Está inquieto. Não consegue dormir. Dá voltas e mais voltas na cama. Nada a fazer. Parece que tomou mil cafés com muita robusta. Não quer voltar a ter uma noite branca como esta. Mas que pode fazer? A vida é mesmo complicada quando se tem que escolher um caminho. Disparate. Nem parece seu. Sente-se bem no sítio onde está. Ou então não é o caso. Logo se vê. Mas aquela espertina não tem lógica.
«Que se passa, querido? Ainda não pregaste olho...»
«E tu também não. Desculpa.»
Tinha tudo e de tudo que tinha restou metade. Foi melhor que ficar sem nada. Que pensamento mais obsessivo! Não entendia.
«É por causa de um negócio, Teresa.»
Mentiu ou falou verdade.
«Aquele que vais fazer com o teu amigo Raul?»
Ela sabe ou desconfia.
«Esse mesmo.»
«Mas o negócio está assim tão complicado para não conseguires adormecer?»
«Nunca me aconteceu.»
«Queres que te faça um chá?»
«Não te importas?»
Aquele "não te importas" é algo ambíguo. Tanto pode ser um "sim" como "deixa-me em paz".
Coisa banal. Chegou tarde e ela fez-lhe uma cena de ciúmes das antigas. Daquelas de fazer faísca atrás de faísca se não tivesse reagido, atalhando a tempo..
«Não tens razão para esses ciúmes, Francisca. Já te disse e repito, que encontrei um amigo e estivemos a beber uns copos. Depois, o tempo voou. Percebes como é? Um copo puxa outro copo. Uma revelação mais forte chama por outra. E assim por diante. Mas estou sóbrio. Sei quando devo parar.»
Parou de beber porque as revelações chegaram ao fim. Não havia mais tema?
«Não, não percebo. É esse o teu álibi? Desculpa que te diga, mas é muito fraco. Quantos já se serviram dele e assim?»
«Assim?»
Não teve resposta.
«Bem sei que está na moda dizer assim. Não se aplica para o caso. Juro que estou inocente.»
«Ah!»
«Ah, o quê?»
«Que cheiro é esse?»
Esconde o cheio, esconde o cheiro!
«Pronto, então não estive com um amigo. Queres que seja assim? Se queres, estou por tudo.»
«Já sabia, já sabia! Tenho um dedo mágico que adivinha...»
«A mania que as mulheres têm do sexto sentido. Isso não existe. Acredita que estás enganada e dá mau resultado se entrares por aí.»
«Agora ameaças-me!»
«Eu?!...»
Pobre da sua pessoa que já não podia beber um copo ou dois com um amigo que precisava de desabafar. Ou era ele? Bom, na verdade o perfume deitou tudo a perder.
«Fica sabendo que hoje não há jantar para ninguém. Olha, podes ir jantar a casa da outra...»
Olhou, incrédulo, para ela. Já não a conhecia. Talvez porque o contar dos anos pesava. Para ela. Porque ele sentia-se o mesmo de sempre.
«Estás cansada? Deixa, eu faço o jantar. Vejamos o que há no frigorífico...»
«Já disse e repito. Não há jantar para ninguém. Nem que sejas tu a fazê-lo. Vai-te daqui que não quero ver-te mais.»
«Mas...»
«Ela está à tua espera. Vieste tarde só para provocar uma cena e estou a fazer-te a vontade. Mas a cena acabou. Gira...»
«Francisquinha, senta-te aqui comigo e vamos conversar como duas pessoas civilizadas. Quer acredites, quer não, estive a falar com um amigo. O Raul. Conheces o Raul e sabes que temos um negócio. Depois ele começou a beber e tive que o acompanhar.»
«Qual Raul?»
«Já cá veio uma vez a casa. Lembras-te?»
«Acho que mentes.»
Bateu com pé no chão.
«Porquê?»
«Porque se me aproximar de ti sinto mais intensamente o cheiro dessa porra de perfume rasca.»
«Que cheiro?»
«Cheiras a perfume de puta barata.»
Tentou a defesa, atacando.
«Não te atrevas!»
«Agora ameaças-me?»
