A pandemia começou em Wuhan. Ao contrário do que aconteceu em 2002, os chineses não travaram a sua progressão para os países vizinhos e o que era uma epidemia transformou-se, em pouco tempo, numa pandemia. A OMS tardou em dar-lhe o seu verdadeiro nome. Um enigma, diga-se.
O início foi nebuloso. Alguns dizem que os chineses também tinham tardado em informar a OMS. Um vírus que provocava infeção pulmonar invadiu o mundo. A China, que esteve na origem do problema, foi o primeiro país e único a resolvê-lo, após um início complicado que muitos previram, preocupados, transformar-se em tragédia a médio prazo. Bem se enganaram. A tragédia ia acontecer longe da origem. E não pára de acontecer, apesar da vacina salvadora estar para breve na União Europeia, já que começou nos Estados Unidos, Reino Unido e poucos mais países. Mas vai demorar tempo até que seja estabelecida uma imunidade de grupo. Entretanto, uma tragédia já vem atrás desta. As economias estão a cair a pique e a China exporta máscaras, álcool-gel, ventiladores e demais produtos sanitários para os países que importaram também o vírus e veem o seu PIB encolher.
Quanto ao PIB da China, adivinhem...?
Mais ainda vai crescer com a produção em larga escala da sua vacina. Chega para eles e sobra muito. Tudo isto "cheira" a uma palavra. Conspiração. Conspiração, sim, por mais que muitos não queiram admitir, mas que existe e há de mostrar um dia a sua real dimensão. Mas não é sobre esta conspiração que quero falar. É cedo e não sou especialista para tratar estas matérias que talvez um dia deixem de ser aquilo que penso que são. Premonitórias.
SARS-CoV-2, que destino nos destinas?
A notícia mais recente é que surgiu uma estirpe nova no sul da Inglaterra setenta por centro mais contagiosa. Ainda não se sabe acerca de eficácia da vacina Pfizer contra esta nova ameaça.
Como não quero falar mais desta conspiração que está a ser tratada por quem de direito, vou então virar-me para um outro vírus que agora parece dar sinais de cedência, uma vez que está entrelaçado com a componente económica a caminho da falência. Tudo aponta que está em grandes convulsões por causa da tal doença de que falei atrás. Acontece que o SNS, após um período longo de paralisação, limitou-lhe entretanto o número de dias de laboração, bem como o horário. E claro que nenhuma destas limitações é favorável ao seu bom funcionamento que até foi "ótimo" em tempos findos. Muito bom para o vírus e também para o Estado e ruim para os utentes.
Antes da pandemia já havia um nevoeiro cerrado que provocava incertezas quando à verdade do seu bom funcionamento no que dizia respeito a duas palavras: acontecimento aleatório.
Abro a cortina. Estou a falar de casinos. E quando falo de casinos, obviamente Mário tem que estar presente. A sua luta com fiscais, chefes de sala e inspetores ficou em nada, mas ele ainda sonha, tal como sonhavam os que esperavam pela chegada do D. Sebastião numa manhã de nevoeiro. Reclamações seguidas a reclamações e diálogos quase explosivos. A mentira do jogo aleatório estava posta em causa.
Para quê?, se prevaleceu a lei do mais forte e a verdade foi espezinhada?
«Já sabe qual vai ser a resposta. Mas não desista!»
Meditou nas palavras do único inspetor com quem pôde falar a sério. Mas tinha chegado ao limite. Ao mesmo tempo, notou que estava a ser mais perseguido do que nunca no casino. Acreditava que um utente não podia ter sempre sorte ou sempre azar. E o azar estava sempre a bater-lhe à porta. Felizmente que por nada deste mundo se viciou. Assim, passou a frequentar muito menos o casino. No máximo duas vezes por mês e levando sempre consigo uma verba que estipulou como limite. Nada se alterou quanto ao resto. Como tinha meia dúzia de amigos no casino não deixou de estar a par do que se passava aí. E o que se passava não era nada bom. As máquinas estavam programadas para apresentarem séries ruins, com muitos menos prémios que antes da pandemia. O sistema defendia-se mas enxotava os utentes ou levava-os a jogarem com apostas mais baixas. Se jogavam forte tinham o destino traçado em dois atos, para não dizer num. De vez em quando uma máquina dava jackpot. Por coincidência esse prémio calhava a um jogador compulsivo ou a um estreante.
