O meu sonho és tu. A minha vida és tu. Amo-te muito. Hoje. Amar-te-ei sempre. Mas ontem, onde estiveste este tempo todo, que não te vi?
Tento ler nos teus olhos sinais do passado que talvez tivéssemos vivido juntos. Quero acreditar que já nos encontrámos noutro tempo, mas termos vivido juntos é um salto no desconhecido. A não ser que os mundos paralelos existam.
Esquece. Já discutimos este tema dos mundos paralelos e fiquei mal na fotografia.
Não, não me melindro. Ambos temos as nossas certezas. Eu a minha e tu a tua. Pronto. Não te zangues. Ah! Esse sorriso é uma prova irrefutável. Já o vi algures. Noutros tempo. Quiçá...?
Como podes admitir que este amor que nos consome o corpo e alimenta a alma é só de hoje?
Pudesse demonstrar-te que existe um outro mundo onde estamos a viver o mesmo amor intenso que ainda hoje nos une e nos faz pensar como se fôssemos um só, mas num estádio primário em que as engrenagens do tempo ainda não puderam corroer os primeiros momentos, então terias a certeza que aí, nesse mundo, estávamos sempre no mesmo dia, de olhos nos olhos, presos no tempo que nos embriagou de amor, paixão, saudade, tristeza... sei lá... tudo a ser vivido num dia, no momento que dura um sonho.
Existem muitos portais, muitos mundos, muitas alamedas como a das romãzeiras em que estamos todos os dias a caminhar ao encontro um do outro.
Mas será que existe o portal que liga estes dois mundos?
«Gostava de rever os primeiros momentos...» Disseste tu.
«Também eu. Mais perfeitos do que aqueles que o acaso nos trouxe, não é possível.»
Acredito que hoje não apreciaria os primeiros momentos tal como os senti. E tu também não. É melhor não tentar abrir mais portais, não vá encontrar o mundo de ontem. Uma coisa é viver o amor, outra é vê-lo pelos olhos dum voyeur.
Mas esse teu sorriso travesso... julgo que o vi antes de te conhecer!
O amor está sempre operacional em todo o tempo que é tempo. Não faz a guerra. Nem a paz. É uma coisa puramente abstrata e direcionada para a sua missão universal. Não escolhe idades, nem ideais físicos homem/mulher. Não move montanhas para atingir os fins porque está sempre presente no momento certo. Não sonha. Não vê. Não ouve. Não se guia por qualquer órgão dos sentidos humanos. Nem dispõe do muito controverso sexto sentido Não sofre com intensidade as emoções, pela simples razão que nunca estão ativadas. Tem os seus órgãos próprios, os seus métodos intuitivos. É uma coisa eficiente, quase infalível, mas que não acorre quando chamam por ele. Acontece. Enfim, é assim que o vejo. Foi assim que o vi sempre.
Neste momento espreita, cauteloso. Nada teme porque a sua base de dados de sonhos tem todos os ingredientes para o resultado não precisar de prova real. Desloca-se, invisível, na areia dourada, fina, reluzente pela presença da mica, terceiro componente mineral do granito.
O Sol está na vertical. Não vê o Sol nem sente os seus efeitos caloríficos na areia. Está mais preocupado em pôr em campo a primeira avaliação. Para este caso precisa de atrevimento e de ir além do limiar da paixão, a tal que se relaciona com as nuvens passageiras que nem sequer voltam atrás. Mais distante está o limbo das caminhadas irreversíveis e não é isso que quer, um amor diferente tisnado por longas exposições que o maltrataram.
Aproxima-se mais e pára no limite. Pressente que ela está atenta a qualquer sinal que venha de qualquer sentido. Verdade. A mulher já sinalizou e troca um olhar dúbio com o seu parceiro que está deitado sobre a toalha azul escura. Anormalmente não sopra uma brisa já bem perto da zona de rebentação das ondas.
«Que se passa?» pergunta.
Saturação? Longe disso.
Ela limita-se a sorrir e a recordar...
