Esta história tem alguns anos. Entretanto a situação económica do país modificou-se para melhor, é o que penso. Mas na minha cidade que já foi vila…?
Na foto à esquerda, no cimo das escadas, contava histórias aos meus amigos...
Seis da tarde. Já é noite. Isto parece um absurdo, mas de facto já é noite.
Na cidade, as ruas estão mais adormecidas do que quando era manhã, tarde, fim de tarde. Mas pouca diferença faz. E entristece-me. Não a diferença entre a passagem do dia para a noite que se fez sempre em transição, com nuances, minuto a minuto, segundo a segundo. Sim o deserto em que a minha vila de ontem se transformou. Penso que a culpa é de se ter transformado num dormitório de Lisboa, a seguir do aparecimento da televisão e do envelhecimento dos naturais de sempre, também da lenta morte do comércio, tão florescente nos meus tempos de menino e moço e da ausência de indústria. Mas há mais causas.
Há uns tempos tive a triste ideia de abrir uma loja de colecionismo e artigos em segunda mão. As coisas correram razoavelmente nos seis primeiros meses. Vendia bem. Era novidade, tinha bons artigos, ou porque quer que fosse e isso. Assim, pensei que ia resultar. Sempre ajudava para as despesas extraordinárias.
No Natal as ruas comerciais cobriram-se de passadeiras vermelhas que, por sinal, até contribuíram para umas "boas" quedas e uma consequente visita ao hospital (a propósito este foi um dos que perdeu várias valências no tempo da "troika", não é o que dizem? Bom, talvez esteja a sonhar). Quanto à ornamentação tradicional, instalada com o fim de ajudar o comércio, passou quase despercebida, mas não importa… custou uma pipa de massa. Por sinal repetiu-se este ano e foi compensada com o investimento por "ajuste direto" numa árvore de Natal muito "barata" (baratas são carochas e o sol não se tapa com uma peneira), feita à base de material reciclado, incluindo os pregos ferrugentos que foram endireitados com algumas marteladas. Árvore amiga da Mãe Natureza e mais amiga ainda dos seus mentores, dinastia e apêndices. Mas adiante.
Estava a falar das passadeiras vermelhas. Estas deixaram-me muito triste, não por serem vermelhas. Então...? Pois, a verdade é que a minha rua não teve direito nesse ano a passadeira. Feitas as contas, as lojas eram só cinco: a minha, a do sapateiro, do dono do café, da frutaria e de outro café que cujos frequentadores detestam o vermelho. Se calhar foi por isso; mas talvez não, porque este ano houve uma prenda de passadeira vermelha para a rua. Mas entretanto já tinha desistido de esperar por quem não prometeu vir!
Na altura fiquei deveras intrigado por não haver passadeira vermelha. Porque seria. Porque não seria. Nada de interrogações. Apenas dúvidas. Pelo sim pelo não, dúvidas. A seguir é que vieram as interrogações.
A compra feita por "ajuste direto" não deu para tudo e então sortearam uma rua onde faltaria a passadeira, calhando logo a minha?
Não me parecia.
Seria que os "patrões da cidade" não gostavam de um ou mais dos comerciantes? Há anúncios em algumas lojas que apontam nesse sentido. Não quero ir por aí, mas, provavelmente, devia ir. Hum! Decidi de vez, com reticências. Também não me parecia. Até nem era conhecido, apesar de ter nascido nesta cidade, e já lá iam muitos anos...
Era isso! A rua não existia. Quem passava por ela pensava que estava a atravessar o deserto. Nitidamente um deserto abandonado ao seu destino.
Não era possível ter acontecido numa das ruas com comércio florescente nos tempos em que a cidade era uma vila. Talvez houvesse uma explicação. Peço ajuda. Ah sim. Talvez tenham razão. A rua não existia para o comércio porque... Era apenas um atalho (e antes?) para o centro, onde, um formigueiro incansável, entrava e saía das lojas, comprava tudo e mais alguma coisa sem qualquer hesitação, consumia até dizer basta, tal como previu o ministro das Finanças que afinal errou a pontaria e teve sorte porque o turismo cresceu, bem como o imposto sobre os combustíveis e tudo o mais, para não falar nas cativações. Mas isso é outra história que o Governo não sabe contar melhor e que alguém contará melhor um dia e com todos os detalhes. Sem diabos. Bom, entusiasmei-me e caí em delírio.
Isto tudo para dizer amargamente que hoje o comércio, florescente no passado, está numa agonia profunda que pode ser irreversível se não forem tomadas medidas de fundo.
Mas já voltarei à minha cidade de hoje. Como diria, um alentejano de gema, "vou ao Romualdo beber um carapulo e já volto...".
Peço licença...