O que estava a acontecer?
Muito simples a análise. As receitas tinham baixado cinquenta por cento e as despesas eram as mesmas. Daí a razão porque as séries deixavam cada vez menos a desejar. E então os utentes desesperavam. Mas se fosse só isso que estava a acontecer...
Entretanto os casinos estavam em queda livre, acompanhando a queda abrupta da economia em quase todos os setores. Era triste e a crise ainda estava no início e tinha chegado para durar.
O início foi nebuloso. Alguns dizem que os chineses também tinham tardado em informar a OMS. Um vírus que provocava infeção pulmonar invadiu o mundo. A China, que esteve na origem do problema, foi o primeiro país e único a resolvê-lo, após um início complicado que muitos previram, preocupados, transformar-se em tragédia a médio prazo. Bem se enganaram. A tragédia ia acontecer longe da origem. E não pára de acontecer, apesar da vacina salvadora estar para breve na União Europeia, já que começou nos Estados Unidos, Reino Unido e poucos mais países. Mas vai demorar tempo até que seja estabelecida uma imunidade de grupo. Entretanto, uma tragédia já vem atrás desta. As economias estão a cair a pique e a China exporta máscaras, álcool-gel, ventiladores e demais produtos sanitários para os países que importaram também o vírus e veem o seu PIB encolher.
Quanto ao PIB da China, adivinhem...?
Mais ainda vai crescer com a produção em larga escala da sua vacina. Chega para eles e sobra muito. Tudo isto "cheira" a uma palavra. Conspiração. Conspiração, sim, por mais que muitos não queiram admitir, mas que existe e há de mostrar um dia a sua real dimensão. Mas não é sobre esta conspiração que quero falar. É cedo e não sou especialista para tratar estas matérias que talvez um dia deixem de ser aquilo que penso que são. Premonitórias.
SARS-CoV-2, que destino nos destinas?
A notícia mais recente é que surgiu uma estirpe nova no sul da Inglaterra setenta por centro mais contagiosa. Ainda não se sabe acerca de eficácia da vacina Pfizer contra esta nova ameaça.
Como não quero falar mais desta conspiração que está a ser tratada por quem de direito, vou então virar-me para um outro vírus que agora parece dar sinais de cedência, uma vez que está entrelaçado com a componente económica a caminho da falência. Tudo aponta que está em grandes convulsões por causa da tal doença de que falei atrás. Acontece que o SNS, após um período longo de paralisação, limitou-lhe entretanto o número de dias de laboração, bem como o horário. E claro que nenhuma destas limitações é favorável ao seu bom funcionamento que até foi "ótimo" em tempos findos. Muito bom para o vírus e também para o Estado e ruim para os utentes.
Antes da pandemia já havia um nevoeiro cerrado que provocava incertezas quando à verdade do seu bom funcionamento no que dizia respeito a duas palavras: acontecimento aleatório.
Abro a cortina. Estou a falar de casinos. E quando falo de casinos, obviamente Mário tem que estar presente. A sua luta com fiscais, chefes de sala e inspetores ficou em nada, mas ele ainda sonha, tal como sonhavam os que esperavam pela chegada do D. Sebastião numa manhã de nevoeiro. Reclamações seguidas a reclamações e diálogos quase explosivos. A mentira do jogo aleatório estava posta em causa.
Para quê?, se prevaleceu a lei do mais forte e a verdade foi espezinhada?
«Já sabe qual vai ser a resposta. Mas não desista!»
Meditou nas palavras do único inspetor com quem pôde falar a sério. Mas tinha chegado ao limite. Ao mesmo tempo, notou que estava a ser mais perseguido do que nunca no casino. Acreditava que um utente não podia ter sempre sorte ou sempre azar. E o azar estava sempre a bater-lhe à porta. Felizmente que por nada deste mundo se viciou. Assim, passou a frequentar muito menos o casino. No máximo duas vezes por mês e levando sempre consigo uma verba que estipulou como limite. Nada se alterou quanto ao resto. Como tinha meia dúzia de amigos no casino não deixou de estar a par do que se passava aí. E o que se passava não era nada bom. As máquinas estavam programadas para apresentarem séries ruins, com muitos menos prémios que antes da pandemia. O sistema defendia-se mas enxotava os utentes ou levava-os a jogarem com apostas mais baixas. Se jogavam forte tinham o destino traçado em dois atos, para não dizer num. De vez em quando uma máquina dava jackpot. Por coincidência esse prémio calhava a um jogador compulsivo ou a um estreante.
