
Tenho quase a certeza que já não vens, mas há poucos minutos disseste-me ao ouvido, num sussurro lânguido:
«Até amanhã, meu amor...»
Disseste “até amanhã” e sorriste. Tentei ler nesse sorriso provocante que sempre me embriagou e fiquei-me pela dúvida. É que esse sorriso tinha muitas leituras. Como tiveram sempre todos os teus sorrisos. Podia significar “um adeus sem dizer adeus”, o mesmo que um adeus para sempre, porque, segundo a Fadinha da Lagoa Azul (1), quando se diz adeus é para sempre. E ela tinha razão porque nunca mais contactámos na tela dos corações caídos. Tempos que o passado tragou, mas ficou a memória.
«Até amanhã, meu amor...»
Disseste “até amanhã” e sorriste. Tentei ler nesse sorriso provocante que sempre me embriagou e fiquei-me pela dúvida. É que esse sorriso tinha muitas leituras. Como tiveram sempre todos os teus sorrisos. Podia significar “um adeus sem dizer adeus”, o mesmo que um adeus para sempre, porque, segundo a Fadinha da Lagoa Azul (1), quando se diz adeus é para sempre. E ela tinha razão porque nunca mais contactámos na tela dos corações caídos. Tempos que o passado tragou, mas ficou a memória.
Esse teu "até amanhã" podia também significar que estávamos na encruzilhada de uma aventura e preparados para cada um seguir o seu rumo quando a nuvem passageira que nos escolheu desaparecesse da vista. Podia significar que nem sequer seria “até amanhã” e que talvez o telefone tocasse e me chamasses para ir ter contigo e ficar no teu aconchego sempre quente e explosivo. Sei lá. Tantas coisas como também um simples “até amanhã”.
Não sei porquê, mas esse teu sorriso de uma jovem que já foi jovem foi recebido pelo subconsciente de forma ainda diferente das outras, e então respondi, só por uma questão de segurança:
«Até sempre...»
Não sei se me ouviste porque já ias longe. Talvez não tenhas ouvido porque nem sequer olhaste para trás. Quase definitivamente, pensei que querias dizer “adeus”.
(«Adeus? Nossa, quanto tempo alguém me dá um adeus! Nem lembrava mais que essa palavra existia... (1)»)
Não sei porquê, mas esse teu sorriso de uma jovem que já foi jovem foi recebido pelo subconsciente de forma ainda diferente das outras, e então respondi, só por uma questão de segurança:
«Até sempre...»
Não sei se me ouviste porque já ias longe. Talvez não tenhas ouvido porque nem sequer olhaste para trás. Quase definitivamente, pensei que querias dizer “adeus”.
(«Adeus? Nossa, quanto tempo alguém me dá um adeus! Nem lembrava mais que essa palavra existia... (1)»)
Acreditei que já estavas noutra. Aliás, não era coisa do outro mundo, conhecendo-te como julgo que te conheço. Na verdade ia perder o sabor desafiador dos teus beijos, os momentos secretos na cama do amor, talvez até, mais tarde, esquecer-me de ti.
O curioso (e dá para pensar) é que não me tornei depressivo, nem, tão pouco, receei perder-te. Afinal de contas só tinhas dito “até amanhã” e quando me deixaste admiti que ainda eras minha. Julgava eu ontem.
Já é hoje e ainda não vieste. Demasiado tarde para quem só disse, num sussurro:
«Até amanhã...»
Talvez um dia destes te abra a porta e volte a ver o teu sorriso. E oiça:
«Estive sempre contigo...»
Já é hoje e ainda não vieste. Demasiado tarde para quem só disse, num sussurro:
«Até amanhã...»
Talvez um dia destes te abra a porta e volte a ver o teu sorriso. E oiça:
«Estive sempre contigo...»
«Longe, quem sabe noutro aconchego e agora dizes que estiveste sempre comigo?»
Será o meu pensamento. Não vou ter coragem para lhe lançar à cara este argumento que carece de prova. Claro que vou responder com o silêncio das palavras. É no silêncio das palavras que o pensamento em cadeia é senhor absoluto de decidir mais tarde.
Até sempre?
Até sempre?
Deixa-me rir cinicamente com o meu riso estratégico. Talvez seja o momento de preparar-me para o que der e vier. O guisado agarrou-se ao fundo do tacho. Cheira-me a esturro.
Então, aí vai:
Não sei, meu suposto amor, se a eternidade é nossa e se teremos alguma vez a certeza de sermos um só. E se tivermos, nunca saberei o que é meu e o que é teu, porque mesmo no limiar da eternidade, conhecendo-te como te conheço, a dúvida fará ter dúvida se és minha e de mais ninguém. Mesmo sonhando com os teus olhos atrevidos e com o teu robe vermelho indiscreto caído no chão, pode o teu “até amanhã” não ter desfecho natural. Podes voltar depois de amanhã e eu ficar de braço dado com a dúvida das dúvidas. E se acontecer assim, não é coisa boa. Fica o estigma da memória.
«Onde estiveste todo este tempo todo, amor?»
«Onde estiveste todo este tempo todo, amor?»
«Andei por aí...»
Por aí.
«E voltaste. Bem vejo que voltaste.»
«Para ti.»
«Mas voltaste, porquê?»
«Porque te amo.»
«Ah sim. E ontem? Tiveste um motivo de última hora? Não saber o que fizeste ontem, se anteontem disseste "até amanhã" não me dá qualquer segurança. Fica sempre a dúvida.»
«Acredita, ontem foi um dia banal.»
«Tão banal que nem deu para pegar num telefone?»
E continuaríamos por aí...
Porque será que ficamos sempre pendurados na dúvida metafísica quando estas coisas acontecem?
Já me esquecia. Perguntarão:
«E ela voltou?»
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