Um dia criei um blogue a que dei o nome de "Podia ter acontecido ontem".
O blogue já não existe. Mas esta história que se segue podia ter acontecido...
Jacinto sentou-se ao meu lado. Sobressaltei-me. Às vezes o "sombra" comportava-se como um fantasma.
«Ainda não consegui nem uma moeda para jantar.» Virei o olhar para ele.
«Os seus amigos…?»
«Estão todos a perder. Compreende? Mas não peço nada a ninguém.» O homem que vivia entre dois mundos nunca pedia nada a ninguém. Mas perfilava-se atrás dos jogadores quando pressentia um prémio iminente. Ou então dava a entender uma necessidade premente, como era o caso. «Eu sei, Jacinto. És um homem correto.» Segui, aparentemente com atenção, o que estava a ocorrer com uma máquina dos "cifrões". The game of money. O jogador apostava forte e acabava de ir ao bónus. Três "cifrões" era quanto bastava. «Repetiu.» Limitou-se a dizer. «Eu vi.» Mas pensava no pedido disfarçado daquele homem que nunca pedia nada a ninguém. «Fez uma linha boa. Trezentas e vinte mocas.» «Quando comeste pela última vez?» Demorou a responder. «Quando?» insisti. «Perdi a hora do almoço nos Anjos. Deixei-me dormir até tarde.» «Como conseguiste?» «Ora, tinha sono.» Fiz um gesto largo, dando a entender que não era aquela a resposta que queria. «Segundo me disseste, dormes praticamente sentado e com as costas encostadas aos azulejos inclinados, a um canto do parque de estacionamento. Isso deve ser insuportável de aguentar.» «Quando tenho sono durmo de qualquer forma. Já estou habituado, senhor Mário.» «E és novo ainda. Um dia vais ressentir-te. A tua coluna é que paga, acredita.» Acenou com a cabeça. «Eu sei. Tenho quarenta anos. Um dia vou arranjar um emprego. Serventia de pedreiro nunca mais. Porra, que aquilo era duro.» «Então, concluindo…» «Ele vai ao jackpot.» Concordei. «E entretanto não comeste nada?» «Um pão com manteiga às três da tarde.» Procurei umas moedas no bolso das calças e estendi a palma da mão para ele. Devia ser pouco mais de seis euros. «Chega?» «Claro que chega, senhor Mário. Olhe, ele foi mesmo ao jackpot. Vou saudá-lo.» Tive melhor ideia. Consultei o relógio. Vinte para as oito. «Deixa-te disso» sorri. «Anda daí comigo.» Tentou adivinhar. «Vamos àquele restaurante onde uma vez o senhor foi com o Vítor?» Sabia de que restaurante falava. Uma noite, o Vítor, homem que jogava baixo e era senhor dos segredos mais escabrosos do casino, foi premiado no Fort Knox com uma "platina" e convidou-me para jantar num restaurante da zona. Aceitei logo porque tinha uma oportunidade única para tentar descobrir alguns dos segredos do Vítor, guardador de máquinas e não só. «Como sabes desse jantar?» «Sei, prontos.» Não insisti. Era prudente ficar por ali. Afinal nessa noite, não sei porque carga de água, fui eu quem fiz revelações duma relação que teve um desfecho indesejado. Talvez pela proximidade duma zona onde podia ter sido feliz. Ou porque ele foi hábil num certo momento do jantar para desviar a minha tentativa de investigação. «Não. Não vamos àquele restaurante. Melhor ainda. Jantamos cá.» «Nos finórios?» Referia-se ao buffet. Cem pontos tirados do cartão e mais dez euros. Café não incluído. E neste caso, vinte euros e duzentos pontos . «Seja como dizes. Nos finórios.» «E não há problema?» «Que problema? Vais comigo e está resolvido. Ninguém te tira de lá que eu não deixo.» «Mas...» Compreendi a sua atrapalhação. «Não sabes como se passam as coisas no buffet. Já agora, à mesa. Deixa, não te preocupes. Basta veres como eu faço. Vai ser canja, Jacinto. Acredita.» «Não gosto lá muito de canja. Mas com a larica que tenho tudo marcha.» Sorri perante tanta