Na minha cidade, ontem vila, onde já fui feliz em criança, como todas as crianças de então, joguei ao berlinde, à carica, ao pião (muito pouco porque fui sempre um péssimo jogador) à caganita e às escondidas e muitos outros jogos da época. Cresci, juntei as primeiras letras na mestra, onde fui colega do incrível "Conto e Quinhentos" e aprendi a contar, saltei muros, fui picado pelas abelhas e guerreei à espadeirada com outros bairros, fui goleador no jogo da bola realizado num pátio de reduzidas dimensões, estudei nas escolas municipais, brinquei com os meus amigos tudo a que tive direito para brincar, tive os primeiros casos amorosos, todos fracassados, bebi as primeiras bicas com cheirinho no café onde me reunia com os meus colegas e amigos aos fins de semana, comi pão com chouriço assado e bebi vinho tinto nas adegas, onde não faltou o fado que ouvi e também cantei, particularmente o fado de Coimbra, embora tivesse cursado em Lisboa. Em boa verdade, fui feliz na minha vila de ontem.
Enfim, na minha cidade, ontem vila, sentia-me em segurança no dia a dia que passava. E quando falo de segurança não estou só a pensar na quase ausência de roubos e situações fora de controle, pois que também os havia e as havia.
Feito o introito (e ficou muito por dizer), então vou referir-me a outra coisa que tem a ver com o que escrevi no início, e que me faz entristecer. Uma, não. Talvez duas.
Acontecia no verão. À noite, depois do jantar, as ruas enchiam-se de ruído e de gente que, pura e simplesmente, passeava ao longo da avenida até à estação do caminho de ferro e vice-versa, detinha-se aqui e ali para curtos diálogos entre amigos e conhecidos, ouvia, uma vez por semana, o concerto da banda filarmónica especializada em marchas e trechos de música clássica.
Eu era uma das muitas pessoas que gastavam as solas de couro dos sapatos nestas andanças costumeiras, mas, como jovem que era, tinha um plano de viagem menos limitado e assim percorria indiscriminadamente as ruas da vila, umas vezes tentando sair da monotonia das habituais caminhadas, outras vezes porque um "rabo de saias" assim o impunha.
«Cuidado, Mário, se dizes que ela está a olhar para ti de uma forma especial, pode não ser como julgas. Deixa correr mais algum tempo e só depois avanças, está bem?»
«Mas... quem és tu, Ernesto de uma figa, para me dares conselhos desses?»
Tinha razão. O meu amigo Ernesto, invisível desde os primeiros de criança, não era nada. Talvez fosse a voz da minha consciência. Ou talvez um pouco mais. Alguém que me ensinou a ser o "Mário Contador de Histórias". Não sei se este foi o maior disparate da minha vida, não tendo em conta dois momentos de desvio do destino que foram ruins, mesmo muito ruins. Mas como não sou uma pessoa daquelas importantes para merecer um julgamento, então ponto final. Em boa verdade sinto-me um estranho numa terra estranha que é a terra que me viu nascer. E isso magoa-me. Vou morrer sem pespegarem o meu nome numa rua. Ah! Ah! Que pena tenho!
Se é que essa terra existe. Existe mesmo?
«Todos ao mesmo tempo: existe mesmo?»
E é este o momento oportuno para sorrir. Gosto de mistérios.
Continuando, havia as festas da vila, onde vinham em primeiro plano o Carnaval e a feira tradicional de junho. Só depois o dia do feriado municipal.
O Carnaval tinha fama, mas detestava mascarar-me e participar mascarado nos tradicionais "assaltos" que terminavam sempre em frente de uma mesa bem posta e com algumas armadilhas, como os inesperados pastéis de bacalhau salgados maquiavelicamente, ou rissóis recheados com algodão em rama, coisa menos bárbara. Nunca consegui explicar a mim próprio o porquê desta antipatia pelo Carnaval. Só desejava que passasse depressa.
A feira de junho, essa sim, tinha-a no coração. Não faltava uma noite, apesar do aperto com a proximidade dos exames. Mas lá conseguia gerir o tempo, embora, por vezes, com um ou outro sobressalto. Tudo me encantava. Os carrosséis ("mais uma voltareta para a menina Julieta!" - longe vá o agoiro! Logo tu, Julieta?) tinham um lugar importante nas minhas preferências. As viagens nas "montanhas" do carrossel "A Selva" começavam ao preço de um escudo, baixando dias depois para cinco tostões, e baixavam porque acontecia a armadilha "grátis às damas" que conduziam ao descalabro financeiro de muitos, incluindo eu, claro. Já sem reservas financeiras, não tinha outro remédio senão ver andar à borla a eleita desse ano, sem margem para me aproximar dela e poder usar a "canção do bandido" num momento único como aquele.
Quem me mandou ser arrastado na voracidade das "montanhas" daquele carrossel que me atraia, entre tábuas, para o centro da rotação onde a força centrífuga quase se anulava, de pé, tentando equilibrar-me, sem "rede", sob as vistas da Julieta (outra vez tu?) daquela noite que, pensava, muito apreciava a audácia com que me expunha ao perigo?