Estava a ser empurrado para o outro mundo e não queria que fosse ainda.
«Mas, Francisca...»
Apesar de tudo foi magia o que aconteceu entre eles naquela tarde em que se conheceram. Foi bom enquanto durou. Agora apanhava com a tempestade em cima e tudo mais. E não sabia porquê. Apenas desconfiava. A história do negócio estava a descolar. Depois havia a merda do perfume. Descuidou-se. Desde que apanhou o covid perdeu grande parte do olfato.
Aquele era o mundo de Deus Omnipotente e Omnipresente. Foi Ele que o iluminou com muitas luzes que inundaram profusamente a sua alma. Fez-se luz e esperança quando conheceu a Francisca.
Ontem pensava assim. Mas o ciúme roeu a corda. Muito simples e fatal. Nunca suportou o ciúme.
Parecia que estava a viver um filme antigo. Um daqueles filmes a preto e branco, a condizer com os dias que voltaram a estar cinzentos. E não havia volta a dar. Alguém estava apagando, uma a uma, as luzes que lhe mostraram uma vida diferente num dia diferente em que a conheceu. Todas as suspeitas apontavam para o alto.
Ergueu os olhos. Era sempre assim. Não O via. Não O conseguia ver. Já tentara muitas vezes falar com Ele e nunca ouviu sequer a Sua voz a dizer que estava muito ocupado e não podia ligar a casos de "lana caprina". Muito menos vê-Lo. Lógico. Ele não tinha tempo para um insignificante grão de areia perante a sua grandiosidade.
Concordou. Mas logo a seguir discordou. Não! Não conseguia imaginá-Lo a dar-lhe tudo com uma mão e a tirar-lhe, mais tarde, com a outra.
«Não quero voltar a ter uma noite branca como esta porque a minha vida tornou-se definitivamente negra. Juro que não. Entendes?» gritou para o alto.
Vida negra. Mas em que mundo?
«Francisca...»
Não respondeu. Estava fechada no quarto.
Fechou de mansinho a porta e dirigiu-se para um dos elevadores. Oxalá não ficasse parado entre dois andares. Um pensamento que o fez transpirar. Tinha um pouco de claustrofobia e esse pouco vinha inconvenientemente ao de cima. Sorte do caraças!
«Não vai acontecer.»
Claro que entendia o problema dele, mas à Sua maneira. Por isso, e só por isso, deixou-o atravessar, desconcentrado, a rua para o lado do jardim.
Não tardou a vir o resultado. Uma travagem brusca e um insulto genuíno:
«Cretino! Parece que andas na lua... Bem merecias que te passasse a ferro, grande cabrão!»
Fez-lhe um gesto a pedir desculpa.
«Cabrão, eu?»
Então replicou com o esticar do dedo médio da mão esquerda.
E atravessou a rua. Depois, foi a vez de atalhar no jardim até à zona dos prédios baixos. Era sempre assim. Uma rotina que durava há muito.
«Porra, que susto! Parece que ando embruxado.»
Antes de meter a chave à porta, olhou para o estrelado do céu da noite e pensou:
«Acho que Ele desta vez estava atento. O malcriado do gajo ia-me passando a ferro. Desta vez estava atento, mas continua a não querer falar comigo!»
«Finalmente chegaste...»
«Ia sendo atropelado.»
«Como assim?»
Explicou em poucas palavras.
«Estás vivo e é o que interessa. Dá graças a Deus.»
«Pois. E se eu já não tiver a graça de Deus?»
«Lá estás tu com essas dúvidas malucas.»
«Desculpa.»
«Não é a mim que deves pedir desculpa.»
Ao entrar em casa, sentiu-se azul. Mais azul do que nunca. Era bom sentir o odor que vinha dos lados da cozinha. Coisa estranha! Aquele cheiro agradável entrava-lhe pelas narinas como um bálsamo. Que tinha aquela casa de mágico?
«Ontem sempre falaste com o Raul em Santarém acerca do tal negócio?»
«Sim, Teresa.»
«E correu bem?»
«Não podia ter corrido melhor. Ganhámos o projeto, Teresa.»
