".»
«Já ouvi dizer que é a Cleopatra. Conhece?»
Referia-se à Cleopatra do Fort Knox?
«Não sei. Há outra?»
«Sim.»
Mudou de assunto e fez uma pergunta delicada:
«É viciado nas máquinas?»
Demorei a responder.
«Neste momento, dadas as circunstâncias, um pouco. Mas virão melhores tempos, quando já não houver mais histórias no casino para contar. Gosto de jogar, mas também sou mau perdedor. Noutros tempos já tive várias sociedades no totoloto e cheguei mesmo a programar em Clipper para tentar obter um sistema infalível. Utopias. Nunca tive êxito.»
«Dizem que há câmaras ocultas nas máquinas.»
Toda a gente fala disso, Mário! Quem vê certos filmes fica elucidado.
«Não há provas» admiti. «Mas é muito provável que sim.»
«Estamos a ser vigiados neste momento?»
Sorri.
«Provavelmente.»
Fiz um aceno para o topo da máquina das raposas.
«Olá...»
Acharam graça.
«É muito provável que estejamos neste momento a ser vigiados, embora não possa haver um vigia para cada máquina.
«Então?»
Estava atolado perto da fronteira da teoria da conspiração, mas fui em frente.
«Cada máquina deve ter um sistema de deteção e informação sobre anomalias, como, por exemplo, o ritmo do jogo, o modo como se primem os botões, a introdução repetida de notas durante o mesmo jogo, as pausas demoradas e outros dados que vai recolhendo. Além disso, os fiscais andam à volta dos jogadores como carraças. Não é por acaso. Não procuram só detetar falcatruas. Eles observam para além disso.»
«É capaz de ser.» Concordou o Francisco.
«A propósito, já reparou que alguns fiscais, isto para não falar nos chefes de sala, andam com auriculares e travam diálogos com... sabe-se lá quem?»
Seguiram-se relatos de alguns casos ocorridos no casino que achei anómalos, incluindo telemóveis que alguns jogadores usavam enquanto faziam as suas jogadas.
«Ela usava o telemóvel, de que forma não sei. Entretanto os créditos subiam. Eu, que estava ao seu lado, perdia. Insistia em jogar só para tentar descobrir o mistério do telemóvel. Em vão. Continuou a ganhar e tive que desistir da máquina para não acumular mais prejuízos e também porque podia ser acometido por qualquer reação de mau perder.»
«Já pensou a fundo na causa?»
«Por mais que tente, não.»
«Quanto a mim, acho que são interferências que vão alterar a sequência das jogadas.»
Acenei afirmativamente com a cabeça.
«É capaz de ter razão. O telemóvel ligado pode interferir na sequência de uma máquina. Não são só as alterações das sequências motivadas pelo êxito ou não êxito das jogadas. Mas como fazem não sei.»
«Experimente usar um telemóvel em frente a um rádio. E numa estação de serviço.»
«Aí é muito perigoso.»
Tirou o telemóvel da máquina e manipulou-o, convidando-me a jogar. Joguei e nada aconteceu de anormal nas jogadas que se seguiram. Continuei a perder até o saldo ficar a zeros. E não demorou muito tempo.
Ou usou o telemóvel com outro objetivo?
No momento este estava virado na minha direção e dava para pensar. Talvez tenha tirado uma fotografia furtiva.
A tese de serem jornalistas começou a ganhar força. Então, tive um impulso e puxei da carteira. Enquanto procurava um papel, revelei-lhes que um amigo tinha blogues na net.
«Eu conto e ele escreve.»
Acabava de fazer uma aposta arriscada. Uma aposta máxima, mas contínua, que se prolongava por vários dias.
«Cá estão os endereços dos blogues.»
Senti um brilho novo nos olhos da Mariana. Expliquei em poucas palavras o tema de cada um dos blogues. Preto no branco.
«Prometo que vou deixar um comentário no blogue.» Disse. «Vocês gostam sempre que se escrevam umas palavras.»
A Mariana prometeu. E também o certo é que promessas levava-as o vento.
«Esta história com vocês vai aparecer. Vou contar ao meu amigo.»
Pareceu entusiasmada.
O jovem do fato castanho perguntou:
«Porquê tantos blogues?»
«Uns já acabaram e outros entretanto começaram.»
Esgotou-se a conversa e despedimo-nos. A Mariana reforçou a promessa de deixar o tal comentário.
Fui para a esquerda e eles para a direita. Encontrámo-nos outra vez, claro. Mesmo em frente às máquinas da Star Wars.
Mas onde eram as máquinas do leilão?
«São estas.» Informou a Carla.
Só podia ser aquele grupo de seis máquinas.
«Foi nesta que joguei.» Disse o Francisco, apontando para a máquina do meio que estava virada para os "clones" da Star Wars. «Sempre nestas teclas.»
Aposta máxima e reapostar! É parvo ou então está a mentir.
Entretanto a Carla começou a jogar numa das máquinas do outro lado. Resolvi experimentar dez euros. Quando me preparava para premir mais uma vez o botão de reapostar, vi que a Carla já jogava na máquina à minha esquerda.
«Continue» disse ela. «Estou apenas a jogar numa linha.»
«Numa linha?»
«Só para me entreter.»
Não me deixei influenciar. Apostei pouco.
«Tens cinco euros que me emprestes?» perguntou o Francisco à Mariana.
Procurou na carteira algo que não encontrou. Pelos gestos lentos pareceu-me que procurava de verdade, mas a expressão do rosto dizia o contrário.
«Está bem, abelha.» Deve ter pensado.
Já sabia o que a casa gastava. Ou então, como jogadores compulsivos que me pareceram ser, tinham jogado até à última nota.
Despedi-me mais uma vez.
«Então até à vista...»
O olhar fixou-se na Mariana. Foi a última imagem de um filme mal contado, já que, desde o princípio, qualquer coisa não funcionava bem.
«Qual é o teu algoritmo?»
A resposta veio quase a seguir. Joguei, perdi e não descobri qual era o algoritmo da máquina.

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