sábado, 28 de novembro de 2009
6 de Fevereiro de 1988. Que querem de mim?


Escrevo ao sabor da pena. Ou melhor, submetido a outra vontade. Estou confuso. A mão parece não ter força. Penso que é só impressão. Quero explicar o que sinto, mas aquilo não me deixa.
Tudo começou de manhã, em Lisboa. Apanhei um grande susto ao olhar para o espelho da casa de banho. Tinha um zumbido forte no ouvido e ouvia mal. Ao mesmo tempo, o meu rosto estava muito pálido e alucinado. O sangue fugira da cabeça, pensei. Tentei reagir. Não conseguia, não conseguia. Estava obcecado com a ideia de não conseguir.
Mas não conseguir, o quê?
Reagi e fui deitar-me outra vez. Sentia-me confuso. Não gostava nada de ver o meu rosto ao espelho. Pálido, afilado. O zumbido passara um pouco. Precisava de medir a tensão.
Saltei da cama, vesti-me e saí.
Ao atravessar a avenida para o outro lado, agi como uma pessoa já de idade avançada. Estava nitidamente perturbado. Perto do posto vi um homem baixo, de rosto cheio, à porta de uma mercearia. O homem vestia um blusão azul e olhava, com insistência, para mim. De certeza que dera conta do meu estado de espírito. Ao passar por ele, dei comigo a perguntar o que fazia aquele homem encostado à porta da mercearia.
Os valores da tensão não eram famosos. A mínima era oito e a máxima dezasseis. Aconselharam-me a ir ao médico.
Que fazer?
Voltei para casa. O zumbido não passava. Era certo que estava menos nervoso. Tomei banho.
Seria um problema de fígado?
Talvez fosse bom deitar um guronsan num copo de água. A minha companheira insurgiu-se comigo. Queria que tomasse um ansiolítico. Só para não a ouvir mais decidi-me a ir ao posto de atendimento permanente.
Coisa estranha! Eu a entrar no posto e o homem do blusão azul a sair. Dei conta que me reconheceu. Era coincidência a mais, pensei. Mas havia outro pormenor que considerei importante: tinha o cabelo muito acachapado e fazia lembrar o meu padrinho de nascimento.
Fui atendido por uma médica que me deu pouca atenção. Afinal, a tensão estava normal e o problema nos ouvidos era acumulação de cera. Receitou-me otoceril e que marcasse uma consulta para o especialista.
Nessa manhã fui para a casa da praia, embora contrariado. Continuava a não me sentir bem e os sinais exteriores que captava também em nada ajudavam. Por exemplo, vi, logo no início da auto-estrada para Loures, um homem caminhando pela berma no sentido contrário ao nosso. Além de ser proibida a circulação de peões, o que já era estranho, o homem levou uma mão à garganta e inclinou a cabeça, mantendo aqueles gestos e continuando a caminhar. Tinha um ar de anormal. Talvez fosse. Comentei com ela. Não dera conta. Olhei pelo retrovisor. O homem continuava na mesma atitude.
Já perto de Loures, o indicador de nível da gasolina, sem qualquer motivo justificativo, baixou para zero. Logo a seguir, vi gaivotas no céu, voando alto.
«São pombos.» Disse ela.
Não eram pombos. Os pombos batiam as asas com mais frequência.
Almocei em casa. Sozinho, como de costume. Grelhei um bife e fiz arroz branco. Talvez que uma dieta me fizesse bem. Depois do almoço deitei-me a descansar e dormitei um pouco.
Acordei com a ideia dos bilhetes de totoloto. Tinha uns prémios para receber em mais de uma agência.
Levantei-me e fui à casa de banho. Complicou-se tudo de novo. O rosto que via no espelho da casa de banho não me agradava. Parecia mais alongado e o olhar não estava normal.
Seria capaz...?
De novo o bloqueio. Claro que era capaz!
Olhei o mar pela janela da casa da entrada. Senti-o mais perto que o habitual.
Que droga tinha tomado?
Tencionava ir receber os prémios do totoloto ao café ao fundo da rua e a ainda a outro, mais para diante.
Devia levar todos os boletins?