Ela abraçou-o, parecendo feliz.
«Ainda bem, querido.»
«O que é o jantar?»
«Bacalhau escondido.»
Porque escondiam o raio do bacalhau?
Que bom que era um bacalhau cozido com todos, bem à vista e regado, generosamente, com azeite extra virgem, com um pouco de vinagre! E também acompanhado de um tinto de treze graus!
«Ótima ideia.» Mentiu, piedosamente.
«O quê?»
«O bacalhau escondido...»
«Espero que gostes. Fi-lo com muito amor.»
«Pois vou gostar do bacalhau.»
«E de mim?»
«Já gosto. Desde há muito.»
Ela aproximou-se e ele deixou que o beijasse.
« É bom teres conseguido esse projeto!»
«Fui eu e ele, Teresa. Meio por meio. De início era só eu, mas necessitava de capital.»
«Agora precisas mas é de distrair-te. Só trabalho, não. Dás em doido. Vamos sair depois do jantar? Há um filme que gostava de ver.»
«Estou muito cansado, amor. Porque não vais tu?»
«Não te importas?»
«Claro que não.»
«Mas agora me lembro...»
«Então sempre me telefonaram.»
«Não é isso. Só te esperava amanhã.»
Olhou em volta, desconfiado.
«Vou à casa de banho.»
Atravessou o corredor. As portas do escritório e do quarto estavam abertas.
«Ah... a cozinha.»
A despensa era o último reduto e estava fechada.
«É agora!»
«Que estás a fazer na despensa?»
Não conseguiu responder de pronto.
«Prometi ao Raul levar-lhe uma garrafa de Reguengos.»
«O teu amigo merece.»
«Sim.»
«Francisquinha, senta-te aqui comigo e vamos conversar como duas pessoas civilizadas. Quer acredites, quer não, estive a falar com um amigo. O Raul. Conheces o Raul e sabes que temos um negócio. Depois ele começou a beber e tive que o acompanhar.»
«Qual Raul?»
«Já cá veio uma vez a casa. Lembras-te?»
«Acho que mentes.»
Bateu com pé no chão.
«Porquê?»
«Porque se me aproximar de ti sinto mais intensamente o cheiro dessa porra de perfume rasca.»
«Que cheiro?»
«Cheiras a perfume de puta barata.»
Tentou a defesa, atacando.
«Não te atrevas!»
«Agora ameaças-me?»
Estava a ser empurrado para o outro mundo e não queria que fosse ainda.
«Mas, Francisca...»
Apesar de tudo foi magia o que aconteceu entre eles naquela tarde em que se conheceram. Foi bom enquanto durou. Agora apanhava com a tempestade em cima e tudo mais. E não sabia porquê. Apenas desconfiava. A história do negócio estava a descolar. Depois havia a merda do perfume. Descuidou-se. Desde que apanhou o covid perdeu grande parte do olfato.
Aquele era o mundo de Deus Omnipotente e Omnipresente. Foi Ele que o iluminou com muitas luzes que inundaram profusamente a sua alma. Fez-se luz e esperança quando conheceu a Francisca.
Ontem pensava assim. Mas o ciúme roeu a corda. Muito simples e fatal. Nunca suportou o ciúme.
Parecia que estava a viver um filme antigo. Um daqueles filmes a preto e branco, a condizer com os dias que voltaram a estar cinzentos. E não havia volta a dar. Alguém estava apagando, uma a uma, as luzes que lhe mostraram uma vida diferente num dia diferente em que a conheceu. Todas as suspeitas apontavam para o alto.
Ergueu os olhos. Era sempre assim. Não O via. Não O conseguia ver. Já tentara muitas vezes falar com Ele e nunca ouviu sequer a Sua voz a dizer que estava muito ocupado e não podia ligar a casos de "lana caprina". Muito menos vê-Lo. Lógico. Ele não tinha tempo para um insignificante grão de areia perante a sua grandiosidade.
Concordou. Mas logo a seguir discordou. Não! Não conseguia imaginá-Lo a dar-lhe tudo com uma mão e a tirar-lhe, mais tarde, com a outra.