O que estava a acontecer?
Muito simples a análise. As receitas tinham baixado cinquenta por cento e as despesas eram as mesmas. Daí a razão porque as séries deixavam cada vez menos a desejar. E então os utentes desesperavam. Mas se fosse só isso que estava a acontecer...
Entretanto os casinos estavam em queda livre, acompanhando a queda abrupta da economia em quase todos os setores. Era triste e a crise ainda estava no início e tinha chegado para durar.
As coisas tinham mudado. Curiosamente um dos beneficiados dos outros tempos já não era o Zé dedilhador. As atenções de Mário viravam-se agora para um pequeno "protegido" que crescera a olhos vistos. Jogava relativamente baixo. Treze, catorze, quinze por reaposta. Agora, continuava no mesmo nível, mas, por vezes, ia aos vinte e cinco créditos. Ganhara mais coragem mas só insistia no máximo em fazer cinco apostas. Os resultados é que tinham mudado drasticamente. Prémios chorudos, o mais alto a rondar os quatro mil e quinhentos euros. Prémios de trezentos a oitocentos euros eram frequentes. E toda essa boa sorte que estava a ter devia-se a jogar baixo, como fizera sempre. Mas ainda mais estranho, gabava-se a Mário que não era preciso jogar alto para ganhar o que ele ganhava.
O Palrador era um velho conhecido e amigo de alguns chefes de sala, gozava de regalias especiais e era por aí que Mário devia começar a investigação.
Lembrou-se então de uma noite em que este quis impingir-lhe um dispositivo para anexar ao televisor e que lhe permitia aceder a um grande número de canais sem pagar mais um cêntimo. Tudo só pelo custo do dispositivo.
«Desculpe, amigo Carolino, mas já tenho canais que cheguem.»
«O chefe Benedito está muito satisfeito com o dispositivo. Pode ver os canais de desporto sem pagar sequer um chavo. Olhe bem para esta jogada. Mais um cavalo e fazia jackpot.»
«Então para ele foi uma boa compra.»
«Boa compra? Dei-lho. Mas esta máquina não dá "caixotes"?»
O Palrador era um velho conhecido e amigo de alguns chefes de sala, gozava de regalias especiais e era por aí que Mário devia começar a investigação.
Lembrou-se então de uma noite em que este quis impingir-lhe um dispositivo para anexar ao televisor e que lhe permitia aceder a um grande número de canais sem pagar mais um cêntimo. Tudo só pelo custo do dispositivo.
«Desculpe, amigo Carolino, mas já tenho canais que cheguem.»
«O chefe Benedito está muito satisfeito com o dispositivo. Pode ver os canais de desporto sem pagar sequer um chavo. Olhe bem para esta jogada. Mais um cavalo e fazia jackpot.»
«Então para ele foi uma boa compra.»
«Boa compra? Dei-lho. Mas esta máquina não dá "caixotes"?»
Então deu-lhe o dispositivo.
Depois, Mário ligou a conversa que teve com o Palrador a um caso também relacionado com o mesmo chefe de sala, por sinal um homem de maus fígados. Nunca discutira com ele mas sabia de umas coisas ruins.
Aconteceu num fim de semana. Um indivíduo do teatro, artista ou coreógrafo, jogava forte numa das máquinas das Cleópatras e o jogo estava a correr-lhe mal. Alhos e bugalhos não faltavam. Tantos que faziam-lhe lembrar o agressor das palavras dos velhos tempos.
Foi então que chegou o chefe Benedito e trocaram cumprimentos efusivos. Portanto, conheciam-se. Aqui terminou o primeiro ato da peça. Quanto ao segundo ato, começou com a queixa.
«Já perdi mais de mil euros e esta merda não dá nada!»
«Às vezes acontece. Pode ser que mude.»
«Espero bem que sim.»
Continuaram a conversar até que o chefe Benedito achou por bem despedir-se.
«Bom, tenho que ir à minha vida. Bom jogo, meu amigo.»
«Se continuar igual...»