Talvez tivessem descido de mãos dadas pelo empedrado que dava acesso à praia. Era pouco relevante saber ao certo, uma vez que, mais tarde ou mais cedo, a atração irresistível que os levara ao encontro um do outro levá-los-ia a momentos de ternura, como, por exemplo, o simples ato de darem as mãos.
Já na areia grosseira, tiraram os sapatos que levaram nas mãos e caminharam até encontrarem um local do seu agrado mais perto do mar. As ondas estendiam-se timidamente como se receassem magoar as areias eternamente amantes e desde sempre glosadas pelos poetas. Como etéreo testemunho ficou a espuma que se desvanecia periodicamente. Concordou, ou não fosse o habitual conciliador nas desavenças.
Sentaram-se na areia seca e ele olhou, preocupado, para o astro-rei.
«Achas bem ficarmos aqui?» perguntou ela.
Reparou na sua expressão de pessoa preocupada.
«Passa-se alguma coisa contigo?»
«Não, não. É que ontem sangrei de uma narina e não sei se o Sol me vai fazer mal.»
«Encosta-te a mim que eu protejo-te do Sol.»
«Obrigado.»
Acto contínuo aceitou a sugestão.
Ela virou-se e perguntou-lhe, sorrindo com alguma malícia:
«Estás bem?»
Não tinha perdido a oportunidade vinda do céu e sentira de imediato um embaraçoso odor perfumado que emanava do corpo daquela mulher atraente. Sentiu a magia do encosto ao seu tronco e levou as mãos à cabeça, nitidamente perturbado.
Ela voltou-se de novo para trás.
«Estás mesmo bem? Chega-te mais para mim. Isso. Assim.»
Então, controla-te. É apenas um caso pontual de coincidência. Pode não ser o que pensas. Talvez que quisesse apenas proteger-te da intensidade dos raios solares, até porque lhe falaste de uma narina que sangrou. Mas não deixa de ser
agradável...
«Sabes uma coisa? Sinto-me como já há muito não me sentia.»
«Mentiroso.»
«É verdade. Sinto uma paz inexplicável, tão boa, como já não sentia há muito.» «Só paz?»
«Bom...»
«É melhor não dizeres mais. A culpa foi só minha porque quis puxar por ti. Mas diz-me lá uma coisa...»
Corriam os primeiros tempos e era natural que entrassem logo numa conversa de reconhecimento do terreno, com parada e resposta, tal como se impunha. Havia muito que dizer um ao outro e não iam perder a oportunidade soberana que se proporcionava para se conhecerem melhor. Era mais importante usarem a força das palavras que a força irresistível do olhar, uma arma secreta que teriam de guardar para mais tarde.
A certa altura acariciou-lhe os cabelos curtos e ela procurou a sua mão direita que apertou.
«É bom!»
«Sim» comentou ele. «Este momento não devia acabar.»
«Pois não. Mas tudo acaba com o tempo. Até o amor.»
Seria mesmo tão negativa?
«Tenho uma teoria sobre o amor.»
Apertou-lhe mais a mão. Ela não se voltou, mas retribuiu.
Momentos singelos que fizeram com que se alheassem da passagem impiedosa do tempo sinalizada pela descida do Sol já perto da linha do horizonte. Uma segunda consequência foi ter-se esquecido da teoria que queria desenvolver.
«Já seis horas! Como nos distraímos com o tempo...»
«Começa a repetir-se quando estamos juntos. Vamos andando?»
«Sempre queres ir a Lisboa?»
«É melhor não» respondeu. Fica para outro dia, amigo.»
A atração que os levava cada vez mais ao encontro um do outro era infinitamente grande.
Já de pé, sacudiram as areias e pegaram nos sapatos. Ele olhou para ela e perguntou:
«Posso?»
Respondeu de pronto, deixando um beijo fugidio nos lábios dele.
«Também era isso, mas não só.»
Deram algumas passadas na areia e chegaram ao início da rampa atapetada de gabro, onde se notava a alteração impiedosa dos agentes erosivos.
«Um curioso “não sei quantos” um dia sentiu um curto-circuito na massa cinzenta e deu ordens para se calcetarem algumas ruas de Lisboa com paralelepípedos a que chamavam impropriamente granito. Afinal eram gabro. Ao fim de pouco tempo já faltavam pedras no empedrado.»