«Não quero voltar a ter uma noite branca como esta porque a minha vida tornou-se definitivamente negra. Juro que não. Entendes?» gritou para o alto.
Vida negra. Mas em que mundo?
«Francisca...»
Não respondeu. Estava fechada no quarto.
Fechou de mansinho a porta e dirigiu-se para um dos elevadores. Oxalá não ficasse parado entre dois andares. Um pensamento que o fez transpirar. Tinha um pouco de claustrofobia e esse pouco vinha inconvenientemente ao de cima. Sorte do caraças!
«Não vai acontecer.»
Claro que entendia o problema dele, mas à Sua maneira. Por isso, e só por isso, deixou-o atravessar, desconcentrado, a rua para o lado do jardim.
Não tardou a vir o resultado. Uma travagem brusca e um insulto genuíno:
«Cretino! Parece que andas na lua... Bem merecias que te passasse a ferro, grande cabrão!»
Fez-lhe um gesto a pedir desculpa.
«Cabrão, eu?»
Então replicou com o esticar do dedo médio da mão esquerda.
E atravessou a rua. Depois, foi a vez de atalhar no jardim até à zona dos prédios baixos. Era sempre assim. Uma rotina que durava há muito.
«Porra, que susto! Parece que ando embruxado.»
Antes de meter a chave à porta, olhou para o estrelado do céu da noite e pensou:
«Acho que Ele desta vez estava atento. O malcriado do gajo ia-me passando a ferro. Desta vez estava atento, mas continua a não querer falar comigo!»
«Finalmente chegaste...»
«Ia sendo atropelado.»
«Como assim?»
Explicou em poucas palavras.
«Estás vivo e é o que interessa. Dá graças a Deus.»
«Pois. E se eu já não tiver a graça de Deus?»
«Lá estás tu com essas dúvidas malucas.»
«Desculpa.»
«Não é a mim que deves pedir desculpa.»
Ao entrar em casa, sentiu-se azul. Mais azul do que nunca. Era bom sentir o odor que vinha dos lados da cozinha. Coisa estranha! Aquele cheiro agradável entrava-lhe pelas narinas como um bálsamo. Que tinha aquela casa de mágico?
«Ontem sempre falaste com o Raul em Santarém acerca do tal negócio?»
«Sim, Teresa.»
«E correu bem?»
«Não podia ter corrido melhor. Ganhámos o projeto, Teresa.»
Ela abraçou-o, parecendo feliz.
«Ainda bem, querido.»
«O que é o jantar?»
«Bacalhau escondido.»
Porque escondiam o raio do bacalhau?
Que bom que era um bacalhau cozido com todos, bem à vista e regado, generosamente, com azeite extra virgem, com um pouco de vinagre! E também acompanhado de um tinto de treze graus!
«Ótima ideia.» Mentiu, piedosamente.
«O quê?»
«O bacalhau escondido...»
«Espero que gostes. Fi-lo com muito amor.»
«Pois vou gostar do bacalhau.»
«E de mim?»
«Já gosto. Desde há muito.»
Ela aproximou-se e ele deixou que o beijasse.
« É bom teres conseguido esse projeto!»
«Fui eu e ele, Teresa. Meio por meio. De início era só eu, mas necessitava de capital.»
«Agora precisas mas é de distrair-te. Só trabalho, não. Dás em doido. Vamos sair depois do jantar? Há um filme que gostava de ver.»
«Estou muito cansado, amor. Porque não vais tu?»
«Não te importas?»
«Claro que não.»
«Mas agora me lembro...»
«Então sempre me telefonaram.»
«Não é isso. Só te esperava amanhã.»
Olhou em volta, desconfiado.
«Vou à casa de banho.»
Atravessou o corredor. As portas do escritório e do quarto estavam abertas.
«Ah... a cozinha.»
A despensa era o último reduto e estava fechada.
«É agora!»
«Que estás a fazer na despensa?»
Não conseguiu responder de pronto.
«Prometi ao Raul levar-lhe uma garrafa de Reguengos.»
«O teu amigo merece.»
«Sim.»
«Quanto vão ganhar com o negócio?»
«Não sei ainda. Muito.»