De repente não era eu! Parecia ser uma coisa muito complicada essa de receber prémios. Levei todos os boletins e entrei no café. Primeiro gesto: comecei a esfregar as mãos. Sentia-as frias, bem como os pés. O tempo estava ventoso, desagradável.
Houve logo problemas quando comecei a assinar os cheques. A letra era miúda e vacilante, como se não tivesse força na mão. Ao terceiro ou quarto cheque senti grande dificuldade em assinar. A mão tremia, a nuca tremia. Sentia um bloqueio, principalmente quando chegava ao segundo nome. Depois, a dona do café não ajudava. Era muito lenta a procurar os cheques. O quarto cheque foi ainda mais difícil de assinar. A meio do nome a mão tremeu mais e quase que não consegui continuar. Não tinha força. Não tinha força na mão direita. A nuca continuava a tremer. Creio que todo eu tremia. Fiquei inoperante ao quinto cheque. A dona do café dera conta e parecia algo preocupada comigo.
Era tudo muito estranho, porque, apesar do bloqueio, estava consciente e não me escapava o mínimo pormenor, comigo e à minha volta.
Assinou-me o resto dos cheques e eu desculpei-me que estava com gripe. Depois apareceu o marido. Ficou também preocupado. Estava a acontecer algo muito grave. Lembrava-me um romance de ficção científica. Os Possuídos. Era isso. Ficara possuído sei lá por quem!
Cheguei a casa a tremer. As forças faltavam-me. Fui à casa de banho várias vezes para olhar o meu rosto ao espelho. Queria ter a certeza que era eu. A imagem que via reflectida era sempre a mesma. Um rosto em pânico, alucinado e a sensação estranha que me colocava numa encruzilhada. Ou estava a enlouquecer, ou destapava inconscientemente naquele momento mais uma cortina.
Fiz tudo para reagir, mas a outra força era maior. Tomei meio comprimido de xanax. Gritei então qualquer coisa como se havia alguém presente, que esse alguém se manifestasse.
Deitei-me em cima da cama. Tremia muito. Sentia-me em pânico. Completamente descontrolado. Gritei por duas ou três:
«Que querem de mim?»
Desafiava uma força que não via nem ouvia. Mesmo em pânico tentava desafiar o invisível. Não estava sozinho. Tinha a certeza. Mas tive como resposta o silêncio. Um silêncio absoluto que ainda me gelou mais. Continuava a tremer e não tinha força nas mãos. Queria convencer-me que tudo não passava de ilusão.
Sem saber podia estar sob o efeito de um alucinogénio!
Peguei, sem esforço, na telefonia grande. Afinal tinha força.
Mas... e o frio que sentia nas mãos e no resto do corpo?
Delirava. De certeza que delirava. Começava a duvidar da minha sanidade mental.
«Vai ter uma doença grave.» Disse a Verónica uma vez.
Lembrei-me da Lara. Talvez me fizesse bem escrever. De certeza que baixava a enorme tensão em que estava mergulhado. Sim. Era um paliativo escrever ao acaso.
Dei conta que as ideias moravam longe. Esforcei-me. Escrever ao acaso. Era isso. Deixar a imaginação soltar-se, livre como o vento.
Aos poucos, as frases foram tomando nexo e acabei por estabelecer um fio condutor entre o subconsciente e a fluência das palavras. Sobretudo queria compreender o que me estava acontecendo. As palavras que escrevia eram de um Mário mais temerário do que o outro que se apossara de mim. Constituíam um desafio ao outro lado, mas ainda não estava preparado. Por um lado, desafiava; por outro rejeitava.
Fez-me bem. Os pensamentos estavam, de novo, coerentes. Já não havia pesadelo. A tempestade interior abrandara. Não sabia se tudo não passara de pura alucinação ou se fora um fenómeno paranormal. Tentei compreender o porquê da alteração psicológica que tinha começado em Lisboa.
Teria alguém entrado?
Quando ela voltou, insisti nas gaivotas.
«Eram pombos...» Teimou.
Retorqui que me pareceram gaivotas.
(Mais tarde confirmei que eram gaivotas.)
«Vemos sempre coisas diferentes.»