inocência. «Vamos lá então à canja.» O risco que corria nada tinha a ver com o desempenho do Jacinto numa luta complicada de faca e garfo com o peixe, a carne e as batatas estufadas e os legumes. O modo estranho e complicado (para ele) como se tiravam e depois se degustavam. O problema era outro. Agora que estava em guerra não só com o casino mas com a inspeção, por causa de um problema de lana caprina que tinha a ver com manipulação ou excesso de inteligência artificial no software das máquinas, a presença de Jacinto podia significar que eu tentava sacar dele alguma informação, informação essa, diga-se, que afinal aquela alma inocente talvez não tivesse. Mas um pressentimento dizia-me que ia valer a pena. Aquela de ele saber que tinha jantado uma vez com o misterioso Vítor dava para pensar. Foi o próprio Vítor que lhe contou ou a coisa era mais complicada? E uma dúvida: aquela alma simples era mesmo uma alma simples? «Deixa lá a faca em paz e usa o pão para empurrar que ninguém se vai zangar. De certeza que não queres vinho?» «Só bebo água, senhor Mário.» «E um sumo?» «A um sumo já não digo que não. Sabe uma coisa?» Pousei o garfo e a faca no prato, interrompendo o ataque ao arroz malandrinho de polvo. Que vinha ali? O Jacinto ia falar do Vítor? As funções do Vítor no Fort Knox podiam ser encaradas sob dois pontos de vista. Ou eram de cariz meramente pessoal ou então encomendadas por quem podia claramente beneficiar com a sua atividade de angariador de jogadores que apostavam forte. Os prémios chorudos que ia auferindo um jogador de fracos recursos apontavam para a segunda hipótese, mas uma notícia que caiu como uma bomba entre os utentes anulou radicalmente essa mesma hipótese. Dois dias antes de "deflagrar a bomba" o Vítor pediu-me vinte euros emprestados. Tinha fama de não pagar a quem pedia emprestado, mas comigo nunca aconteceu. Não era a primeira vez que me pedia dinheiro e nunca tive razão de queixa. Pagou sempre religiosamente a sua dívida. No dia seguinte quis saldar a dívida. «Faz-lhe falta, Vítor?» «Por acaso faz. Dá-me jeito para almoçar amanhã. Agradeço-lhe se...» «Então, pague amanhã.» «Certo.» E pagou. Deve ter sido por volta das dez da noite. Encaminhava-me para a zona das máquinas dos "cifrões" ("the game of money") quando apareceu na minha frente com a nota de vinte nas mãos. Saí antes das duas da manhã. E mesmo em cima do fecho aconteceu a cena que, aparentemente, o tramou. Não resistiu à tentação de sacar de uma máquina um ticket de perto de mil euros. Tinha saído a uma utente do Fort Knox um jackpot de mais de três mil euros que foram pagos, como de costume, por dois funcionários do casino. Na altura o Vítor assistia ao jogo sentado atrás da feliz jogadora. Três mil euros era muito bom, mesmo para uma jogadora que apostava forte. Tão bom que até se esqueceu (?!…) dos cerca de mil euros que ainda estavam na máquina. O Vítor negou veementemente que fora o autor do furto. De nada lhe valeu porque tudo fora gravado e, devolvendo ou não devolvendo o dinheiro que era da utente, por sinal sua amiga, a expulsão foi inevitável. Tudo bem. Ou por outra, tudo mal. Quem se apropria do bem alheio tem que ser condenado. Mas tudo bem porque a verdade veio à tona de água. Subsiste, contudo, uma dúvida. O Vítor era talvez a pessoa que melhor conhecia os segredos do casino. Sabia muito bem que o momento do roubo seria gravado e no entanto não resistiu à tentação. Sempre eram mil euros. Não. Quanto a mim, aquele homem que dava muito dinheiro a ganhar ao casino em função dos "amigos" que cativava para jogarem forte nos Unicorn e que deixavam milhares de euros