Por momentos pensou que havia alguém em casa, mas tinha uma confiança sem limites na Teresa. Aquela revista à casa foi só um momento de fraqueza. Aliás, assim ficava mais descansado.
«Encontraste a garrafa?»
«Não. Preciso de comprar uma. Mas não é urgente.»
Felizmente que ela não desconfiou da cena. Foi só um momento de fraqueza. Não. Noventa e nove por cento. Bom, talvez noventa ou oitenta.
«Desiste de números, senão...» Pensou.
Mas a dúvida estava do outro lado. Aquele olhar interrogador tinha muito que se dissesse.
«Que se passa, Teresa?»
«Nada, nada, amor. Mas não vinhas só amanhã...?» repetiu.
«Tens razão. A discussão do projeto correu bem e despachei-me mais cedo. Sempre vais ao cinema depois do jantar?»
«Se não te importas...»
«Claro que não me importo.»
«Amanhã almoças?»
«Vou ficar por cá uma semana.»
«Que... que bom, meu amor!»
«Vou dedicar-te toda a semana.»
«E é desta vez que vou conhecer o teu amigo Raul?»
«Ainda não. Foi em viagem para o norte.»
Ela sorriu.
«Meio por meio?»
«O quê? Ah sim. Deu-me uma boa ajuda.»
«Vocês devem ser muito amigos.»
«Somos como irmãos, amor.»
Olhou para cima e sussurrou:
«Agora é que Tu não falas de todo comigo.»
«Ainda bem que ela foi ao cinema. Bom, vou a casa da Francisca. Pode ser que já lhe tenha passado a birra.»
E saiu de casa, atravessou o jardim e depois a estrada, como de costume fora da passadeira.
«Hoje vai-te sair cara a imprevidência, grande sacana.» Disse Ele.
E na verdade saiu caríssima porque Ele resolveu assobiar para o lado.
«Aquele burro nem sequer olhou.»
Uma voz de censura que não chegou a ouvir. Morreu entre dois mundos. Se o Raul existisse ficava com cem por cento dos lucros do negócio.
Por momentos pensou que havia alguém em casa, mas tinha uma confiança sem limites na Teresa. Aquela revista à casa foi só um momento de fraqueza. Aliás, assim ficava mais descansado.
«Encontraste a garrafa?»
«Não. Preciso de comprar uma. Mas não é urgente.»
Felizmente que ela não desconfiou da cena. Foi só um momento de fraqueza. Não. Noventa e nove por cento. Bom, talvez noventa ou oitenta.
«Desiste de números, senão...» Pensou.
Mas a dúvida estava do outro lado. Aquele olhar interrogador tinha muito que se dissesse.
«Que se passa, Teresa?»
«Nada, nada, amor. Mas não vinhas só amanhã...?» repetiu.
«Tens razão. A discussão do projeto correu bem e despachei-me mais cedo. Sempre vais ao cinema depois do jantar?»
«Se não te importas...»
«Claro que não me importo.»
«Amanhã almoças?»
«Vou ficar por cá uma semana.»
«Que... que bom, meu amor!»
«Vou dedicar-te toda a semana.»
«E é desta vez que vou conhecer o teu amigo Raul?»
«Ainda não. Foi em viagem para o norte.»
Ela sorriu.
«Meio por meio?»
«O quê? Ah sim. Deu-me uma boa ajuda.»
«Vocês devem ser muito amigos.»
«Somos como irmãos, amor.»
Olhou para cima e sussurrou:
«Agora é que Tu não falas de todo comigo.»
«Ainda bem que ela foi ao cinema. Bom, vou a casa da Francisca. Pode ser que já lhe tenha passado a birra.»
E saiu de casa, atravessou o jardim e depois a estrada, como de costume fora da passadeira.
«Hoje vai-te sair cara a imprevidência, grande sacana.» Disse Ele.
E na verdade saiu caríssima porque Ele resolveu assobiar para o lado.
«Aquele burro nem sequer olhou.»
Uma voz de censura que não chegou a ouvir. Morreu entre dois mundos. Se o Raul existisse ficava com cem por cento dos lucros do negócio.
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