Mais uma viagem, mais uma corrida... e menos dez tostões!
Seguiam-se as corridas nas pistas de automóveis, o jogo da vida dos motociclistas no poço da morte, as barracas de "comes e bebes", as barracas de tiro ao alvo (vai um "tirinho", ó freguês?) onde não faltavam os "romeus" que se encostavam às marmanjas que, por sua vez, encostavam ao canto as espingardas de pressão de ar. E também os clássicos matraquilhos onde me especializei ao ataque, voltando a encontrar-me mais tarde com eles na Associação da Faculdade de Ciências. Depois, noutra secção, havia ainda as farturas e o torrão, as rifas de tachos, panelas e afins, os propagandistas da "banha da cobra", as vendas de peças de vestuário, como cobertores e lençóis e os mais diversos artigos que faziam concorrência ao comércio da vila, que, diga-se, até era saudável pois provocavam uma baixa temporária de preços. Aliás, não notava qualquer diferença na afluência de clientela nas principais casas de comércio da vila. Antes pelo contrário, parecia-me.
E ainda os inevitáveis fantoches (robertos) que faziam as minhas delícias e que não se esbateram com o correr dos anos.
Das touradas não falo. Não sou aficionado. Nem contra. Que se deixe arrastar a luta sem fim à vista entre aficionados e contras.
Já me esquecia. O circo. A atração fatal pelo perigo (que é feito de ti, menina do circo?). O trapézio. Os equilibristas. A emoção sempre presente e eu quase agoirando um passo em falso, uma pirueta imperfeita. Os jogos à bola entre duas equipas de cães. A elegância e habilidades dos cavalos. E, em apoteose, os palhaços. Muita criatividade e execução musical de qualidade.
Não me posso esquecer dos ciganos. Sem ciganos não se fazia uma feira como a da minha vila. É impossível esquecer os ajuntamentos dos ciganos, empurrados para os lados do fim da feira, onde se faziam os célebres e incríveis negócios de asnos, cavalos e afins, muitas vezes culminando com "asnos" conduzindo asnos pela arreata. Esses ajuntamentos às vezes, pelas mais diversas razões, davam origem a discussões que, levadas ao extremo, metiam na contenda armas brancas e tripas ao sol ou ao luar. Ouvi contar e vi, à porta da pequena loja do meu pai. Um sarilho do caraças que culminava em idas ao posto da polícia e, mais tarde, ao tribunal, se o agressor não se tivesse entretanto posto a milhas.
Vem-me à memória esse dia em que fazia exercícios de aritmética na loja do meu pai. Provavelmente a minha mãe tinha-me mandado de castigo para a loja, coisa que mais odiava. Ao fundo havia uma mesinha verde, redonda, e eu sentado num banco, à volta de um problema que se resolvia com uma divisão ou uma multiplicação. Estava naquele dilema quando ouvi vozes exaltadas no exterior. Larguei o caderno e o lápis e levantei-me. Foi superior às minhas forças. Junto à porta assisti a tudo. Aos gritos exaltados dos ciganos e aos esgares teatrais das ciganas carpideiras. Ao desfilar de um cortejo de uma dúzia de pessoas em direção à esquadra da polícia. E sobretudo, a um trio dianteiro que tinha como figura principal alguém que comprimia a barriga com as duas mãos ensanguentadas e que mostrava no rosto um esgar de dor. Morreu? Não sei. Era criança. Primeiro, comovi-me. A seguir, esqueci e continuei a fazer os meus deveres da escola.
Mas, tudo bem. Felizmente que essas contendas, quase sempre ligadas a tribos rivais, eram raras. Mais interessante é lembrar as danças e cantares que organizavam de forma espontânea e provocavam ajuntamentos de curiosos que não arredavam pé, agradados com o espetáculo a que assistiam. Homens batendo compassadamente as mãos e cantando, mulheres dançando com salero, fazendo rodar as suas saias compridas de cores garridas,
E, falando de bailes, mas saindo da feira de junho... em datas festivas, os bailes nas duas coletividades da vila, frequentadas por estratos sociais bem diferenciados (eu frequentava as duas), abrilhantados normalmente por mais que uma orquestra, sendo a espanhola a que eu apreciava mais, principalmente pela espetacularidade dos seus instrumentos de sopro.
Para culminar o fim da feira. O desmontar das barracas, carrocéis e tudo mais. Um sinal de "até para o ano" que me causava muita tristeza.
No sítio onde tinham estado as barracas de "comes e bebes" procurava vestígios que considerava de extrema importância. Caricas das gasosas e laranjadas e berlindes branco-baço dos pirolitos que estoiravam com o excesso de pressão do gás carbónico que dava ao líquido açucarado um toque picante.