nas "bocarras dos monstros", aquele mesmo homem que, inexplicavelmente era bafejado com frequência pela sorte, mesmo jogando fraco (e o mesmo não acontecia a muitos outros), que conhecia de olhos fechados todos os mistérios dos bastidores, não podia cometer, senão conscientemente, aquele erro crasso de amador. Mas o certo é que nunca mais pisou as alcatifas do casino, já gastas e a apontar para o nojento, e a pedirem substituição urgente. Isto para não falar de potenciais ninhos de acolhimento de pulgas, insetos repugnantes e inimigos da saúde pública. E já agora, recordo as baratas que caíram do teto e "viajaram" nas malas das utentes, do casino para as suas casas. Aconteceu, muitos utentes testemunharam e fica aqui para memória futura. Ele sabia muito bem que sorte o esperava depois daquele roubo. No entanto, o mesmo tornou-se irresistível. Um absurdo, porque ele era o Vítor guardador de máquinas e não só. Principalmente e não só. Quanto a mim havia outra explicação para aquele ato irrefletido de uma pessoa experiente e de uma inteligência acima da média. Será que se tornou indesejada a sua presença a ponto de lhe proporem, a troco de uma quantia a que não podia dizer que não, a saída do casino, por tempo indeterminado ou para todo o sempre? E por que motivo era indesejada a sua presença no casino? Vai para um ano que o Vítor foi expulso e, para mim, o motivo da sua expulsão ainda não veio ao de cima. Há muita nebulosidade que lança a dúvida. Assim, continuo convencido que existe outra verdade para além daquela que querem impingir aos ingénuos dos quais não faço parte. Entretanto o caso está praticamente esquecido, até pelos utentes que lidavam mais com ele. Voltei a mim. Então o que queria contar-me o Jacinto? «Ontem fiz uma ação boa.» «Ah...» Então era isso. Uma boa ação. E isso significava uma grande desilusão para mim. Achei curiosa a permuta do substantivo com o adjetivo. «Venha lá ela. Mas antes não queres comer mais um pouco de borrego? Ou arroz malandrinho de polvo…?» «Obrigado, senhor Mário. Já estou cheio.» «Portanto, satisfeito. Sou todo ouvidos, Jacinto.» Eram nove da manhã quando chegou ao café onde tomava o pequeno almoço depois das habituais cenas de higiene e isso. Sim. Porque ele tomava a sério os seus cuidados higiénicos. Um euro bastava para tomar banho nos balneários públicos, lavar a sua roupa, fazer a barba e tudo o mais.
«O quê? Aquele indivíduo a pedir uma cerveja a esta hora da manhã?» pensou. «Não vou deixar. O rapaz é novo e tem ainda muitos anos à sua espera.»
«Oiça, lá, meu…»
«Meu é comigo?»
Caldo entornado. Aquele fulano andrajoso já tinha muito combustível dentro e podia ser explosivo meter-se com ele. Pelo sim, pelo não impunha-se recuar. Mas, pensando melhor, talvez valesse a pena tentar ajudá-lo.
«Vou fazer-te uma proposta.»
O jovem olhou-o, desconfiado.
«Bem, bem. Para já ficas avisado, bicha. Não quero nada com tipos como tu. Devias ter vergonha na fuça.»
«Não é o que pensas» sorriu. «Eu estou do teu lado, pá. Ainda não virei para o outro lado…»
Se a sua companheira das noites mal dormidas, por via das condições que o mundo agreste lhes proporcionava, ouvisse aquele diálogo, que diria?
Aliás tinha que perder aquele receio estúpido e dizer-lhe a verdade sobre os seus sentimentos. Definitivamente ia à procura de trabalho, nem que fosse outra vez de serventia a pedreiro. Gostava muito dela e ia tirá-la da lama. Que os calos daquele trabalho maldito fossem para o diabo. Ela merecia o sacrifício. Depois, a sua inteligência ia ajudá-lo a sair do marasmo do seu mundo número um que, aliás era até à data o seu único e verdadeiro mundo.