«Isso quer dizer que o granito é mais resistente ao tempo.»
«Pois é.»
E seria que o amor que estava para vir ia resistir a intempéries interiores e não só?
«Mas o que é que querias há pouco? Fiquei sem saber nada de nada com essa tua conversa sobre as pedras.»
«Simplesmente pedir-te que subíssemos de mãos dadas.»
«Mas já vamos de mãos dadas!»
«Pois vamos. Mas há pouco não íamos»
Quando chegaram ao cimo ele tirou-lhe algumas fotografias e depois foram para o carro.
«E agora?»
«Agora o quê?»
«Talvez seja cedo para regressarmos. Como está posta de parte a minha sugestão para irmos até Lisboa, fica ao teu critério a decisão final. Para casa não vamos, pois não?»
Ela concordou.
«Então que fazemos?»
«De momento...»
Acariciou-lhe os cabelos louros e aproximou mais o rosto dela.
«Olha que me embacias os óculos!»
Uma frase repetida muito no futuro.
«Pronto, pronto!»
«Estou a brincar.»
Como a ideia da ida a Lisboa ficou para segundas núpcias, ela orientou carro para norte. Ele ia sem norte já que não tomara a iniciativa.
«Preciso de comprar fruta.»
«Onde?»
«Já vês.»
Entretanto tinham entrado na povoação.
«Já sei onde é a frutaria.»
Pouco depois aparcou o carro.
«Ficas?»
«Claro que não.»
Não foi preciso andarem muito a pé para encontrarem a frutaria. Comprou não só fruta como um cacete de mistura, chouriço, queijos frescos e doce de abóbora. De seguida pagou e dirigiram-se para o carro.
O sortilégio parecia ter chegado ao fim quando ela abriu a mala do carro e depositou no seu interior os sacos com a comida. A seguir fechou a mala e ficou indecisa.
«Passa-se alguma coisa?»
Parecia desorientada.
«Posso ajudar?»
«Não. Ou talvez.»
«Em que ficamos?»
«Definitivamente talvez.»
Esboçou um sorriso irónico e começou a procurar uma coisa na mala de mão.
«Deixa-me ver se as tenho. Está sempre tudo no fundo da mala e nunca encontro em tempo razoável o que quero. Ah!, cá estão elas...»
As chaves!
«Sempre vamos regressar...»
«E se lanchássemos cá?»
Abriu de novo a mala do carro e retirou os sacos que ela segurou.
«Não me digas que vamos fazer um piquenique?»
«Anda comigo.»
Já sabia que ela tinha uma casa na povoação. Só não adivinhara os seus intentos.
«Falta comprarmos bebidas.» Sentenciou ele.
«Não é preciso. Tenho bebidas em casa.»
Situação irreversível quando meteu a chave à porta.
Mal entraram, sentaram-se no sofá e interrogaram-se. A proposta partiu dela:
«Vamos conversar um pouco antes de lancharmos?»
Conversar. Plataforma de entendimento.
«Acho bem.»
Lanche adiado quando se beijaram com frenesim, como se o mundo fosse acabar. Afinal nem o mundo ia acabar, nem o lanche esfriava.
Começou a acariciar-lhe os seios e ela fechou os olhos, gozando o momento. Logo a seguir afastou-o, com doçura.
«Meu amor...»
Era o seu amor?
Arroz queimado. Pressentiu que o momento mágico ia desaparecer.
Ela pegou-lhe na mão.
«Olha...»
Não sabia para onde olhar. Talvez fosse uma forma de expressão com outro sentido.
«Sim?»
Levantou-se e arrastou-o languidamente para o quarto.
«Não acendas a luz.» Avisou.
A escuridão era boa conselheira para a continuação do momento mágico, agora já com contornos bem definidos.
«Mas queria ver-te...»
«Hoje não.»
Tinha que habituar-se àquela ditadura de uma mulher tímida nos primeiros tempos.
Só depois foram lanchar.
«Tenho fome.»
«Eu também.»