Era a minha época (e dos meus amigos) da volta a Portugal em bicicleta que seria reproduzida em miniatura nas estradas traçadas a giz e em que as caricas simbolizavam os ciclistas. No fim das etapas fazíamos as classificações e tudo mais.
Não me esqueço de falar do futebol, o meu desporto de eleição desde os tenros anos. Lembro-me como se fosse ontem. Aos domingos, quando o nosso clube de eleição jogava em casa, saía com o meu pai logo a seguir ao almoço.
Pouco passava das duas. Era cedo para o jogo que começava às três e precisávamos de ocupar aqueles três quartos de hora. O percurso era do costume. Tendo já ultrapassado os limites do jardim do "mamarracho" e descido a estrada nacional onde se realizavam na época própria as não sei quantas voltas ciclísticas à vila com os atletas mais conceituados, seguimos até ao passeio marginado pelo gradeamento pintado de amarelo e branco, detendo-nos em frente a uma cervejaria onde, no interior e nas proximidades, se concentrava um magote de gente que também fazia horas para a bola. Aí assistíamos ao filme do costume, por sinal protagonizado pelo homem que passava os filmes no cinema da terra e um corvo ladrão como todos os corvos que se prezavam. Alguém atirava uma moeda de tostão para a redondela de terra batida que circundava uma árvore, mesmo nas "barbas" do corvo, que ficava impassível. Era tal qual o elefante do Jardim Zoológico que só tocava o sino quando lhe davam uma moeda de alpaca.
«Já viste a esperteza do bicho?»
«Quem lhe ensinou, pai?»
E eis senão quando atiravam uma moeda de cinco tostões. O corvo saltitava na direção da moeda, cavava um pequeno buraco no chão, agarrava a moeda com o bico e, ato contínuo, enterrava-a na terra.
«Pai, aquele homem da voz estranha também se chama corvo?»
Tinha uma voz gutural, quase agressiva, que achava esquisita.
«É alcunha, Mário.»
«E o corvo é dele?»
Pergunta que não fiz.
Entretanto chegava a hora do jogo.
«Dificuldade!» pensava.
Era uma tragédia entrar sem pagar bilhete. Mas como ia com o meu pai, mesmo já com idade para não ter direito a uma borla, o problema ficava resolvido. Um porteiro amigo do meu pai ficava frente a frente connosco e pronto. Lugar na bancada, lá do alto, e oportunidade de sentir chegar o momento das grandes emoções.
Já o mesmo acontecia no cinema. Eu e uns tantos da minha idade ficávamos ajoelhados a assistir ao filme, apoiando-nos num muro baixo encimado em madeira que separava a primeira plateia do palco que tinha no fundo o écran.
Tempos difíceis para os nossos pais quando o dinheiro não abundava. A juventude de hoje devia saber destes problemas que não eram pequenos. Talvez o seu egoísmo pudesse ser rebaixado.
Finalmente, e esqueci-me de certeza de um ou outro divertimento, devo perder um pouco de tempo a lembrar as romarias às aldeias mais próximas que metiam bailaricos e namoros de ocasião, namoros esses que, normalmente, começavam e acabavam no mesmo dia, para grande desgosto da moçoilas e indiferença daqueles que só viam na ida à festa um motivo de distração. Distrações, diga-se, sem exagerar, que arrasavam corações ingénuos.
E pronto, voltemos a página...
Hoje, que as engrenagens do tempo fizeram o seu serviço rotineiro, o que temos na cidade que ontem foi vila?
Bom, no verão passado (porque agora é inverno), uma vez por outra dei as minhas voltas pela cidade, quando a temperatura do ar o permitia. Quedemo-nos na noite. É importante falar das noites mornas da cidade quando era vila.
Longe vão os tempos dos passeios movimentados quando ainda não havia televisão e os relatos do campeonatos de hóquei em patins eram o cartaz principal. Era obrigatório torcer pela seleção de hóquei já que a de futebol estava associada aos nove a zero sofridos contra a Inglaterra. Ainda não tinha chegado o tempo dos nossos celebérrimos magriços.
Nem vale a pena perder tempo. Passear à noite em pleno verão é o mesmo que passear no deserto. As noites continuam tépidas, mas as pessoas já não respondem à chamada. As solicitações são outras.
A feira ainda se realiza em junho, mas o que vemos?
Pavilhões. Automóveis e tratores para venda. Alfaias agrícolas. Outra vez pavilhões e publicidade a tudo e mais alguma coisa. Roupa. Sempre roupa. Contrafeita e não contrafeita. Domínio quase absoluto dos ciganos que já não negoceiam com asnos. ASAE ausente. Proteção quase absurda que vem do alto e sei porquê. Burburinho. Falso alarme. Mistério. A ASAE não entra naquele reduto, tal como acontece nos casinos (sabiam que nos casinos...?).