«E então o que aconteceu, homem? Desembucha lá!»
Falava da mulher que tornava as suas noites menos agrestes?
«Desculpe, senhor Mário. Conversava com os meus botões. Mas, como ia a dizer…»
«Venha lá a proposta.»
Jacinto virou-se para o empregado do balcão.
«Suspenda o pedido deste senhor.»
E depois encarou o jovem de ar miserável, sujo até dizer basta.
«Aliás, são duas propostas.»
«Mau mau.»
«Não bebes a cerveja, meu. Em troca pago-te um galão e uma sandes de queijo. E toma lá um euro para tomares banho no balneário público que não fica longe daqui. Com um pouco de sorte dão-te roupa lavada.»
Uma sande de queijo e um galão não iam fazer grande mossa no seu exíguo orçamento. Aliás, precisava de baixar aquela barriga dilatada que não o deixava correr à sua maneira e que também devia desgostar a Gracinda.
«Tudo isso?»
O olhar turvo que mostrara até então desapareceu como que por encanto. Não passou despercebido a Jacinto.
«Parece que estou a ganhar a batalha.» Pensou.
«Sim. Se não beberes a cerveja.»
«Então, de acordo.»
O empregado, que acompanhara a conversa, intrometeu-se.
«Sirvo este gajo?»
«Não é assim que se trata uma pessoa. Nem que a pele não tenha a nossa cor...»
O empregado não respondeu. O "gajo" é que cresceu para ele.
«Exijo outro tratamento, ó meu grande cabrão!»
«Calma, amigo. Ele já está a atender-te. E com essa linguagem perdes toda a razão.»
«Bom, esqueço a afronta mas só por ti.»
«E foi assim que aconteceu.»
«De facto praticaste uma boa ação, Jacinto. Mas ouve lá… O homem dirigiu-se mesmo ao balneário público? Viste?»
«Isso não sei. Que estava muito encardido, apesar da cor, lá isso estava.»
«Bom, Deus dá-te o retorno.»
«O que é isso, senhor Mário?»
«Serás recompensado.»
«Bem gostava. Tenho um segredo para contar-lhe…»
«Ah! Finalmente!» admiti, silencioso, para os meus botões.
«Já vais contar. Entretanto esperam-nos os doces. Gostas de torta de cenoura?»
«Para falar verdade, senhor Mário, gosto de tudo o que é doce. Principalmente…»
«Sim?»
«Da Gracinda. Uma doçura de mulher. Pena é que ela tenha apanhado aquele vício maldito. Nunca me contou o que aconteceu para ficar marada daquela maneira. Talvez tenha sido um mal de amor. O amor devia ser sempre bom, não acha?»
Ingenuidade a tua, Jacinto!
«Quando não é correspondido, torna-se complicado. Mas vamos lá aos doces. Faz como eu faço. vais ver que é fácil.»
«Porque foi que me convidou hoje para jantar?»
Que ia dizer?
«Ora... porque és um bom rapaz e não fazes mal a uma mosca.»
«Se elas me atormentarem o caso muda de figura.»
«Claro. Foi uma forma de dizer. Uma metáfora.»
«Uma quê?»
«Deixa. Vamos atacar os doces. Põe no prato tudo o que quiseres. Usa uma das colheres que estão em frente aos doces.»
«Que pastéis de nata tão pequenos!»
«Tira mais que um.»
De novo, sentados à mesa.
O meu copo estava outra vez cheio e o Jacinto tinha novo Sumol de pêssego na sua frente.
«Mas...»
«Não te preocupes, Jacinto. Foi tudo pago à entrada. Cada um tem direito a duas bebidas. Queres já o café?»
«Pode ser, se faz favor.»
«Antes de falarmos da Gracinda, sabes alguma coisa do Vítor?»
«Não. Nunca mais o vi.»
«Acreditas que ele foi embora pelo roubo dos mil euros ou ali andou outra coisa?»
Demorou a responder.