Terceiro ato. Não passaram mais que cinco minutos e o artista de teatro, ou isso, foi ao cofre e tirou a platina. Mais de dois mil e quinhentos euros. Foi obra.
«A porra da máquina não dava nada!» comentou com a companheira.
E desapareceu de cena juntamente com a companheira.
O que mais impressionava Mário era o Palrador ter a lata de publicitar os bons prémios que ganhava. Não entendia o que ia na sua cabeça.
Se o casino já não estava bem financeiramente, como podiam "abrir" mais as máquinas para certos utentes?
Fez uma pequena pausa e aproveitou para respirar fundo.
«Vamos então nisso. Vejamos agora o segundo jogador suspeito que, por acaso, é uma mulher. Trata-se de uma frequentadora assídua. Joga quase sempre os mesmos créditos, utilizando o máximo de linhas possível. É uma aposta frequente na maioria dos jogadores. Mas há um mistério. Está constantemente a "abrir" a máquina, ao contrário dos outros, mesmo de alguns utentes que chegam a arriscar a aposta máximo sem terem o êxito da nossa amiga. E há mais. Tira com frequência prémios de mais de dois mil euros, portanto platinas, não contando com os ouros e as linhas de mais de trezentos euros. E quando tem uma má noite trata a máquina da pior maneira. Abana-a com violência e depois diz uma ou outra palavra brejeira, imprópria de uma senhora que se preza mas que diz bem com ela. Dá para entender?» Comentou comigo.
«Não é aquela mulher que fez a denúncia a um chefe de sala que o Vítor guardava máquinas para amigos?»
E era verdade. Porquê só agora o castigo?
«Sim, António. Mas não tenho a certeza de ter sido ela. Agora apontam para um casal oportunista que faz lembrar os tempos do Abutre. Atuam como ele. Lembras-te dele?»
«Vem nas histórias que me contaste e que escrevi. E o que é feito desse indivíduo?»
«Aparece de vez em quando. Já perdeu o fulgor. Parece que tem problemas de incumprimento com o Santander.»
«Perdeu o contacto, queres dizer.»
«Ou isso.»
«Mas nesse tempo as coisas eram mais disfarçadas que agora. Cheirava só a corrupção, percebes? Não compreendo uma coisa. Esta gente que vai ao casino arriscar tem os olhos fechados. Devem protestar. Unir-se.»
Mário admitiu que sim. Eles protestavam, mas à boca calada. Parecia até que tinham medo.
«Medo?»
«Não viste o que me aconteceu quando entrei em guerra com o casino e a própria inspeção. O jogo ainda correu pior. É uma teia tenebrosa, António!»
«Voltando a essa mulher, quem será que a protege?»
Não sabia. O seu êxito até podia estar ligado a um disfarce. Uma forma de disfarçar a sorte divina do Palrador. Assim, as atenções viravam-se também para essa mulher.
«Pode ser uma hipótese. E o que foi feito do desgraçado do Vítor?»
«Expulsaram-no mais uma vez.»
«Ah!»
«Não te admires. Agora vale tudo. São sinais do tempo. Esse homem, apesar de todos os seus defeitos, devia incomodar muito. Era melhor tê-lo afastado.»
«Foi também um dos "protegidos" nos tempos do Abutre e do Zé dedilhador. Mas os motivos porque o protegiam eram outros. O Vítor dava a ganhar muito dinheiro ao casino quando encaminhava para o Fort Knox amigos que jogavam forte e perdiam balúrdios. Bem podiam estar agradecidos.»
«E era recompensado. Jogando a três e a cinco e obtendo bons prémios. Mas não têm receio que ele ponha a boca no trombone?»
Mário admitiu que sim. Pela lógica era melhor tê-lo debaixo de olho do que pô-lo à distância. Talvez a crise económica contribuísse para alguma explicação.
«Até ao fim do ano muitas águas vão correr.»
«Sabes de alguma coisa sobre a hipótese do casino fechar?»
«Veremos.»
E calou-se.
«Há mais casos?»
«Sim, temos ainda um terceiro beneficiado pela sorte no Fort Knox. Mas menos importante. Trata-se de um indivíduo que joga a dezassete e algumas vezes a quinze. Não imaginas a sorte que o fulano tem! E com ele não há dificuldades em ir ao cofre. O nosso homem diverte-se a valer e leva sempre dinheiro para casa. Experimenta tu a jogar como ele joga e vais ver logo o que te acontece...»