Por isso mesmo a nossa relação valia o que valia!
Que aconteceu comigo?
Éramos dois?
Quem invadiu o meu cérebro e depois desapareceu, sem deixar rasto?
Não saí depois do jantar e deitei-me logo na cama.
«Não vais tu, mas vou eu.»
E foi para o café ter com o grupo.
Muito curioso aquele seu interesse pelo meu estado de saúde!
Ainda assisti ao sorteio do totoloto e tive um terceiro prémio. Foi bom. Éramos vários sócios. Talvez dez. Mas foi bom, apesar de tudo. Moralizou a sociedade.
Adormeci quase a seguir ao sorteio.
Estávamos sentados a assistir a um espectáculo. Lembro-me que fiquei do lado esquerdo. Havia uma música de fundo que parecia servir de acompanhamento para as imagens, ou então indicava a passagem para uma cena nova. Não me lembro do tema. Parecia mais teatro que filme.
A música começou a ter efeitos especiais. Sim. Algo de intrigante ia acontecer. Ficámos à espera. Ao mesmo tempo, abria-se, lentamente, uma porta. Negativo. Já não havia imagens. A porta deslocava-se da esquerda para a direita. Primeiro, lentamente. Depois, aumentou a velocidade e a música de fundo subiu de volume. Suspense! Não sabia o que ia acontecer a seguir. E a porta continuava a deslocar-se, a deslocar-se. Cada vez mais depressa. E eu impotente. Ia acontecer qualquer coisa de grave! E eu ansioso. Cada vez mais ansioso e afastado do centro do poder.
O que estava para lá da porta?
A minha companheira pareceu responder à pergunta muda que fiz. Levantou-se (nesse momento estava atrás de mim...) e encaminhou-se para a porta. Nada podia fazer. Vi-a passar para o outro lado. Vestia um saia-casaco castanho. Continuou a andar, sempre em frente, sempre em frente... até que deixei de a ver. Sumiu-se como o fumo.
Que fazer neste caso?
Acordar...
Aquilo veio e desapareceu. Sem deixar rasto. Mas não desapareceu para sempre. Três meses mais tarde tive os mesmos sintomas com a agravante de serem reforçados pela a estranha visão da mulher de vermelho...
Tudo começou de manhã, em Lisboa. Apanhei um grande susto ao olhar para o espelho da casa de banho. Tinha um zumbido forte no ouvido e ouvia mal. Ao mesmo tempo, o meu rosto estava muito pálido e alucinado. O sangue fugira da cabeça, pensei. Tentei reagir. Não conseguia, não conseguia. Estava obcecado com a ideia de não conseguir.
Mas não conseguir, o quê?
Reagi e fui deitar-me outra vez. Sentia-me confuso. Não gostava nada de ver o meu rosto ao espelho. Pálido, afilado. O zumbido passara um pouco. Precisava de medir a tensão.
Saltei da cama, vesti-me e saí.
Ao atravessar a avenida para o outro lado, agi como uma pessoa já de idade avançada. Estava nitidamente perturbado. Perto do posto vi um homem baixo, de rosto cheio, à porta de uma mercearia. O homem vestia um blusão azul e olhava, com insistência, para mim. De certeza que dera conta do meu estado de espírito. Ao passar por ele, dei comigo a perguntar o que fazia aquele homem encostado à porta da mercearia.
Os valores da tensão não eram famosos. A mínima era oito e a máxima dezasseis. Aconselharam-me a ir ao médico.
Que fazer?
Voltei para casa. O zumbido não passava. Era certo que estava menos nervoso. Tomei banho.
Seria um problema de fígado?
Talvez fosse bom deitar um guronsan num copo de água. A minha companheira insurgiu-se comigo. Queria que tomasse um ansiolítico. Só para não a ouvir mais decidi-me a ir ao posto de atendimento permanente.
Coisa estranha! Eu a entrar no posto e o homem do blusão azul a sair. Dei conta que me reconheceu. Era coincidência a mais, pensei. Mas havia outro pormenor que considerei importante: tinha o cabelo muito acachapado e fazia lembrar o meu padrinho de nascimento.