«Eu porto-me bem. Nem sequer me abaixo para apanhar um ticket do chão. Nunca se sabe. Todo o cuidado é pouco, não é? Um amigo meu foi expulso só por causa de um ticket de dois euros que viu esquecido numa máquina.»
«Compreendo o teu receio, mas podes confiar em mim. Se sabes de alguma coisa mais, por favor conta-me. Quanto a mim o Vítor foi para outro casino porque lhe pediram para ir. O motivo, desconheço. Que achas deste caso?»
«Não sei de nada, não sei de nada. Juro.»
Deixou um rasto de receio no olhar.
«Calma, homem. Ninguém vai fazer-te mal. Ele convidou-te mais que uma vez para jantar. Não falaram só de alhos e bugalhos, pois não?»
«O que é isso?»
«Tiveram conversas sobre o que se passava no casino, não tiveram?»
«Queixava-se muito de um chefe de sala. Até os vi discutirem uma vez.»
«Eu sei, Jacinto. Também assisti a essa discussão. Mas sobre aquela noite…?»
«Não sei nada, juro!»
«Pronto. Vou dizer-te o que penso sobre o assunto. Ouves e se quiseres, comentas. Só se quiseres.»
«Está bem.»
Expliquei o meu ponto de vista. Pensava que mais que uma pessoa se tinha queixado na administração e até na inspeção sobre os prémios altos que o Vítor tirava com frequência. Alguém mais importante entre os utentes fez transbordar a água do cálice e tiveram que fazer um acordo com o Vítor. Ele achou fraca a compensação e propôs outro valor. Entretanto passaria a estar menos tempo no Fort Knox até que houvesse um consenso. E foi então que comecei a vê-lo em certas máquinas de um cêntimo. Aí deu-se bem, principalmente nas "cobras", como ele chamava ao jogo. As queixas não pararam e acabou por haver acordo. Então aconteceu aquela comédia do ticket.
«Achas que o Vítor era pessoa para cair naquela armadilha que conhecia de cor e salteado?»
«Claro que não, senhor Mário. Ele falou-me mais que uma vez das câmaras. Que era tudo filmado. É por isso que eu não tiro nenhum ticket das máquinas sem que os meus amigos me peçam, percebe?»
«Bom, então sempre falavam de coisas… Mas que cara é essa, Jacinto?»
«É que vi passar lá fora o chefe Sardinha.»
«E que tem isso?»
«Parou e ficou a olhar para cá. Tenho medo de ir para a rua.»
«Não vais nada, parvo.»
«Agora posso falar da Gracinda?»
«A Gracinda é a tua namorada?»
«Oxalá fosse. Mas o chefe Sardinha está a chamar-me.»
«Vai lá que eu espero. A seguir falamos da Gracinda.»
Acreditava que o Vítor, guardador de máquinas e não só, era um homem oportunista que só olhava para o seu umbigo, homem sem coração (como afirmou um dia o Francisco) que sabia contornar problemas como, por exemplo, dívidas a utentes de que se falava, aliás, à boca cheia, não tinha caído na teia habilmente urdida para um leigo que na verdade não era. O motivo da sua expulsão era outro e talvez a minha hipótese batesse certo.
Pensei no Jacinto porque era muitas vezes convidado para jantar com ele. Mas o Jacinto era uma alma pura. Um poço de silêncio. E esse poço estava seco na noite em que o convidei para jantar. Talvez não soubesse de nada do caso. Teria que procurar outra fonte.
Sentado ainda à mesa, vi o Jacinto, o tal homem simples e ingénuo, a falar com o Sardinha, chefe de sala com quem eu já tivera uma discussão por causa do eterno problema da manipulação das máquinas, tese não apoiada pela inspeção. Para os inspetores com quem contactei o jogo era aleatório. Contrapus, apresentando dados. Mas pronto, dali não saíam. Almas honestas, ou a fazerem-se de almas honestas e na verdade a cumprirem o seu papel. Mas isso era outra história que talvez um dia viesse à ribalta com todos os projetores de luz apontados para os corruptos.
De que falavam no momento o Sardinha e o Jacinto?
Muito gostava de ser mosca!


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