«Mas isso é um escândalo!»
Depois havia meia dúzia de jogadores que apostavam forte, ganhavam bons prémios e acabavam por deixar o dinheiro dos prémios e o seu. Mas isso era o usual nos que tinham sido caçados pelo vício.
Mário voltou-se então para um caso que acontecia há muito na zona das máquinas dos cifrões.
O SENHOR DAS MÁQUINAS
Este caso está relacionado com as nove máquinas dos cifrões e mais três onde se podem jogar quatro jogos, sendo o principal destes quatro o dos "Aviões".
Em tempos recuados Mário tirou aí bons resultados. Agora tudo mudou radicalmente. Parece que há menos de uma mão cheia de beneficiados. Um deles é, aparentemente, o Ricardo.
Mas quem é o Ricardo?
Um homem com muito dinheiro visível que controla as máquinas a seu belo prazer, isto no sentido de jogar, pelo menos, ao mesmo tempo em seis máquinas e, às vezes, mais. Acresce que não são nada baratas. Por linha gasta-se dez cêntimos e ele chega a aplicar em cada jogada pelo menos quatro euros e cinquenta cêntimos, se não pensarmos nas tais três máquinas que têm quatro jogos. Aí, a aposta máxima sobe aos nove euros. Claro que não joga em todas a aposta máxima mas não anda longe disso. Admitamos que cada jogada lhe custa em média cinquenta euros, o que é muito dinheiro. Para contrabalançar, jackpotes não faltam. No entanto Mário tem dúvidas que ele saia a ganhar nesta batalha contra as máquinas. Mas o problema não reside aí. É que ele monopoliza as máquinas, o que não é legal. E se, por acaso, consegue apanhar as três máquinas de quatro jogos diferentes, então nunca mais as larga até que se vai embora. Ilegalidades a seguir a ilegalidades e feitas nas barbas dos fiscais que o tratam por tu, como se fossem velhos amigos.
Uma vez Mário quis jogar numa dessas três máquinas que o "capitalista" ocupava e entrou em conflito com ele.
«É ilegal o que está a fazer. Vou chamar um fiscal.»
«Então vá.»
E foi.
De imediato o Ricardo ligou para um capanga, não utente do casino mas com presença constante e guardador de máquinas como acontecia com o Vítor. O dito cujo apareceu quase de imediato e o Ricardo fez-lhe um sinal para ocupar uma das máquinas. A outra foi ocupada por um "amigo" que estava próximo e a terceira era para ele. Tudo feito nas barbas do fiscal.
«E agora?» perguntei ao Mário.
O fiscal encolheu os ombros para este e foi-se embora. Quanto ao dito Ricardo continuou a fazer o seu jogo nas seis ou sete máquinas. Se favorecia o casino, Mário não sabia. Mas que não era molestado já era outra coisa.
«Aconteceu mesmo assim, António?»
Perguntou ao amigo se achava que ia inventar uma novela daquelas. E já não era primeira vez que ele fazia aquilo. Mas tinha amigos a tomarem conta das máquinas caso fosse preciso. Chegar ao extremo de chamar um capanga isso era outra conversa.
«O homem não estará a lavar dinheiro?»
«E eu sei?»
De há uns tempos a esta parte as entradas eram controladas informaticamente para evitar as prováveis lavagens de dinheiro e os resultados com o belo exemplo do Ricardo endinheirado eram palpáveis...
«Mas há mais. Um dia destes pedi a um amigo que também costuma jogar nessas máquinas para passar por lá quando todas estivessem ocupadas pelo Ricardo e um ou outro jogador.»
«E então?»
«Os resultados não se fizeram esperar. O meu amigo passou pelas máquinas como se estivesse à procura de jogar numa. Abanou a cabeça em sinal de desacordo e logo o Ricardo chamou-o.
«Quer uma máquina?»
«Sim. Pode ser esta.»
E apontou para a sete.
«Essa não. Só se for a nove.»
«Você ocupa as máquinas e ainda por cima oferece a que não quer para si?»
«Claro.»
«Isso é ilegal.»
E afastou-se. O outro deve ter continuado o seu jogo numa boa. Tinha a "força" do seu lado.