Continua a haver um recinto de diversões, mas com um movimento muito aquém daquele que existia nos meus tempos de menino e moço. Já não são os carrosséis e as pistas de automóveis que dominam. O poço da morte nem vê-lo. Morreu mesmo. Nem o pavilhão de fantoches ou robertos que tanto me encantavam. Muito menos as barracas "vai um tirinho, ó simpático?". Proliferam diversões perigosas que levam ao extremo a adrenalina. A área ocupada pela feira duplicou, mas mão é sinal da qualidade que me habituei a avaliar noutros tempos. portanto, o interesse diminuiu.
E a concorrência das bancas de vendas feita ao comércio local?
Não existe. Não existe porque o comércio está moribundo. A minha cidade que já foi vila apenas sobrevive. As grandes superfícies estão quase a dar o golpe de misericórdia.
Não entremos na trama engenhosa da política e nas obras feitas à boca das eleições. Não tenho nada a ver com a política, nem nunca tive. No tempo do ditador também não fui político. A minha política era o estudo e o trabalho. Mais tarde, só o trabalho e a dedicação à nobre arte de ensinar. A profissão dos políticos é a política. Não fazem outra coisa senão política. Morrem se saírem da política. Não os desdenho nem os invejo. Só desejo que sejam coerentes. Que ponham os seus interesses abaixo dos interesses da coletividade.
Então quem nos arrastou para este pântano?
Se não foram os políticos, alguém foi. Frio, como a pedra do rio. Quente, a aquecer. Pronto, não digo. Alguém foi.
Porque permitiram que vieram a fraude, a corrupção e a lavagem de dinheiro?
Será que tudo está ligado por um fio invisível?
Não entremos também na falta de apoio ao comércio a precisar de um volumoso balão de oxigénio. Há muita coisa suja pelo meio a precisar de uma limpeza daquelas como nunca houve. Stop! Não entremos sequer nas obras de "ajuste direto" que se dirigem à empresa certa. Nem nos oportunistas "inocentes", muitos dos quais conhecemos e não conhecemos porque nunca há provas, ou então o prazo prescreveu, que singraram à custa das golpadas, da corrupção e da lavagem de dinheiro, a tal que nada tem a ver com o "povo que lavas no rio".
Voltando à vida noturna, ao fim de semana, quer haja frio ou calor, a cidade enche-se de jovens mas pelo pior motivo. Procuram os bares e discotecas que prosperam mesmo em tempos de crise. E em relação direta com eles estão as drogas, lícitas ou ilícitas. Os jovens, causticados por um desemprego crescente, principalmente os que procuram o primeiro emprego, deixam-se arrastar por um fatalismo do tipo "deixa arder", mas mesmo assim as discotecas e os bares continuam a abarrotar (não entram aqui todos, entenda-se), com os proprietários e o Estado (cobrador até ao último cêntimo, qualquer dia nem que seja do ar que se respira e, ao mesmo tempo, herdeiro dos bens deixados por aquele que morre) a retirarem os seus benefícios.
De onde vem o dinheiro desses jovens? Se não vem dos pais, então roubam. Definitivamente, dos pais.
Ainda outros jovens, mais resistentes e lutadores, deixam o país e buscam, lá fora, o futuro que cada vez está mais distante. Longe vão os tempos saudáveis. Hoje, a minha cidade está atacada por um vírus que a sufoca lentamente, enquanto que a Europa, envelhecida, não está melhor porque tem uma constipação crónica.
Os apoios do Estado estão em falência, dizem. Mas não falta o dinheiro para cobrir os buracos "cavados" pelos bancos que somam imparidades a seguir a imparidades. As operações bancárias são importantes para apoiarem as empresas, de preferência as pequenas e médias. Mas as ditas cujas imparidades vêm, sem dúvida, percentualmente mais da soma das grandes empresas com os "grandes nomes". A especulação e os juros atraentes são o caminho mais fácil dos gestores para atingirem a meta. E as alcavalas (não deve ler-se imposto antigo) destes, responsáveis por grandes negócios suicidas, são um el dorado dada vez mais apetecível. E vale a pena correr o risco. A nossa Justiça está como está. Uma justiça que funciona quase sempre fora de prazo, para bom entendedor.
Agora podia dar a volta pela Educação, Economia, Saúde, Novo Banco, CGD (saga do "esconde-esconde"), etc, etc. Não é a minha especialidade, ou não me apetece, ou há quem o faça bem, ou porque estou a falar da minha cidade que já foi vila e já falei do que queria falar.
Chego ao fim. Desabafei. E tudo mais.
Quem me mandou ser arrastado na voracidade das "montanhas" daquele carrossel que me atraia, entre tábuas, para o centro da rotação onde a força centrífuga quase se anulava, de pé, tentando equilibrar-me, sem "rede", sob as vistas da Julieta (outra vez tu?) daquela noite que, pensava, muito apreciava a audácia com que me expunha ao perigo?
