Há mulheres como tu que agarram o momento e mais tarde bendizem o sexto sentido que souberam usar e que as fez acertar na hora certa. Serão felizes porque acreditaram que agarraram o momento certo.
Há mulheres que agarram a onda no momento certo, mas que foram arrastadas pela corrente que criaram e viram ser levada para longe a coisa amada que a onda trouxe.
Há mulheres belas que despertam desejos fortes e são engolidas na voragem do mito que ajudaram a criar.
Há mulheres que se elogiam na sua beleza e só mostram o que querem mostrar. Essas mulheres só gostam delas.
Há mulheres que matam os fetos que foram gerados nos seus ventres. Outras que não os podem ter. Outras que não os querem ter. E ainda outras que foram proibidas de os ter.
Há mulheres míopes que julgam ter tudo na vida. Outras, também míopes, dão tudo a quem não lhes dá nada. Outras que não são míopes mas perderam tudo na vida só por uma questão de miopia.
Há mulheres que amaram e foram amadas e quem as amou fez tudo para as conservar. Outras que deitaram fora a riqueza interior e correram atrás da outra riqueza.
Há mulheres que lutam até à exaustão por uma causa perdida. Para essas mulheres virá sempre uma nova oportunidade.
Há mulheres... muitas mulheres! Brancas, negras, mestiças, magras, gordas, sardentas, com poucos sinais, bexigosas, de seios grandes e tesos ou caídos, de seios pequenos que não enchem a mão, altas, baixas, belas, feias, que amam e são amadas, que vivem livres ou enclausuradas, que se entregam ou são aprisionadas, que amam e são amadas.
Há mulheres, como tu, que eu amei e que me amaram. Partiram muito cedo para o constelado do céu, talvez porque foram convidadas, se é que existe Alguém que, supostamente, as convidou.
A última rosa
Este não é o meu mundo. Julgava que este mundo tinha sido obra benigna de Deus. Já fui crente nesse tempo. Mas Hoje sou quem sou e não quem era. Alguém desencantado. Não foi Ele, mas o aleatório que levou o jovem da camisola azul ao encontro da rapariga do vestido branco numa noite tépida de setembro. Eu e a minha Eva sonhámos uma vida a dois, até que a serpente me tentou. Uma parente da mesma que expulsou o homem e a mulher do Paraíso. Tudo por causa de uma maçã colhida de uma certa árvore proibida que, por sinal, chamava-se cinicamente "árvore da vida". Que tinha a árvore de especial? As maçãs eram maçãs ou uma metáfora? Claro que eram. Estavam ali para tentar o homem e correr com ele (e a mulher) dali para fora de uma vez por todas. Talvez Deus quisesse fazer uma experiência. E se fez, esta correu mal. O mundo de Deus foi posto a nu. Desde então não houve mais paz neste mundo criado para o homem que, por sua vez, fora criado à Sua imagem. Até que um dia cheguei eu. Estive numa coisa, para mim parecida com o Paraíso e hoje estou como estou! Porra de vida. Tudo por causa de uma árvore e de uma serpente? Treta. Aquilo era uma armadilha e tinha mesmo que acontecer porque no mundo do Senhor Deus, Omnisciente, Omnipotente e Omnipresente, há serpentes espalhadas por tudo o que é sítio. Apesar do que disse e do quase tudo que ficou por dizer, porque ainda acredito encontrar um dia o Paraíso perdido, não consegui evitar este chorinho que se segue...
A chuva continua a cair em bátegas gélidas na terra hoje ensopada e ontem seca de lágrimas que não foram choradas. Não te vejo, nem oiço a voz que não era suposto vir das profundezas. Mas sinto a tua presença e há uma voz interior que julgo ser a tua. Estás cá dentro e, ao mesmo tempo, longe. Mesmo agora estou a ouvir-te. Pedes para deitar rosas vermelhas na ilha que te ofereci. As rosas brancas. Lembram a morte e ainda estás viva em mim. Dizem que choras por não seres minha. Que ouvem o teu soluçar angustiado. Pobre de mim, que sou cego e surdo para o teu mundo, aquele que está ainda para lá da última cortina que ainda não consegui abrir.
Foste a primeira rosa. Levou-te a morte muito cedo. Nunca mais te vi, nem nunca mais te verei. Mas continuo a pensar em ti.
Não me lembro.
Como foi possível perder-te tão cedo?
Estou só. Como tu. De ti nem sequer vem um sinal. Não há rasto de azul. Apenas vejo na frente um deserto imenso de solidão e desespero. Dói-me a alma. Pela primeira vez penso que não sou eterno. Que o meu relógio vai parar. Talvez amanhã. Talvez depois. E mesmo no parar do relógio receio que vamos continuar desencontrados do outro lado da porta.
Estou decidido. Levo comigo três rosas para te oferecer. Uma, para recordar o tempo em que o primeiro amor despertou. Outra, destinada aos longos dias em que não te tive. E a terceira, a última, quem sabe... para que renasça, aí, desse lado, o amor que um dia jurámos ser eterno!

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