Estamos em 2010. Agora são outros tempos. A sociedade com o Raul acabou. Hoje jogo sozinho. Luto sozinho. Tento desvendar, como ninguém, os mistérios obscuros do software que parece comandar individualmente os jogos nas máquinas. É uma luta solitário. Muitos são "os cães a ladrar" e assim a caravana passa. Até um dia. Não se sabe o que nos espera o amanhã...
Decidi começar pelo jogo do pau, um jogo há muito de costas viradas para mim. Tudo começou quando um bónus não deu qualquer crédito. Perante tal acontecimento estranho, não me contive e insultei os hipotéticos técnicos que controlavam a central, o software, ou o que quer que fosse. Era inadmissível que a palavra “bónus” também pudesse significar zero prémios, pelo que considerei aquele acontecimento como uma provocação descarada.«Vamos dar-lhes o benefício da dúvida...»
Antes não tivesse jogado. Joguei e perdi. Em contrapartida, a mulher que jogava na máquina à esquerda, com o mesmo jogo e a mesma aposta, ia tirando prémios atrás de prémios. E, por coincidência ou não, era a mesma mulher das duas últimas vezes em que eu também tinha jogado nas mesmas máquinas.
Ela tinha descoberto o algoritmo daquelas máquinas ou o "algoritmo" era outro?
Afastei-me de imediato antes que soltasse alguma coisa ruim pela boca”. De facto começava a cair em desgraça desde que levantara a voz a dois ou três fiscais e em que fui talvez muito contundente. Daí até um deles ter insinuado qualquer coisa como teoria da conspiração. Com razão ou sem ela, começava a criar-se em mim a ideia de que os mesmos ganhavam sempre e os outros perdiam sempre. E já os tinha assinalado. Tanto uns como outros.
Nessa noite não estava só.
«Para onde estás a olhar?»
«Para nenhum lado. Apenas me sinto aborrecido. Isto para não dizer zangado.»
«Morde aqui.»
«Palavra de Mário!»
«Estava a brincar. Olha» disse ela «vamos até ao balcão comer qualquer coisa. Hoje pago eu.»
Subimos as escadas rolantes que davam para o primeiro piso e dirigimo-nos para o balcão em frente. Ela encomendou o costume. Duas sandes de queijo com manteiga, uma coca-cola zero e uma imperial.
«A coca-cola é com gelo e limão?»
«Sim. Por favor.»
As bebidas foram logo servidas e ficámos aguardando as sandes.
«Ouviste o mesmo que eu?»
«Perfeitamente.»
Um fiscal, daqueles que vestiam o horrível casaco cor-de-rosa, acabava de perguntar ao colega do balcão quem era o homem que estava a ganhar muito dinheiro numa máquina perto. Não consegui ouvir a resposta do outro. Quanto ao fiscal dirigiu-se logo à máquina onde jogava o felizardo.
Deduzi que tinha sido dado o alarme. Donde? Da central, pois claro. Uma máquina saíra da sua rotina e era urgente normalizar a situação alterada.
«Onde vais?»
«Vou ver quanto ele está a ganhar.»
O empregado colocou as sandes sobre o balcão ao mesmo tempo que a minha companheira regressava da sua missão cusca.
«Sabes que o homem está a ganhar mais de quarenta e cinco mil créditos?»
«O que se traduz na módica quantia de cerca de dois mil duzentos e cinquenta euros. É obra! E não saca o ticket, porquê?»
«Ora, porque é estúpido.»
«Como está a tua sande?»
«Boa, como de costume. Este pão em baguete é mesmo saboroso!»
«Valha-nos isso.»
«Mas é uma empresa que explora os bares.»
«Ah...»
A minha amiga pagou a conta e fomos para os fundos do salão, aproveitando para fazermos uma paragem junto ao homem que estava a ganhar muitos créditos.
«Já lá vão dois mil pontos. Por este caminhar, podes adivinhar o que vai acontecer. Mais uma dúvida sobre a existência de manipulação. Se ficássemos a assistir estou certo que os créditos desceriam a zero caso ele não retirasse o ticket a tempo.»
Quem não acredita na teoria da conspiração?