Mais uma viagem, mais uma corrida... e menos dez tostões!
Seguiam-se as corridas nas pistas de automóveis, o jogo da vida dos motociclistas no poço da morte, as barracas de "comes e bebes", as barracas de tiro ao alvo (vai um "tirinho", ó freguês?) onde não faltavam os "romeus" que se encostavam às marmanjas que, por sua vez, encostavam ao canto as espingardas de pressão de ar. E também os clássicos matraquilhos onde me especializei ao ataque, voltando a encontrar-me mais tarde com eles na Associação da Faculdade de Ciências. Depois, noutra secção, havia ainda as farturas e o torrão, as rifas de tachos, panelas e afins, os propagandistas da "banha da cobra", as vendas de peças de vestuário, como cobertores e lençóis e os mais diversos artigos que faziam concorrência ao comércio da vila, que, diga-se, até era saudável pois provocavam uma baixa temporária de preços. Aliás, não notava qualquer diferença na afluência de clientela nas principais casas de comércio da vila. Antes pelo contrário, parecia-me.
E ainda os inevitáveis fantoches (robertos) que faziam as minhas delícias e que não se esbateram com o correr dos anos.
Das touradas não falo. Não sou aficionado. Nem contra. Que se deixe arrastar a luta sem fim à vista entre aficionados e contras.
Já me esquecia. O circo. A atração fatal pelo perigo (que é feito de ti, menina do circo?). O trapézio. Os equilibristas. A emoção sempre presente e eu quase agoirando um passo em falso, uma pirueta imperfeita. Os jogos à bola entre duas equipas de cães. A elegância e habilidades dos cavalos. E, em apoteose, os palhaços. Muita criatividade e execução musical de qualidade.
Não me posso esquecer dos ciganos. Sem ciganos não se fazia uma feira como a da minha vila. É impossível esquecer os ajuntamentos dos ciganos, empurrados para os lados do fim da feira, onde se faziam os célebres e incríveis negócios de asnos, cavalos e afins, muitas vezes culminando com "asnos" conduzindo asnos pela arreata. Esses ajuntamentos às vezes, pelas mais diversas razões, davam origem a discussões que, levadas ao extremo, metiam na contenda armas brancas e tripas ao sol ou ao luar. Ouvi contar e vi, à porta da pequena loja do meu pai. Um sarilho do caraças que culminava em idas ao posto da polícia e, mais tarde, ao tribunal, se o agressor não se tivesse entretanto posto a milhas.
Vem-me à memória esse dia em que fazia exercícios de aritmética na loja do meu pai. Provavelmente a minha mãe tinha-me mandado de castigo para a loja, coisa que mais odiava. Ao fundo havia uma mesinha verde, redonda, e eu sentado num banco, à volta de um problema que se resolvia com uma divisão ou uma multiplicação. Estava naquele dilema quando ouvi vozes exaltadas no exterior. Larguei o caderno e o lápis e levantei-me. Foi superior às minhas forças. Junto à porta assisti a tudo. Aos gritos exaltados dos ciganos e aos esgares teatrais das ciganas carpideiras. Ao desfilar de um cortejo de uma dúzia de pessoas em direção à esquadra da polícia. E sobretudo, a um trio dianteiro que tinha como figura principal alguém que comprimia a barriga com as duas mãos ensanguentadas e que mostrava no rosto um esgar de dor. Morreu? Não sei. Era criança. Primeiro, comovi-me. A seguir, esqueci e continuei a fazer os meus deveres da escola.
Mas, tudo bem. Felizmente que essas contendas, quase sempre ligadas a tribos rivais, eram raras. Mais interessante é lembrar as danças e cantares que organizavam de forma espontânea e provocavam ajuntamentos de curiosos que não arredavam pé, agradados com o espetáculo a que assistiam. Homens batendo compassadamente as mãos e cantando, mulheres dançando com salero, fazendo rodar as suas saias compridas de cores garridas,
E, falando de bailes, mas saindo da feira de junho... em datas festivas, os bailes nas duas coletividades da vila, frequentadas por estratos sociais bem diferenciados (eu frequentava as duas), abrilhantados normalmente por mais que uma orquestra, sendo a espanhola a que eu apreciava mais, principalmente pela espetacularidade dos seus instrumentos de sopro.
Para culminar o fim da feira. O desmontar das barracas, carrocéis e tudo mais. Um sinal de "até para o ano" que me causava muita tristeza.
No sítio onde tinham estado as barracas de "comes e bebes" procurava vestígios que considerava de extrema importância. Caricas das gasosas e laranjadas e berlindes branco-baço dos pirolitos que estoiravam com o excesso de pressão do gás carbónico que dava ao líquido açucarado um toque picante.