«Agora só uma curiosidade, António. Pouco depois esse meu amigo passou outra vez pelas máquinas dos "cifrões" e reparou que a máquina sete já tinha um jackpot.»
«No mínimo, curioso. Mas ouve lá uma coisa. Voltando ao Fort Knox, as pessoas ainda não reclamaram por causa do que está acontecer ali?»
«Não.»
«E não deviam reclamar?»
«Dá tempo ao tempo. A bronca há de rebentar. A não ser que, entretanto, o casino feche de vez. Até que aconteça a tal bronca vai continuar a pouca vergonha e cada vez mais às claras.»
«Nem há reclamações anónimas feitas à inspeção? É tempo daqueles senhores levantarem o cu das cadeiras e descerem à praça para verem a realidade.»
«Aqueles senhores e aquelas senhoras. Ainda não me esqueci de uma inspetora que me tramou da última vez. Não sei, António. Mas um dia vai acontecer.»
Não sabia como as coisas iam evoluir. Os utentes sussurravam de revolta cada vez mais alto contra Palradores, quem sabe se perigosos, que, descaradamente, exibiam às claras os seus tickets chorudos como se troféus da África de outros tempos (e quem sabe se também de agora) se tratassem, como dentes de elefantes e diamantes adquiridos na candonga. Os sinais de corrupção e de lavagem de dinheiro estavam cada vez mais visíveis. Só os que quisessem ser cegos ou fossem obrigados a não ver o que viam é que continuavam a encobrir a verdade.
À falta de mais coragem, a conspiração silenciosa continuaria a soltar baixinho o seu grito de revolta.
Depois, Mário ligou a conversa que teve com o Palrador a um caso também relacionado com o mesmo chefe de sala, por sinal um homem de maus fígados. Nunca discutira com ele mas sabia de umas coisas ruins.
Aconteceu num fim de semana. Um indivíduo do teatro, artista ou coreógrafo, jogava forte numa das máquinas das Cleópatras e o jogo estava a correr-lhe mal. Alhos e bugalhos não faltavam. Tantos que faziam-lhe lembrar o agressor das palavras dos velhos tempos.
Foi então que chegou o chefe Benedito e trocaram cumprimentos efusivos. Portanto, conheciam-se. Aqui terminou o primeiro ato da peça. Quanto ao segundo ato, começou com a queixa.
«Já perdi mais de mil euros e esta merda não dá nada!»
«Às vezes acontece. Pode ser que mude.»
«Espero bem que sim.»
Continuaram a conversar até que o chefe Benedito achou por bem despedir-se.
«Bom, tenho que ir à minha vida. Bom jogo, meu amigo.»
«Se continuar igual...»
Terceiro ato. Não passaram mais que cinco minutos e o artista de teatro, ou isso, foi ao cofre e tirou a platina. Mais de dois mil e quinhentos euros. Foi obra.
«A porra da máquina não dava nada!» comentou com a companheira.
E desapareceu de cena juntamente com a companheira.
O que mais impressionava Mário era o Palrador ter a lata de publicitar os bons prémios que ganhava. Não entendia o que ia na sua cabeça.
Se o casino já não estava bem financeiramente, como podiam "abrir" mais as máquinas para certos utentes?
Fez uma pequena pausa e aproveitou para respirar fundo.
«Vamos então nisso. Vejamos agora o segundo jogador suspeito que, por acaso, é uma mulher. Trata-se de uma frequentadora assídua. Joga quase sempre os mesmos créditos, utilizando o máximo de linhas possível. É uma aposta frequente na maioria dos jogadores. Mas há um mistério. Está constantemente a "abrir" a máquina, ao contrário dos outros, mesmo de alguns utentes que chegam a arriscar a aposta máximo sem terem o êxito da nossa amiga. E há mais. Tira com frequência prémios de mais de dois mil euros, portanto platinas, não contando com os ouros e as linhas de mais de trezentos euros. E quando tem uma má noite trata a máquina da pior maneira. Abana-a com violência e depois diz uma ou outra palavra brejeira, imprópria de uma senhora que se preza mas que diz bem com ela. Dá para entender?» Comentou comigo.
«Não é aquela mulher que fez a denúncia a um chefe de sala que o Vítor guardava máquinas para amigos?»
E era verdade. Porquê só agora o castigo?