«Espero nunca vir a fazer o mesmo quando ganhar um prémio chorudo.»
Entretanto tínhamos chegado ao bloco das máquinas onde ela tinha ganho cem euros numa noite.
Apontei para o teto.
«Já viste bem esta estrutura?»
«Sim. Faz lembrar os favos de uma colmeia.»
«E não te diz nada?»
«Agora sou eu a desconfiada. És capaz de ter razão quando afirmas a pés juntos que estamos a ser vigiados. Nós e muitos dos outros. Ali» apontou para cima «está o sítio ideal para eles esconderem câmaras.»
«E nas máquinas.»
Pus dez euros na ranhura da máquina que entretanto ela tinha escolhido e o jogo começou. A máquina era de um cêntimo por linha. Durante algum tempo os créditos oscilaram entre os oitocentos créditos e os mil, mas o equilíbrio desfez-se e adivinhei o que ia acontecer.
«Estes fulanos são mesmo ordinários!» revoltei-me. «O jogo nem sequer dá para aquecer. Este casino já não é o que era dantes, ou então não nos dão a mínima hipótese porque não querem e sabes muito bem porquê.»
Mas já havia alguns utentes a protestar e sem medo de subir a voz.
«Tornaste-te um alvo a abater com a frontalidade com que tens enfrentado alguns fiscais e um certo chefe de sala que nós sabemos quem é.»
Não me calaria. Tal como o poeta-político:
«A mim ninguém me cala!»
«E se fôssemos jogar nos comboios?» alvitrou.
«Seja.»
«Mas nada de agressões com palavras porque eles estão a ouvir.»
«Ok.»
Silêncio absoluto. Tivemos logo os portais numa das primeiras jogadas. Quinze jogos gratuitos no bónus, mas ficámos a ver navios.
«São mesmo ordinários!» exclamou, revoltada.
O silêncio caiu por terra.
«Ordinários é pouco. Estão nitidamente a gozar. Sabem quem está na máquina mesmo sem se usar o cartão do casino. E que podemos fazer?»
«Nada. Vamos só jogar mais um pouco.»
«Só me apetece fazer o mesmo que o outro fez naquelas máquinas de vinte cêntimos.»
«Livra-te, Mário!»
Entretanto voltámos a ir ao bónus e desta vez a festa foi boa. Os bónus de quinze jogos não paravam de cair e os créditos iam-se acumulando. Olhávamos um para o outro, incrédulos.
Ao todo o jogo rendeu cento e setenta euros. Foi o culminar de uma noite que fez-me lembrar os tempos do estado de graça.
Há muito por dizer sobre este casino, sobre os fiscais e os chefes de sala, sobre os "profissionais", os compulsivos (viciados), os intuitivos, os novos utentes e os que perdem quase sempre.
Quanto aos ditos "profissionais", por que carga de água ganham quase sempre em máquinas onde a grande parte dos jogadores perde?
Mistério insondável. Ou talvez não. Aliás, é uma realidade que não escapa a um razoável observador como eu, que tenho passado muito tempo no casino não jogando. Dos compulsivos não vale a pena falar muito, pois podem ganhar bons prémios que deixam nos cofres do casino normalmente no próprio dia. E o pior é quando começam o dia a perder e insistem, insistem, em vão. Dos intuitivos, vou talvez falar de um mais à frente, embora tenha muitas dúvidas sobre a existência das suas intuições. Quanto aos novos utentes ganham quase sempre no primeiro dia.
E os que são escolhidos para perderam quase sempre, vamos lá a saber porque será?
Não sei, mas desconfio. Talvez por caírem em desgraça.
Falando do rendimento das máquinas, este já não é o mesmo dos outros tempos, quiçá devido à crise económico-financeira que se instalou no país para ficar, ou, ainda dentro da crise, devido a motivos que vou considerar como ocultos. E os utentes, para se defenderem, saltam mais do que nunca de máquina em máquina, esperando encontrar a dita cuja salvadora que tarda em chegar.
Será que o problema reside na corrupção descarada instalada no meio envolvente, corrupção essa que vai provocando um desvio substancial das verbas destinadas a serem distribuídas pelas máquinas dentro dos parâmetros tradicionais?