Fui atendido por uma médica que me deu pouca atenção. Afinal, a tensão estava normal e o problema nos ouvidos era acumulação de cera. Receitou-me otoceril e que marcasse uma consulta para o especialista.
Nessa manhã fui para a casa da praia, embora contrariado. Continuava a não me sentir bem e os sinais exteriores que captava também em nada ajudavam. Por exemplo, vi, logo no início da auto-estrada para Loures, um homem caminhando pela berma no sentido contrário ao nosso. Além de ser proibida a circulação de peões, o que já era estranho, o homem levou uma mão à garganta e inclinou a cabeça, mantendo aqueles gestos e continuando a caminhar. Tinha um ar de anormal. Talvez fosse. Comentei com ela. Não dera conta. Olhei pelo retrovisor. O homem continuava na mesma atitude.
Já perto de Loures, o indicador de nível da gasolina, sem qualquer motivo justificativo, baixou para zero. Logo a seguir, vi gaivotas no céu, voando alto.
«São pombos.» Disse ela.
Não eram pombos. Os pombos batiam as asas com mais frequência.
Almocei em casa. Sozinho, como de costume. Grelhei um bife e fiz arroz branco. Talvez que uma dieta me fizesse bem. Depois do almoço deitei-me a descansar e dormitei um pouco.
Acordei com a ideia dos bilhetes de totoloto. Tinha uns prémios para receber em mais de uma agência.
Levantei-me e fui à casa de banho. Complicou-se tudo de novo. O rosto que via no espelho da casa de banho não me agradava. Parecia mais alongado e o olhar não estava normal.
Seria capaz...?
De novo o bloqueio. Claro que era capaz!
Olhei o mar pela janela da casa da entrada. Senti-o mais perto que o habitual.
Que droga tinha tomado?
Tencionava ir receber os prémios do totoloto ao café ao fundo da rua e a ainda a outro, mais para diante.
Devia levar todos os boletins?
De repente não era eu! Parecia ser uma coisa muito complicada essa de receber prémios. Levei todos os boletins e entrei no café. Primeiro gesto: comecei a esfregar as mãos. Sentia-as frias, bem como os pés. O tempo estava ventoso, desagradável.
Houve logo problemas quando comecei a assinar os cheques. A letra era miúda e vacilante, como se não tivesse força na mão. Ao terceiro ou quarto cheque senti grande dificuldade em assinar. A mão tremia, a nuca tremia. Sentia um bloqueio, principalmente quando chegava ao segundo nome. Depois, a dona do café não ajudava. Era muito lenta a procurar os cheques. O quarto cheque foi ainda mais difícil de assinar. A meio do nome a mão tremeu mais e quase que não consegui continuar. Não tinha força. Não tinha força na mão direita. A nuca continuava a tremer. Creio que todo eu tremia. Fiquei inoperante ao quinto cheque. A dona do café dera conta e parecia algo preocupada comigo.
Era tudo muito estranho, porque, apesar do bloqueio, estava consciente e não me escapava o mínimo pormenor, comigo e à minha volta.
Assinou-me o resto dos cheques e eu desculpei-me que estava com gripe. Depois apareceu o marido. Ficou também preocupado. Estava a acontecer algo muito grave. Lembrava-me um romance de ficção científica. Os Possuídos. Era isso. Ficara possuído sei lá por quem!
Cheguei a casa a tremer. As forças faltavam-me. Fui à casa de banho várias vezes para olhar o meu rosto ao espelho. Queria ter a certeza que era eu. A imagem que via reflectida era sempre a mesma. Um rosto em pânico, alucinado e a sensação estranha que me colocava numa encruzilhada. Ou estava a enlouquecer, ou destapava inconscientemente naquele momento mais uma cortina.
Fiz tudo para reagir, mas a outra força era maior. Tomei meio comprimido de xanax. Gritei então qualquer coisa como se havia alguém presente, que esse alguém se manifestasse.
Deitei-me em cima da cama. Tremia muito. Sentia-me em pânico. Completamente descontrolado. Gritei por duas ou três:
«Que querem de mim?»
