Quer acreditem, quer não…

Algures, numa cidade a menos de cinquenta quilómetros de Lisboa…
Infelizmente já não é deste mundo quem me contou esta história insólita. Partiu recentemente para além do céu constelado numa viagem serena rumo à eternidade. Fica, em sua homenagem, esta marca indelével...
«Olha, Tonecas, os nossos primos devem estar a chegar.»
«Não é cedo?»«Passa das onze. Subir não subir, palavra puxa palavra, o tempo voa. Não te esqueças que combinámos estar nos Casalinhos por volta do meio-dia. É domingo e o restaurante enche num instante porque da fama não se livra.»
«Tens razão. Come-se bem e barato. Estou quase pronto. Achas que leve a camisola verde ou a creme?»
«Leva a verde, claro. Só para picares o teu primo que é todo benfiquista.»
«Enganas-te. Ele é do Belenenses.»
«Então, tanto faz. Vocês andam sempre a picar-se.»
«Está bem. Mas ainda há mesas.»
«O que é que lhe disseste, Judite?» perguntou o Renato.
«Ora, que se apressasse. Já sabes como é sua excelência. Guarda tudo para a última hora.»
Nem de propósito. Os primos tinham assomado à porta do restaurante e estavam a acenar.
«Vá lá, não se atrasaram muito.»
«Bom, vamos lá a escolher. Há uma caldeirada que me está a agradar.»
«Alinho» disse a Leninha. «E tu, Renato?»
«Prefiro dobrada.»
«E eu, bifes de cebolada.» Completou a Judite.
Tudo pratos de "pouca consistência". Apanágio daquele restaurante saloio. E não era por acaso que todos as mesas estavam ocupadas e já algumas pessoas faziam fila, à espera. Aliás, seria assim a cena até depois das duas.
«Tinto ou branco?» perguntou o Tonecas.
«Sou como Jacinto. Tanto bebo branco como...»
«Tinto. Está visto.»
E o vinho tinto não se fez esperar.
Enquanto aguardavam pelos pratos, foram conversando e comendo queijo saloio, azeitonas e pedacinhos de polvo cozido e cebola crua, temperado com azeite, vinagre e pimenta. E também pão caseiro, claro. Tudo junto era quase meia refeição.
«São espertos. Assim comemos menos.»
«Quem te manda, Renato, atacar que nem um alarve as entradas?»
«Olha quem fala!»
Pouco depois chegavam à mesa as travessas com as ementas pedidas.
«Só isto?» gracejou o Tonecas.
«Se quiserem mais é só pedirem.»
«Homem, eu estou a brincar.»
«Bom apetite» apressou-se o Renato. «Eu vou atacar enquanto está quente...»
Já na sobremesa (todos escolheram pudim flan) a Judite deu conta de um sinal na mão esquerda do primo, junto ao indicador.
«Já fui ao dermatologista e é para tirar.»
«Tens isso há muito?»
«Talvez há dois meses.»
«Deixa ver...»
«Estás a armar-te em senhora doutora? Que vai dizer a filha deles? Ela é que é médica, não te esqueças.»
A Judite ouviu a reprimenda do marido, mas não desistiu.
«Só quero ver.»
Lá tinha as suas razões. Lembrava-se do caso de um caixeiro-viajante de móveis que, por causa de um sinal, nunca mais voltou à loja para apresentar as novidades. Motivo? Muito simples: morreu meses depois de lhe tirarem um sinal. Provavelmente era um melanoma.
«Pronto. Eu mostro» disse, estendendo o braço. «Lá por causa disso...»
«Mas é um "cravo"!»
«E então?» perguntou o Tonecas, algo agastado. «Julgavas que era um repolho?»
«Olha, pede os cafés que conversamos lá fora. Está muita gente à espera de mesa...»
Pagas tu, pago eu, ou contas à moda do Porto.
Um dia, ao ver que a filha do casal tinha um "cravo" entre o nariz e o lábio superior, ficou preocupado. Aquele sinal não ficava nada bem a uma criança tão bonita como era a Clarinha.
Na altura não comentou muito. Tratou das encomendas com a Judite e zarpou para o norte.
Tempos mais tarde, telefonou a perguntar pelo "cravo" da miúda.
«Desapareceu como por encanto.» Informou a Judite.
«Ah!»
«Então, senhor Sousa, porque perguntou?»
«É que ofereci uma dúzia de cravos a São Bento da Porta Aberta e pelos vistos resultou. É uma crença popular, sabe, dona Judite?»
Meses mais tarde apareceu um "cravo" numa orelha do Xoné, o seu canito, e lembrou-se do estranho fenómeno que tinha acontecido com a filha.
«São Bento, onde vou encontrar uma imagem tua numa igreja desta região?»
Procurou informar-se da existência de uma imagem de São Bento em igrejas das proximidades e não encontrou resposta. Mas, curiosamente, o "cravo" desapareceu pouco depois da orelha do cão.
«Fico a dever a São Bento um ramo de cravos.»
Entretanto os dois casais encontraram-se outra vez para almoçar e ocorreu a tal conversa sobre o "cravo" do Renato.
Dias mais tarde a prima telefonou à Judite.
«O Renato não foi operado porque o "cravo" desapareceu...»
«Ah!»
Acreditam?
«Leva a verde, claro. Só para picares o teu primo que é todo benfiquista.»