Os olhos dela estavam mais brilhantes que uma noite de lua cheia e pareciam contar coisas que o puseram a admitir que talvez estivessem destinados um para o outro.
«Será já amor?» interrogou-se.
«Que sentes por mim?»
Amor?
Tentou responder, mas ficou a pensar. Uma vez ouviu uma frase que tinha toda a lógica.
«Nunca vais conhecer o amor se não te entregares a ele.»
Uma verdade dedicada a todos os que, como ele, acreditavam na força do amor que, misteriosamente, quando este acontecia nada, mesmo nada podia travar a sua marcha triunfal de dedicação e entrega total. Era certo que “havia sempre um tempo para amar”. Nesse tempo em que o amor desabrochara com naturalidade, ele conhecia o amor e preparava-se para se entregar de alma e coração à coisa amada, caso ela o aceitasse. Não sabia o que ia no coração da amiga. Só o tempo se encarregaria de dar a conhecer a verdadeira essência e profundidade do seu amor. Até lá, não importava perguntar “quantos são hoje”, ou quando seria. No momento exacto teria a resposta e passaria a saber onde residia (ou se residia) o amor dela. Por motivos que não queria dissecar ela ainda não queria conhecer o amor e assim não podia entregar-se a ele.
Mas isto foi ontem e o amanhã que os esperava só Deus sabia como seria, se é que Deus se preocupava com coisas menores que eram, por exemplo, o amor até à entrega total entre um homem e uma mulher. Coisa simples mas decisiva para os dois.
«O que sentes por mim?» repetiu.
«Eu sei o que sinto por ti e tu sabes o que sentes por mim. Amei-te e entreguei-me a ti de corpo e alma neste fim de tarde em que me deste a mão para te seguir e a escuridão do quarto nos envolveu.»
«Não tenhas pressa.»
«Quando não há pressa, o provérbio “devagar se vai ao longe” pode correr o risco de não se concretizar. É esse o meu receio, sabes?»
«Dá tempo ao tempo. Não foste tu que disseste que há sempre um tempo para amar?»
«O meu já chegou. E o teu?»
Não respondeu.
“Estou vazia. O Sol aquece-me o corpo. A areia acaricia-mo. Acordei neste momento, do marasmo dos sentidos, aquecida agora, não pelo Sol mas pelo calor de uns olhos ardentes. Há vulcões incendiários no seu olhar. A minha base de dados começa a entrar em funcionamento. As correntes elétricas desse olhar de fogo percorrem-me o corpo e o coração dispara.
Matematicamente falando, um mais um é igual a dois. Não só, nem tão só... Dois corações estão a palpitar e, junta-se-lhes, começando a funcionar, a fantasia do amor.
Ardo..., volto-me... e encontro no meu espírito a erupção dum orgasmo.
Afinal, tudo começa com um simples nada.”
Não foi necessário aproximar-se mais. Colocou-se em estação no sítio ideal para começar a emitir pensamentos para ambos, acreditando logo que o marasmo era aparente e esperava-os uma longa estrada de afirmação.
Deixou-os entregues a interrogações nos olhares, dúvidas para o futuro e tentou descobrir como se enquadrava na ação a moldura real das areias finas e reluzentes, das ondas de rebentação violenta que arrastavam consigo mais areias e detritos orgânicos, espuma amarela que beijava sem pudor os grãos de areia e depois afundava-se em parte e a outra parte recuava para as origens negando categoricamente o beijo. Mais ao fundo, o rochedo majestoso continuava a desafiar os elementos da Natureza que já tinham destruído grande parte da rocha que o ligara em tempos recuados à arriba cretácica de grés amarelo, grosseiro, que saía de um contacto com o calcário argiloso jurássico, mais à esquerda. Depois havia a torre, sinal de um passado baseado talvez em vigia de passagem ao largo de barcos duvidosos de todas as tonelagens. Mais à esquerda, o mar a perder de vista até à linha do horizonte, imaginária que limitava o real do limbo misterioso e desconhecido.
Alongou com êxito o pensamento tentacular. Sem que dessem conta o contacto foi feito de imediato. Os pensamentos processaram-se em permutas rápidas e impeliram os corpos grosseiros para um outro mundo de atração e carinho.