Ainda a propósito de corrupção, porque o meu pobre país está doente, quase moribundo, vou tecer algumas considerações sobre as causas da doença, começando por dizer que vêm de longe. Agravaram-se de há seis anos para cá com o duplicar da dívida soberana, o aumento quase exponencial do desemprego (“vamos criar cento e cinquenta mil postos de trabalho", dizia, há uns tempos, um Pinóquio bastardo do pai Gepeto), o empobrecimento da classe média, os pobres cada vez mais pobres, a classe média em vias de se extinguir, os ricos que surgiram no momento ao virar da esquina (afinal a geração espontânea sempre existe, meu amigo Louis Pasteur), os ricos que ficaram menos ricos ou mais ricos, uma economia em recessão.
Haverá volta a dar?
Estou cético. Temos um coveiro que não larga a enxada com que cava o buraco cada vez mais fundo para enterrar os cegos, passe a metáfora. Com tanto imobilismo, é lógico pensar em Fernando Pessoa, no seu quinto império cada vez mais utópico, no amanhã incerto que nos espera. Deus queira que surja deste nevoeiro denso, não um parente do visionário D. Sebastião, mas alguém que consiga o milagre da reviravolta neste estado de coisas que nesta altura não tem volta a dar.Mas não acredito. Enquanto houver vendedores de ilusões a qualquer preço, “pinóquios bla bla bla” a representar para cegos, mentecaptos, membros da “confraria do tacho”, manipuladores da opinião pública, asnos de horizonte apertado, "honestos" que se deixam comprar por um prato de lentilhas, qualquer que seja, em análise final, a sua condição humana, é normal vir acontecer o anormal, aquilo que os não cegos classificariam de imprevisível.
Voltando ao casino...
Para contar as minhas histórias, às vezes é forçoso que as viva. E vamos a mais um pouco de cicuta, esta de outro Sócrates, o amigo da sabedoria.
Como no mercado financeiro de alto gabarito, aqui também circulam euros de diferentes origens. Dinheiro lavado com Omo. Dinheiro do próprio. Dos cartões de crédito. Dinheiro das hipotecas sobre bens imobiliários e automóveis, dinheiro roubado, dinheiro lavado depois ter sido faturado a mortos ou empresas fantasmas.
Aonde me leva hoje a minha teoria da conspiração?
Fiz uma pergunta que não é uma pergunta. Apenas um caminho movediço por onde se desloca a minha teoria da conspiração.
E o que existe no fim do caminho?
O Fort Knox é uma das galinhas dos ovos de ouro do casino e, ao mesmo tempo, a zona mais paradigmática, o alvo por excelência do jogo com software do mais sofisticado, assaz malicioso, e talvez propício a manipulação. Não falo nos jogos de mesa do último piso, onde se joga forte e feio e onde, com grande probabilidade, deve circular muito dinheiro duvidoso.
Quem entra no Fort Knox pela primeira vez, dificilmente sai dela, tal a atração e encanto que reside nos seus jogos. Localiza-se num corredor alongado onde uma das paredes é falsa, uma vez que forma uma fronteira de máquinas. É constituído por vinte máquinas, encostadas à parede nascente, máquinas essas que formam quatro ou cinco blocos. O utente vulgar opta normalmente pelas máquinas das Cleopatras e do Enchanted Unicorn (vulgo Cavalos), estas últimas em maior número. As primeiras são, sem dúvidas, as melhor concebidas, especialmente no que diz respeito ao desenrolar do bónus. As figuras foram inspiradas em ícones do Egito do tempo dos faraós. Quanto às segundas, pode dizer-se que são aquelas onde se pode perder mais ou ganhar mais. O seu maior trunfo é a imprevisibilidade.