«Enganas-te. Ele é do Belenenses.»
«Então, tanto faz. Vocês andam sempre a picar-se.»
Quando chegaram ao restaurante já passava do meio-dia e meia hora e restavam apenas três ou quatro mesas por ocupar. A Judite tinha razão em apressar o marido.
«Não te disse?»«Está bem. Mas ainda há mesas.»
«O que é que lhe disseste, Judite?» perguntou o Renato.
«Ora, que se apressasse. Já sabes como é sua excelência. Guarda tudo para a última hora.»
Nem de propósito. Os primos tinham assomado à porta do restaurante e estavam a acenar.
«Vá lá, não se atrasaram muito.»
«Bom, vamos lá a escolher. Há uma caldeirada que me está a agradar.»
«Alinho» disse a Leninha. «E tu, Renato?»
«Prefiro dobrada.»
«E eu, bifes de cebolada.» Completou a Judite.
Tudo pratos de "pouca consistência". Apanágio daquele restaurante saloio. E não era por acaso que todos as mesas estavam ocupadas e já algumas pessoas faziam fila, à espera. Aliás, seria assim a cena até depois das duas.
«Tinto ou branco?» perguntou o Tonecas.
«Sou como Jacinto. Tanto bebo branco como...»
«Tinto. Está visto.»
E o vinho tinto não se fez esperar.
Enquanto aguardavam pelos pratos, foram conversando e comendo queijo saloio, azeitonas e pedacinhos de polvo cozido e cebola crua, temperado com azeite, vinagre e pimenta. E também pão caseiro, claro. Tudo junto era quase meia refeição.
«São espertos. Assim comemos menos.»
«Quem te manda, Renato, atacar que nem um alarve as entradas?»
«Olha quem fala!»
Pouco depois chegavam à mesa as travessas com as ementas pedidas.
«Só isto?» gracejou o Tonecas.
«Se quiserem mais é só pedirem.»
«Homem, eu estou a brincar.»
«Bom apetite» apressou-se o Renato. «Eu vou atacar enquanto está quente...»
Já na sobremesa (todos escolheram pudim flan) a Judite deu conta de um sinal na mão esquerda do primo, junto ao indicador.
«Já fui ao dermatologista e é para tirar.»
«Tens isso há muito?»
«Talvez há dois meses.»
«Deixa ver...»
«Estás a armar-te em senhora doutora? Que vai dizer a filha deles? Ela é que é médica, não te esqueças.»
A Judite ouviu a reprimenda do marido, mas não desistiu.
«Só quero ver.»
Lá tinha as suas razões. Lembrava-se do caso de um caixeiro-viajante de móveis que, por causa de um sinal, nunca mais voltou à loja para apresentar as novidades. Motivo? Muito simples: morreu meses depois de lhe tirarem um sinal. Provavelmente era um melanoma.
«Pronto. Eu mostro» disse, estendendo o braço. «Lá por causa disso...»
«Mas é um "cravo"!»
«E então?» perguntou o Tonecas, algo agastado. «Julgavas que era um repolho?»
«Olha, pede os cafés que conversamos lá fora. Está muita gente à espera de mesa...»
Pagas tu, pago eu, ou contas à moda do Porto.
A conversa continuou no carro, a caminho de um lugarejo perto da Ericeira.
A propósito de contas à moda do Porto, a decisão justa para acabarem com o "pagas tu, pago eu", a Judite aproveitou para falar de outro caixeiro-viajante nortenho, este, por sinal, amigo de longa data da família.Um dia, ao ver que a filha do casal tinha um "cravo" entre o nariz e o lábio superior, ficou preocupado. Aquele sinal não ficava nada bem a uma criança tão bonita como era a Clarinha.
Na altura não comentou muito. Tratou das encomendas com a Judite e zarpou para o norte.
Tempos mais tarde, telefonou a perguntar pelo "cravo" da miúda.
«Desapareceu como por encanto.» Informou a Judite.
«Ah!»
«Então, senhor Sousa, porque perguntou?»
«É que ofereci uma dúzia de cravos a São Bento da Porta Aberta e pelos vistos resultou. É uma crença popular, sabe, dona Judite?»
Meses mais tarde apareceu um "cravo" numa orelha do Xoné, o seu canito, e lembrou-se do estranho fenómeno que tinha acontecido com a filha.
«São Bento, onde vou encontrar uma imagem tua numa igreja desta região?»
Procurou informar-se da existência de uma imagem de São Bento em igrejas das proximidades e não encontrou resposta. Mas, curiosamente, o "cravo" desapareceu pouco depois da orelha do cão.
«Fico a dever a São Bento um ramo de cravos.»
Entretanto os dois casais encontraram-se outra vez para almoçar e ocorreu a tal conversa sobre o "cravo" do Renato.
Dias mais tarde a prima telefonou à Judite.
«Descobri que há uma imagem de São Bento no Beato.»
«Verdade, Leninha? Dei tanta volta e não consegui descobrir! Estou a dever a São Bento um ramo de cravos por causa do Xoné. Mas diz-me...?»«O Renato não foi operado porque o "cravo" desapareceu...»
«Ah!»
Concluindo...
Quer acreditem, quer não, um "cravo" na mão, ou noutra parte do corpo, desaparece com uma mão cheia de cravos oferecidos a São Bento da Porta Aberta! Acreditam?
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