Desafiava uma força que não via nem ouvia. Mesmo em pânico tentava desafiar o invisível. Não estava sozinho. Tinha a certeza. Mas tive como resposta o silêncio. Um silêncio absoluto que ainda me gelou mais. Continuava a tremer e não tinha força nas mãos. Queria convencer-me que tudo não passava de ilusão.
Sem saber podia estar sob o efeito de um alucinogénio!
Peguei, sem esforço, na telefonia grande. Afinal tinha força.
Mas... e o frio que sentia nas mãos e no resto do corpo?
Delirava. De certeza que delirava. Começava a duvidar da minha sanidade mental.
«Vai ter uma doença grave.» Disse a Verónica uma vez.
Lembrei-me da Lara. Talvez me fizesse bem escrever. De certeza que baixava a enorme tensão em que estava mergulhado. Sim. Era um paliativo escrever ao acaso.
Dei conta que as ideias moravam longe. Esforcei-me. Escrever ao acaso. Era isso. Deixar a imaginação soltar-se, livre como o vento.
Aos poucos, as frases foram tomando nexo e acabei por estabelecer um fio condutor entre o subconsciente e a fluência das palavras. Sobretudo queria compreender o que me estava acontecendo. As palavras que escrevia eram de um Mário mais temerário do que o outro que se apossara de mim. Constituíam um desafio ao outro lado, mas ainda não estava preparado. Por um lado, desafiava; por outro rejeitava.
Fez-me bem. Os pensamentos estavam, de novo, coerentes. Já não havia pesadelo. A tempestade interior abrandara. Não sabia se tudo não passara de pura alucinação ou se fora um fenómeno paranormal. Tentei compreender o porquê da alteração psicológica que tinha começado em Lisboa.
Teria alguém entrado?
Quando ela voltou, insisti nas gaivotas.
«Eram pombos...» Teimou.
Retorqui que me pareceram gaivotas.
(Mais tarde confirmei que eram gaivotas.)
«Vemos sempre coisas diferentes.»
Por isso mesmo a nossa relação valia o que valia!
Que aconteceu comigo?
Éramos dois?
Quem invadiu o meu cérebro e depois desapareceu, sem deixar rasto?
Não saí depois do jantar e deitei-me logo na cama.
«Não vais tu, mas vou eu.»
E foi para o café ter com o grupo.
Muito curioso aquele seu interesse pelo meu estado de saúde!
Ainda assisti ao sorteio do totoloto e tive um terceiro prémio. Foi bom. Éramos vários sócios. Talvez dez. Mas foi bom, apesar de tudo. Moralizou a sociedade.
Adormeci quase a seguir ao sorteio.
Estávamos sentados a assistir a um espectáculo. Lembro-me que fiquei do lado esquerdo. Havia uma música de fundo que parecia servir de acompanhamento para as imagens, ou então indicava a passagem para uma cena nova. Não me lembro do tema. Parecia mais teatro que filme.
A música começou a ter efeitos especiais. Sim. Algo de intrigante ia acontecer. Ficámos à espera. Ao mesmo tempo, abria-se, lentamente, uma porta. Negativo. Já não havia imagens. A porta deslocava-se da esquerda para a direita. Primeiro, lentamente. Depois, aumentou a velocidade e a música de fundo subiu de volume. Suspense! Não sabia o que ia acontecer a seguir. E a porta continuava a deslocar-se, a deslocar-se. Cada vez mais depressa. E eu impotente. Ia acontecer qualquer coisa de grave! E eu ansioso. Cada vez mais ansioso e afastado do centro do poder.
O que estava para lá da porta?
A minha companheira pareceu responder à pergunta muda que fiz. Levantou-se (nesse momento estava atrás de mim...) e encaminhou-se para a porta. Nada podia fazer. Vi-a passar para o outro lado. Vestia um saia-casaco castanho. Continuou a andar, sempre em frente, sempre em frente... até que deixei de a ver. Sumiu-se como o fumo.
Que fazer neste caso?
Acordar...
Aquilo veio e desapareceu. Sem deixar rasto. Mas não desapareceu para sempre. Três meses mais tarde tive os mesmos sintomas com a agravante de serem reforçados pela a estranha visão da mulher de vermelho...
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