«Sim, António. Mas não tenho a certeza de ter sido ela. Agora apontam para um casal oportunista que faz lembrar os tempos do Abutre. Atuam como ele. Lembras-te dele?»
«Vem nas histórias que me contaste e que escrevi. E o que é feito desse indivíduo?»
«Aparece de vez em quando. Já perdeu o fulgor. Parece que tem problemas de incumprimento com o Santander.»
«Perdeu o contacto, queres dizer.»
«Ou isso.»
«Mas nesse tempo as coisas eram mais disfarçadas que agora. Cheirava só a corrupção, percebes? Não compreendo uma coisa. Esta gente que vai ao casino arriscar tem os olhos fechados. Devem protestar. Unir-se.»
Mário admitiu que sim. Eles protestavam, mas à boca calada. Parecia até que tinham medo.
«Medo?»
«Não viste o que me aconteceu quando entrei em guerra com o casino e a própria inspeção. O jogo ainda correu pior. É uma teia tenebrosa, António!»
«Voltando a essa mulher, quem será que a protege?»
Não sabia. O seu êxito até podia estar ligado a um disfarce. Uma forma de disfarçar a sorte divina do Palrador. Assim, as atenções viravam-se também para essa mulher.
«Pode ser uma hipótese. E o que foi feito do desgraçado do Vítor?»
«Expulsaram-no mais uma vez.»
«Ah!»
«Não te admires. Agora vale tudo. São sinais do tempo. Esse homem, apesar de todos os seus defeitos, devia incomodar muito. Era melhor tê-lo afastado.»
«Foi também um dos "protegidos" nos tempos do Abutre e do Zé dedilhador. Mas os motivos porque o protegiam eram outros. O Vítor dava a ganhar muito dinheiro ao casino quando encaminhava para o Fort Knox amigos que jogavam forte e perdiam balúrdios. Bem podiam estar agradecidos.»
«E era recompensado. Jogando a três e a cinco e obtendo bons prémios. Mas não têm receio que ele ponha a boca no trombone?»
Mário admitiu que sim. Pela lógica era melhor tê-lo debaixo de olho do que pô-lo à distância. Talvez a crise económica contribuísse para alguma explicação.
«Até ao fim do ano muitas águas vão correr.»
«Sabes de alguma coisa sobre a hipótese do casino fechar?»
«Veremos.»
E calou-se.
«Há mais casos?»
«Sim, temos ainda um terceiro beneficiado pela sorte no Fort Knox. Mas menos importante. Trata-se de um indivíduo que joga a dezassete e algumas vezes a quinze. Não imaginas a sorte que o fulano tem! E com ele não há dificuldades em ir ao cofre. O nosso homem diverte-se a valer e leva sempre dinheiro para casa. Experimenta tu a jogar como ele joga e vais ver logo o que te acontece...»
«Mas isso é um escândalo!»
Depois havia meia dúzia de jogadores que apostavam forte, ganhavam bons prémios e acabavam por deixar o dinheiro dos prémios e o seu. Mas isso era o usual nos que tinham sido caçados pelo vício.
Mário voltou-se então para um caso que acontecia há muito na zona das máquinas dos cifrões.
O SENHOR DAS MÁQUINAS
Este caso está relacionado com as nove máquinas dos cifrões e mais três onde se podem jogar quatro jogos, sendo o principal destes quatro o dos "Aviões".
Em tempos recuados Mário tirou aí bons resultados. Agora tudo mudou radicalmente. Parece que há menos de uma mão cheia de beneficiados. Um deles é, aparentemente, o Ricardo.
Mas quem é o Ricardo?
Um homem com muito dinheiro visível que controla as máquinas a seu belo prazer, isto no sentido de jogar, pelo menos, ao mesmo tempo em seis máquinas e, às vezes, mais. Acresce que não são nada baratas. Por linha gasta-se dez cêntimos e ele chega a aplicar em cada jogada pelo menos quatro euros e cinquenta cêntimos, se não pensarmos nas tais três máquinas que têm quatro jogos. Aí, a aposta máxima sobe aos nove euros. Claro que não joga em todas a aposta máxima mas não anda longe disso. Admitamos que cada jogada lhe custa em média cinquenta euros, o que é muito dinheiro. Para contrabalançar, jackpotes não faltam. No entanto Mário tem dúvidas que ele saia a ganhar nesta batalha contra as máquinas. Mas o problema não reside aí. É que ele monopoliza as máquinas, o que não é legal. E se, por acaso, consegue apanhar as três máquinas de quatro jogos diferentes, então nunca mais as larga até que se vai embora. Ilegalidades a seguir a ilegalidades e feitas nas barbas dos fiscais que o tratam por tu, como se fossem velhos amigos.