O amor, cego desde sempre, teve a certeza que ela era a mulher mais bonita que o homem já tinha alguma vez conhecido. A cor dos olhos, castanhos, verdes, azuis, conforme o seu estado de espírito, os cabelos louros lisos, curtos, o sorriso, uma vez doce, outra, brincalhão, estavam arquivados na base de dados e eram bom augúrio. Quanto aos pensamentos presentes em nada desfavoreciam o andamento da situação de um homem e uma mulher deitados na areia sobre toalhas azul celeste e azul escura, pareciam já envoltos numa auréola romanesca cimentada e distante duma hipotética paixão que em nada os ia favorecer.
Olharam-se perdidos no mundo que o amor construiu de propósito para eles. Sinais exteriores, como o Sol que lhes bronzeava os corpos, ou o rochedo gresoso que em tempos geológicos já esteve ligado à arriba jurássica, e que na sua base consentia em dar passagem às águas furiosas do mar e que, por vezes, deixavam soltar guinchos suplicantes para que o mesmo mar acalmasse o processo duro duma erosão inevitável mas que desejava lenta, ou as águas que se aproximavam perigosamente das toalhas, em nada influenciavam o significado das trocas de olhares e os beijos consentidos.
Ela já não sentia o zero do vazio, nem o tempo do marasmo estava consigo. Ardia, sim. Ardia de desejo bem perto do orgasmo. O simples contacto dos corpos incendiava o desejo de se fundirem nu só. Eles. Os eternos, não. Esses são outros que não eles [1]
Ao fundo, a base do rochedo deixou soltar um guincho erótico, sinal que o mar estava consigo e penetrava suavemente nas suas entranhas sem usar a força hercúlea extrema dos tempos de invernia. Bem perto deles, a eterna farsa amorosa da espuma a beijar as areias douradas e a mergulhar parte entre os grãos e grande parte a recuar cobardemente em busca da proteção do mar implacável que só um homem soube acalmar, mas durante pouco tempo.
Definitivamente não era trabalho para o amor que, no momento, flutuava em volta do homem e da mulher, sem os ver, sentir ou amar, porque dispunha apenas da sua base de dados e dum programa pré-definido que resolvia todos os casos de amor por mais difíceis que fossem. A sua missão estava a chegar ao fim já que os destinos do homem e da mulher estavam entrelaçados e tudo não passara de um falso alarme. Limitou-se a constatar que Alguém tinha programado o futuro auspicioso entre o homem e a mulher. Desta vez nem sequer precisou de persuasão. Estava de partida e pronto para uma nova cruzada, quiçá difícil. Ia partir sem sequer entender a eternidade do orgasmo que durava poucos segundos no máximo.
Retraiu a aproximação tentacular dos tentáculos que não possuía, mergulhou virtualmente na zona de rebentação das ondas, lançou o olhar cego sobre o rochedo guinchador, tentou harmonizar-se com o paradigma da espuma da onda, das areias da praia e dos beijos consentidos, tentou sentir as radiações solares no seu corpo imaterial, não teve meios para traduzir o que não podia sentir e afastou-se de vez para outras paragens.
«O que sentimos um pelo outro não vale mais que o orgasmo mais profundo que sentimos em simultâneo?»
«Tens razão, Rita. Não consigo passar sem acariciar-te quando estamos um com o outro. É uma atração que não se explica. O contacto com o teu corpo macio é algo muito forte que não consigo explicar. Cega-me, tolhe os outros sentidos e traz-me um novo que não encontro nome para dar.»
«É amor. Não se explica de outra maneira.»
«Tens razão.»
«Sentiste o mesmo que eu?»
«O que foi Rita?»
«Um frio interior. Apareceu de súbito.»
«Mas o dia está muito quente!»
«Deixa. O que interessa é que te amo muito.»
«E eu também. Jura que vamos manter sempre este espírito do amor.»
«Curioso... Era o que ia a propor-te. Dá-me um beijo.»
[1] São exclusivos de um conto antigo (1964) a que dei o título de "Maré Vazia"
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