Tenho saudades tuas, "Carcacinha"! Partiste há quatro meses, mas vives ainda comigo porque as saudades são eternas!
Nunca mais me esquecerei da expressão triste dos teus olhos naquele fim de dia em que te acariciei pela última vez. Estavas a despedir-te.
Por vezes parece que oiço o arranhar das tuas unhas na carpete azul, da sala da casa de Lisboa, onde muitas vezes dormiste.
Ouviu vozes ao fundo e aproximou-se, sem fazer ruído, tomando todas as cautelas que se impunham. Parou a meio do corredor e deixou-se ficar. As vozes vinham do quarto e estavam mais altas do que o costume. Do sítio onde estava podia ver a porta entreaberta.
«Que mania a tua de veres coisas que não existem. A mulher olhou para mim e mais nada. Juro-te que nunca a vi nem mais gorda nem mais magra.»
«Está bem, abelha. Bem dei conta do sorriso dessa megera! A descarada até te piscou o olho, sonso...»
«Está bem, abelha. Bem dei conta do sorriso dessa megera! A descarada até te piscou o olho, sonso...»
Ouviu a desculpa dele. Adivinhava tempestade no mar, com ondas alterosas e tudo mais. Podia aproximar-se que eles não davam pela sua presença. Mas estava interessado noutra coisa.
«Já sabes que não gosto que me mintas.»
«Quando é que te menti? Por vezes omito certos acontecimentos por mero esquecimento...»
«A omissão é uma forma cínica de mentir.»
«Achas?»
Não tomou as devidas precauções e esbarrou na perna da consola. Qualquer coisa caiu de imediato.
«Oh!»
«Ouviste?» perguntou ela.
«Claro que ouvi» sorriu, irónico. «Será que é um fantasma? Nunca se sabe. Já te disse mais que uma vez que esta casa é sinistra. Por vezes tenho a impressão que não estamos sós.»
«Não brinques com coisas sérias. Não sei como vai ser se uma noite destas não dormires em casa. Vai ver o que aconteceu, anda.»
«Vou. E se vir o fantasma?, dou-lhe as boas tardes ou leva uma sarrafada?»
Empurrou-o na direção da porta.
«Deixa-te de conversas parvas. Assim estragas o efeito surpresa...»
«Ora!»
Entreabriu a porta e espreitou para o fundo do corredor.
«Está escuro.» Sussurrou.
«Então acende a luz.»
«Não. Estraga-se o efeito surpresa.»
«Tens razão. Deixa lá.»
Sentiu a leveza da mão dela sobre o ombro e voltou-se.
«Como posso deixar de gostar de ti um dia?» pensou.
«Que foi?»
«Nada.
«Estás a pensar no fantasma?»
«Sim. E tem as cuecas rotas...»
«Não sei que graça acham a todo aquele disparate da conversa. Afinal já perdi o interesse. Aquelas coisas são parvas.»
Voltou costas e caminhou, sem ruído, para o outro extremo do corredor. Mas foi um momento. Aconteceu tudo muito rápido. Outra coisa o atraiu. Voltou-se para a parede do lado direito e quedou-se a olhar.
«É bem mais interessante o que estou a ver.»
«Não sei que graça acham a todo aquele disparate da conversa. Afinal já perdi o interesse. Aquelas coisas são parvas.»
Voltou costas e caminhou, sem ruído, para o outro extremo do corredor. Mas foi um momento. Aconteceu tudo muito rápido. Outra coisa o atraiu. Voltou-se para a parede do lado direito e quedou-se a olhar.
«É bem mais interessante o que estou a ver.»
«Onde está ele? Só pode...»
«Deixa-o lá em paz. Anda por aí...»
«Tive um pressentimento!»
Levantou-se da cama.
«Que vais fazer?»
Já estava a sair do quarto e a entrar no corredor.
Acendeu a luz. Ainda a ouviu reclamar.
«Volta para a cama Não é nada...»
«Eu sabia!» exclamou.
Parecia de tal maneira hipnotizado com a parede que nem dera pela sua presença.
«Estranho! Que está este fulano a ver?»
Rápido, voltou a entrar no quarto.
«Anda vê-lo...»
«Que se passa?»
«Depressa!»
«Volta para a cama Não é nada...»
«Eu sabia!» exclamou.
Parecia de tal maneira hipnotizado com a parede que nem dera pela sua presença.
«Estranho! Que está este fulano a ver?»
Rápido, voltou a entrar no quarto.
«Anda vê-lo...»
«Que se passa?»
«Depressa!»
Já não estava no corredor a olhar para a parede.
«Aquele safado!» exclamou.
«Não te entendo.» Disse ela.
«Vamos até à sala.»
«Vou assim?»
«Claro. Só estamos eu, tu e ele...»
Encolheu os ombros, resignada.
«Olha...»
«Ah!»
«Avança com cuidado...»
Sem comentários:
Enviar um comentário