Há um bónus progressivo comum a todas as máquinas do Fort Knox. No decorrer desse bónus, que pode acontecer em simultâneo em várias máquinas (já vi sete máquinas abertas ao mesmo tempo), passa-se, às vezes, por vários níveis: cobre, prata, ouro, platina, dependendo de se atingirem numericamente os objetivos exigidos pelo jogo. O último dá direito, pelo menos, a um prémio de dois mil euros. A este último nível, curiosamente não relacionado com a estatística, o jogador pode atingir um prémio superior a cinco mil euros. Tudo depende do intervalo de jogos - ou intervalo de tempo - decorridos entre duas platinas atingidas. Tudo depende da vontade do software. Quanto à frequência da entrada no "cofre forte" (leia-se de futuro, cofre) está relacionada normalmente com o investimento que o utente está fazendo. Digo normalmente porque não existe regra. Já vi jogadores investirem a aposta máxima durante uma hora ou mais e não irem uma única vez ao cofre. E também já vi utentes irem ao cofre apostando muito baixo. Isto é insólito e certamente não parece ter a ver com o software sério.
Aproveito para lançar uma pergunta no ar: onde está o acontecimento aleatório inerente a qualquer jogo de um qualquer casino?
E mais uma pergunta: será que os inspetores assobiam para o lado?
Centrando a atenção ao bloco das três Cleopatras existentes, que passo a designar, da esquerda para a direita, Cleopatra 1, Cleopatra 2 e Cleopatra 3, esta última é no momento aquela que suscita a principal atenção dos utentes que costumam jogar nestas máquinas por ser a que oferece mais rendimento. Isto não quer dizer que amanhã a preferida não seja uma das outras. Quanto à Cleopatra 1, é singular. Tão depressa está alinhada para dar bons prémios, como se transforma numa máquina que desespera o mais calmo dos mortais, o qual que vê a dita cuja engolir num ápice os créditos acumulados numa fase boa. Por último, a do meio é talvez a mais regular, mas também tem os seus dias.
A origem destas incertezas desaparece sem deixar rasto nas areias do planalto de Gizé, onde a grandiosidade das pirâmides está bem patente, assim como a misteriosa Esfinge, mais antiga que estas, reforça a nebulosidade do sistema. E deixando em paz os faraós que adormeceram há muito nos seus túmulos (surge o bónus quando aparecem pelo menos três imagens de faraós), nem sequer acordando no momento do assalto dos violadores de túmulos, deixando também em paz os deuses poderosos, os tesouros escondidos, os besouros e tudo o mais, passo a falar de algumas regras do jogo. O máximo de linhas em que se pode jogar é vinte e cinco e a aposta máxima em créditos é vinte vezes vinte cinco (vinte créditos por linha). O botão branco da aposta máxima está ao lado do botão que permite reapostar, isto é, repetir a aposta.
Tenho a Cleopatra 2 disponível e decido jogar um pouco. À minha direita joga um indivíduo já avançado na idade, com um rosto largo, óculos e cabelo branco, farto, muito bem penteado com risco ao meio disfarçado. Já o conheço de outros jogos e digamos que o tenho debaixo de olho.
Começo a jogar em vinte e cinco linhas. Pausadamente. Estou mais interessado em ver o que se passa na Cleopatra 3.
«Sessenta mil créditos!» leio.
Se fosse comigo já tinha sacado o ticket de mil e duzentos euros há muito, mas ele lá sabe o que está a fazer. O jogo corre-lhe bem e não quer quebrar o ritmo. E aí está. Surgiram três faraós. Sobressalta-se. Mexe-se na pesada cadeira rosa e fá-la rodar lentamente para o meu lado.
«Vamos a ver.»
Ainda quer mais. Agita-se na cadeira.
«Está a dar pouco.» Queixa-se.
«Pois.»
Porque eu gostava muito de dizer pois.
O indivíduo que joga à minha esquerda dá-me um toque no ombro. Viro-me para ele de imediato.
«Não sei como o homem faz» diz em voz baixa. «Nunca o vi perder. Aperta a máquina de tal maneira que a vira do avesso.»
«Ah... também já deu conta.» Viro-me mais para ele. «Acontece que nunca ultrapassa na aposta os cento e vinte cinco créditos, mas joga habitualmente a setenta e cinco. Por vezes baixa para cinquenta.»
«Pois é. Vejo-o cá muitas vezes a jogar. Tem uma sorte dos diabos em qualquer máquina. Só eu não tenho sorte. Vai toda para o lado dele. E o senhor?»
«Passa-se o mesmo comigo.»
Então já mais pessoas tinham reparado na sorte do homem do rosto largo.