Era a minha época (e dos meus amigos) da volta a Portugal em bicicleta que seria reproduzida em miniatura nas estradas traçadas a giz e em que as caricas simbolizavam os ciclistas. No fim das etapas fazíamos as classificações e tudo mais.
Não me esqueço de falar do futebol, o meu desporto de eleição desde os tenros anos. Lembro-me como se fosse ontem. Aos domingos, quando o nosso clube de eleição jogava em casa, saía com o meu pai logo a seguir ao almoço.
Pouco passava das duas. Era cedo para o jogo que começava às três e precisávamos de ocupar aqueles três quartos de hora. O percurso era do costume. Tendo já ultrapassado os limites do jardim do "mamarracho" e descido a estrada nacional onde se realizavam na época própria as não sei quantas voltas ciclísticas à vila com os atletas mais conceituados, seguimos até ao passeio marginado pelo gradeamento pintado de amarelo e branco, detendo-nos em frente a uma cervejaria onde, no interior e nas proximidades, se concentrava um magote de gente que também fazia horas para a bola. Aí assistíamos ao filme do costume, por sinal protagonizado pelo homem que passava os filmes no cinema da terra e um corvo ladrão como todos os corvos que se prezavam. Alguém atirava uma moeda de tostão para a redondela de terra batida que circundava uma árvore, mesmo nas "barbas" do corvo, que ficava impassível. Era tal qual o elefante do Jardim Zoológico que só tocava o sino quando lhe davam uma moeda de alpaca.
«Já viste a esperteza do bicho?»
«Quem lhe ensinou, pai?»
E eis senão quando atiravam uma moeda de cinco tostões. O corvo saltitava na direção da moeda, cavava um pequeno buraco no chão, agarrava a moeda com o bico e, ato contínuo, enterrava-a na terra.
«Pai, aquele homem da voz estranha também se chama corvo?»
Tinha uma voz gutural, quase agressiva, que achava esquisita.
«É alcunha, Mário.»
«E o corvo é dele?»
Pergunta que não fiz.
Entretanto chegava a hora do jogo.
«Dificuldade!» pensava.
Era uma tragédia entrar sem pagar bilhete. Mas como ia com o meu pai, mesmo já com idade para não ter direito a uma borla, o problema ficava resolvido. Um porteiro amigo do meu pai ficava frente a frente connosco e pronto. Lugar na bancada, lá do alto, e oportunidade de sentir chegar o momento das grandes emoções.
Já o mesmo acontecia no cinema. Eu e uns tantos da minha idade ficávamos ajoelhados a assistir ao filme, apoiando-nos num muro baixo encimado em madeira que separava a primeira plateia do palco que tinha no fundo o écran.
Tempos difíceis para os nossos pais quando o dinheiro não abundava. A juventude de hoje devia saber destes problemas que não eram pequenos. Talvez o seu egoísmo pudesse ser rebaixado.
Finalmente, e esqueci-me de certeza de um ou outro divertimento, devo perder um pouco de tempo a lembrar as romarias às aldeias mais próximas que metiam bailaricos e namoros de ocasião, namoros esses que, normalmente, começavam e acabavam no mesmo dia, para grande desgosto da moçoilas e indiferença daqueles que só viam na ida à festa um motivo de distração. Distrações, diga-se, sem exagerar, que arrasavam corações ingénuos.
E pronto, voltemos a página...
Hoje, que as engrenagens do tempo fizeram o seu serviço rotineiro, o que temos na cidade que ontem foi vila?
Bom, no verão passado (porque agora é inverno), uma vez por outra dei as minhas voltas pela cidade, quando a temperatura do ar o permitia. Quedemo-nos na noite. É importante falar das noites mornas da cidade quando era vila.
Longe vão os tempos dos passeios movimentados quando ainda não havia televisão e os relatos do campeonatos de hóquei em patins eram o cartaz principal. Era obrigatório torcer pela seleção de hóquei já que a de futebol estava associada aos nove a zero sofridos contra a Inglaterra. Ainda não tinha chegado o tempo dos nossos celebérrimos magriços.
Nem vale a pena perder tempo. Passear à noite em pleno verão é o mesmo que passear no deserto. As noites continuam tépidas, mas as pessoas já não respondem à chamada. As solicitações são outras.
A feira ainda se realiza em junho, mas o que vemos?
Pavilhões. Automóveis e tratores para venda. Alfaias agrícolas. Outra vez pavilhões e publicidade a tudo e mais alguma coisa. Roupa. Sempre roupa. Contrafeita e não contrafeita. Domínio quase absoluto dos ciganos que já não negoceiam com asnos. ASAE ausente. Proteção quase absurda que vem do alto e sei porquê. Burburinho. Falso alarme. Mistério. A ASAE não entra naquele reduto, tal como acontece nos casinos (sabiam que nos casinos...?).