Uma vez Mário quis jogar numa dessas três máquinas que o "capitalista" ocupava e entrou em conflito com ele.
«É ilegal o que está a fazer. Vou chamar um fiscal.»
«Então vá.»
E foi.
De imediato o Ricardo ligou para um capanga, não utente do casino mas com presença constante e guardador de máquinas como acontecia com o Vítor. O dito cujo apareceu quase de imediato e o Ricardo fez-lhe um sinal para ocupar uma das máquinas. A outra foi ocupada por um "amigo" que estava próximo e a terceira era para ele. Tudo feito nas barbas do fiscal.
«E agora?» perguntei ao Mário.
O fiscal encolheu os ombros para este e foi-se embora. Quanto ao dito Ricardo continuou a fazer o seu jogo nas seis ou sete máquinas. Se favorecia o casino, Mário não sabia. Mas que não era molestado já era outra coisa.
«Aconteceu mesmo assim, António?»
Perguntou ao amigo se achava que ia inventar uma novela daquelas. E já não era primeira vez que ele fazia aquilo. Mas tinha amigos a tomarem conta das máquinas caso fosse preciso. Chegar ao extremo de chamar um capanga isso era outra conversa.
«O homem não estará a lavar dinheiro?»
«E eu sei?»
De há uns tempos a esta parte as entradas eram controladas informaticamente para evitar as prováveis lavagens de dinheiro e os resultados com o belo exemplo do Ricardo endinheirado eram palpáveis...
«Mas há mais. Um dia destes pedi a um amigo que também costuma jogar nessas máquinas para passar por lá quando todas estivessem ocupadas pelo Ricardo e um ou outro jogador.»
«E então?»
«Os resultados não se fizeram esperar. O meu amigo passou pelas máquinas como se estivesse à procura de jogar numa. Abanou a cabeça em sinal de desacordo e logo o Ricardo chamou-o.
«Quer uma máquina?»
«Sim. Pode ser esta.»
E apontou para a sete.
«Essa não. Só se for a nove.»
«Você ocupa as máquinas e ainda por cima oferece a que não quer para si?»
«Claro.»
«Isso é ilegal.»
E afastou-se. O outro deve ter continuado o seu jogo numa boa. Tinha a "força" do seu lado.
«Agora só uma curiosidade, António. Pouco depois esse meu amigo passou outra vez pelas máquinas dos "cifrões" e reparou que a máquina sete já tinha um jackpot.»
«No mínimo, curioso. Mas ouve lá uma coisa. Voltando ao Fort Knox, as pessoas ainda não reclamaram por causa do que está acontecer ali?»
«Não.»
«E não deviam reclamar?»
«Dá tempo ao tempo. A bronca há de rebentar. A não ser que, entretanto, o casino feche de vez. Até que aconteça a tal bronca vai continuar a pouca vergonha e cada vez mais às claras.»
«Nem há reclamações anónimas feitas à inspeção? É tempo daqueles senhores levantarem o cu das cadeiras e descerem à praça para verem a realidade.»
«Aqueles senhores e aquelas senhoras. Ainda não me esqueci de uma inspetora que me tramou da última vez. Não sei, António. Mas um dia vai acontecer.»
Não sabia como as coisas iam evoluir. Os utentes sussurravam de revolta cada vez mais alto contra Palradores, quem sabe se perigosos, que, descaradamente, exibiam às claras os seus tickets chorudos como se troféus da África de outros tempos (e quem sabe se também de agora) se tratassem, como dentes de elefantes e diamantes adquiridos na candonga. Os sinais de corrupção e de lavagem de dinheiro estavam cada vez mais visíveis. Só os que quisessem ser cegos ou fossem obrigados a não ver o que viam é que continuavam a encobrir a verdade.
À falta de mais coragem, a conspiração silenciosa continuaria a soltar baixinho o seu grito de revolta.

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