A acreditar na teoria dos blocos, não vale a pena jogar ao seu lado.
Os bónus dele continuam a aparecer com frequência. Pelo contrário, ainda não tive um bónus. Joga três apostas em vinte e cinco linhas. O triplo do que eu jogo.
«O bónus não está a dar nada.» Queixa-se outra vez, voltando-se para mim.
«É verdade. Parece que está num impasse. Se fosse a si sacava o ticket.»
Não responde. Concentrou-se de tal forma no jogo quem nem sequer ouviu o conselho. Quanto ao meu jogo na Cleópatra 2 não precisa de concentração. Se não fosse jogar sem pressa já tinha acabado há muito. O mal está na máquina que passa por uma série ruim. Entretanto os créditos do homem do rosto largo estão a baixar a um ritmo que considero rápido.
«Cinquenta e oito mil. Saca o ticket, grande burro!»
Ele lá sabe o que faz. Volta a recuperar depois de passar por uma série menos boa.
Tira o ticket ao atingir os sessenta mil créditos e abandona a máquina. Não é inédito. É a terceira vez que o vejo sacar quantias chorudas.
«Será só sorte?» interrogo-me.
Fica a dúvida. E onde vai trocar o ticket?
Abandono por momentos a minha máquina mal jeitosa e sigo-o à distância. O homem parou junto a um dos balcões e leva a mão ao bolso do casaco.
«Tem mais tickets consigo! Como é possível uma coisa destas?»
Estou perante uma teoria da conspiração ainda numa fase incipiente. Espero para confirmar.
Dias depois voltei a ver o homem do rosto largo. Quando me sentei ao seu lado já acumulava um crédito de mais de dezoito mil pontos. Desta vez, além dos habituais óculos de lentes transparentes, retangulares, provavelmente progressivas, trazia outros, de lentes escuras, no alto da cabeça. Verifiquei que continuava a usar a tática dos outros dias, executando uma mudança frequente no número de apostas, variando entre cinquenta e cento e vinte e cinco créditos.
Duas perguntas pertinentes:
Com que valor iniciava o jogo?
Alimentava a máquina numa primeira fase?
«Quatro faraós!» exclamei.
O homem virou-se para mim.
«Ah... é o senhor. Veja lá o azar. Jogava a cinquenta créditos.»
Vejam lá o azar dele!
«Mesmo assim está a correr bem. Ainda vai para lá dos dois mil créditos no bónus.»
«Mas podia ser melhor.»
Sempre insatisfeito. Uma tática para branquear o seu bom desempenho.
«E das três, aquela Cleopatra volta a ser a melhor máquina.»
Fort Knox!
Escalada triunfante que culminou no ouro. Mais quinhentos e vinte euros nos bolsos do homem do rosto largo.
Afinal qual era o segredo do seu êxito?
O que disse a seguir parecia uma resposta à pergunta que fiz a mim próprio.
«Isto não é nada. Oiça o que lhe digo: estas três máquinas deram ontem uma platina cada uma. Eu ganhei na máquina do meio e a minha mulher também foi à platina na máquina onde estou agora. E outra senhora também ganhou platina.»
Como era possível ter acontecido?
E logo marido e mulher!
Saiu do casino com perto de novecentos euros.
Finalmente consegui chegar ao mesmo tempo que o homem do rosto largo.
«Estou curioso em saber quanto põe de início na máquina!»
A passada era normal e não se podia esperar outra coisa uma vez que o casino já estava aberto há uma hora.
Posicionou-se atrás da sua máquina de eleição no momento em que o utente da dita máquina se voltou para trás, aparentando contrariedade.
«Este não gosta de mirones.»
Pouco depois levantou-se e o homem do rosto largo ocupou a máquina.
«Sortudo!» sussurrei.
Ou estava enganado?
Introduziu na ranhura da máquina uma nota de cinquenta euros, o que correspondia a dois mil e quinhentos créditos. Desta vez não me dei a mostrar e fiquei na minha posição de mirone.