Continua a haver um recinto de diversões, mas com um movimento muito aquém daquele que existia nos meus tempos de menino e moço. Já não são os carrosséis e as pistas de automóveis que dominam. O poço da morte nem vê-lo. Morreu mesmo. Nem o pavilhão de fantoches ou robertos que tanto me encantavam. Muito menos as barracas "vai um tirinho, ó simpático?". Proliferam diversões perigosas que levam ao extremo a adrenalina. A área ocupada pela feira duplicou, mas mão é sinal da qualidade que me habituei a avaliar noutros tempos. portanto, o interesse diminuiu.
E a concorrência das bancas de vendas feita ao comércio local?
Não existe. Não existe porque o comércio está moribundo. A minha cidade que já foi vila apenas sobrevive. As grandes superfícies estão quase a dar o golpe de misericórdia.
Não entremos na trama engenhosa da política e nas obras feitas à boca das eleições. Não tenho nada a ver com a política, nem nunca tive. No tempo do ditador também não fui político. A minha política era o estudo e o trabalho. Mais tarde, só o trabalho e a dedicação à nobre arte de ensinar. A profissão dos políticos é a política. Não fazem outra coisa senão política. Morrem se saírem da política. Não os desdenho nem os invejo. Só desejo que sejam coerentes. Que ponham os seus interesses abaixo dos interesses da coletividade.
Então quem nos arrastou para este pântano?
Se não foram os políticos, alguém foi. Frio, como a pedra do rio. Quente, a aquecer. Pronto, não digo. Alguém foi.
Porque permitiram que vieram a fraude, a corrupção e a lavagem de dinheiro?
Será que tudo está ligado por um fio invisível?
Não entremos também na falta de apoio ao comércio a precisar de um volumoso balão de oxigénio. Há muita coisa suja pelo meio a precisar de uma limpeza daquelas como nunca houve. Stop! Não entremos sequer nas obras de "ajuste direto" que se dirigem à empresa certa. Nem nos oportunistas "inocentes", muitos dos quais conhecemos e não conhecemos porque nunca há provas, ou então o prazo prescreveu, que singraram à custa das golpadas, da corrupção e da lavagem de dinheiro, a tal que nada tem a ver com o "povo que lavas no rio".
Voltando à vida noturna, ao fim de semana, quer haja frio ou calor, a cidade enche-se de jovens mas pelo pior motivo. Procuram os bares e discotecas que prosperam mesmo em tempos de crise. E em relação direta com eles estão as drogas, lícitas ou ilícitas. Os jovens, causticados por um desemprego crescente, principalmente os que procuram o primeiro emprego, deixam-se arrastar por um fatalismo do tipo "deixa arder", mas mesmo assim as discotecas e os bares continuam a abarrotar (não entram aqui todos, entenda-se), com os proprietários e o Estado (cobrador até ao último cêntimo, qualquer dia nem que seja do ar que se respira e, ao mesmo tempo, herdeiro dos bens deixados por aquele que morre) a retirarem os seus benefícios.
De onde vem o dinheiro desses jovens? Se não vem dos pais, então roubam. Definitivamente, dos pais.
Ainda outros jovens, mais resistentes e lutadores, deixam o país e buscam, lá fora, o futuro que cada vez está mais distante. Longe vão os tempos saudáveis. Hoje, a minha cidade está atacada por um vírus que a sufoca lentamente, enquanto que a Europa, envelhecida, não está melhor porque tem uma constipação crónica.
Os apoios do Estado estão em falência, dizem. Mas não falta o dinheiro para cobrir os buracos "cavados" pelos bancos que somam imparidades a seguir a imparidades. As operações bancárias são importantes para apoiarem as empresas, de preferência as pequenas e médias. Mas as ditas cujas imparidades vêm, sem dúvida, percentualmente mais da soma das grandes empresas com os "grandes nomes". A especulação e os juros atraentes são o caminho mais fácil dos gestores para atingirem a meta. E as alcavalas (não deve ler-se imposto antigo) destes, responsáveis por grandes negócios suicidas, são um el dorado dada vez mais apetecível. E vale a pena correr o risco. A nossa Justiça está como está. Uma justiça que funciona quase sempre fora de prazo, para bom entendedor.
Agora podia dar a volta pela Educação, Economia, Saúde, Novo Banco, CGD (saga do "esconde-esconde"), etc, etc. Não é a minha especialidade, ou não me apetece, ou há quem o faça bem, ou porque estou a falar da minha cidade que já foi vila e já falei do que queria falar.
Chego ao fim. Desabafei. E tudo mais.
Pronto, chorei a minha cidade agonizante que também pode ser, algures, a tua cidade. Oxalá não tenha sido sobre o leite derramado!
Sonho ainda com o regresso dos bons tempos. Acreditam?

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