Afinal a tática era igual à que eu já fizera mais que uma vez e sem êxito. Na fase inicial o homem foi alimentando a máquina e sem motivo aparente porque o jogo decorria com altos e baixos. Estava a tomar o pulso à máquina e ainda não usara a técnica ondulante que consistia em variar constantemente o quantitativo da aposta, usando para isso os três primeiros botões brancos de um, dois e cinco multiplicadores, tal como eu costumava fazer, excetuando o multiplicador cinco.
Portanto, por que motivo ele tinha êxito e eu não?
Conhecida já a sua estratégia, resolvi mostrar-me.
«Como está a máquina hoje?»
O homem virou-se para mim e respondeu:
«Ainda é cedo para saber. Comecei há pouco.»
Pouco depois já estava na maior. Festival dos festivais. De um momento para o outro a Cleopatra 3 entrou numa fase de diarreia impressionante. E para complementar foi três vezes ao cofre. Descontando o investimento de duzentos euros, o homem do rosto largo ganhou quinhentos euros em pouco tempo.
O mistério do êxito diário daquele homem estava por desvendar porque não havia mistério relacionado com o jogo.
Um homem que ganhava todos os dias em máquinas cujo software se supunha dar jogo aleatório tinha que estar protegido para além da sorte...
Para adensar mais o mistério, não voltei a ver o homem do rosto largo. Estava habituado a vê-lo quase todos os dias e, de um momento para o outro, foi levado pelo vento.
Deixei o tempo o tempo correr. Um mês. Dois meses. Já podia admitir que homem adoeceu e morreu. Ou teve morte súbita. Ou estava vivo e simplesmente fora proibido de entrar no casino. Ou muitas coisas mais.
Então nunca conseguiria saber o segredo de tanto êxito.
Sorte, fraude ou corrupção?
«Estou curioso em saber quanto põe de início na máquina!»
A passada era normal e não se podia esperar outra coisa uma vez que o casino já estava aberto há uma hora.
Posicionou-se atrás da sua máquina de eleição no momento em que o utente da dita máquina se voltou para trás, aparentando contrariedade.
«Este não gosta de mirones.»
Pouco depois levantou-se e o homem do rosto largo ocupou a máquina.
«Sortudo!» sussurrei.
Ou estava enganado?
Introduziu na ranhura da máquina uma nota de cinquenta euros, o que correspondia a dois mil e quinhentos créditos. Desta vez não me dei a mostrar e fiquei na minha posição de mirone.
Afinal a tática era igual à que eu já fizera mais que uma vez e sem êxito. Na fase inicial o homem foi alimentando a máquina e sem motivo aparente porque o jogo decorria com altos e baixos. Estava a tomar o pulso à máquina e ainda não usara a técnica ondulante que consistia em variar constantemente o quantitativo da aposta, usando para isso os três primeiros botões brancos de um, dois e cinco multiplicadores, tal como eu costumava fazer, excetuando o multiplicador cinco.
Portanto, por que motivo ele tinha êxito e eu não?
Conhecida já a sua estratégia, resolvi mostrar-me.
«Como está a máquina hoje?»
O homem virou-se para mim e respondeu:
«Ainda é cedo para saber. Comecei há pouco.»
Pouco depois já estava na maior. Festival dos festivais. De um momento para o outro a Cleopatra 3 entrou numa fase de diarreia impressionante. E para complementar foi três vezes ao cofre. Descontando o investimento de duzentos euros, o homem do rosto largo ganhou quinhentos euros em pouco tempo.
O mistério do êxito diário daquele homem estava por desvendar porque não havia mistério relacionado com o jogo.
Um homem que ganhava todos os dias em máquinas cujo software se supunha dar jogo aleatório tinha que estar protegido para além da sorte...
Para adensar mais o mistério, não voltei a ver o homem do rosto largo. Estava habituado a vê-lo quase todos os dias e, de um momento para o outro, foi levado pelo vento.
Deixei o tempo o tempo correr. Um mês. Dois meses. Já podia admitir que homem adoeceu e morreu. Ou teve morte súbita. Ou estava vivo e simplesmente fora proibido de entrar no casino. Ou muitas coisas mais.
Então nunca conseguiria saber o segredo de tanto êxito.
Sorte, fraude ou corrupção?
Sem comentários:
Enviar um comentário