Mário frequenta o segundo de Geológicas. Deixou Matemáticas Gerais para trás. Não sabe como aconteceu. A terceira frequência correu-lhe bem, mas a nota esteve longe de corresponder ao que esperava. Pensa que houve um engano. Por exemplo uma troca de notas. Devia ter pedido revisão de provas. Não o fez e arcou com as consequências. Agora tem mais uma cadeira, além das do segundo ano. Está desanimado. Precisa de arrumar a vida. Talvez um emprego seja solução.
Respondeu a um anúncio relacionado com a estatística. A entrevista correu bem. O entrevistador era um sujeito barrigudo, de aspeto mal cuidado. Sempre muito sério, este foi fazendo perguntas a que respondeu sem dificuldade. Tudo rápido e fácil. Começa no primeiro dia da próxima semana. Vai ser difícil conciliar o estudo com trabalho, mas no estado de desânimo em que está pode ser que tenha encontrado um bálsamo.
Três dias depois subiu até ao sétimo andar de um prédio acabado de construir, ainda sem elevador. Azar dos Távoras. Ia ter que fazer um esforço físico diário, mas era jovem.
O trabalho relacionava-se com inquéritos que tinham que ser tratados de futuro estatisticamente. Era o primeiro colaborador. Achou aquele trabalho monótono, mas foi o que conseguiu arranjar.
Os dias corriam lentos. De manhã e a seguir ao almoço subia as infindáveis escadas que davam acesso ao local de trabalho. Custava-lhe subir a escadaria principalmente a seguir ao almoço, uma vez que o mês tinha começado já muito quente.
Passou-se uma semana. Dominava perfeitamente o trabalho.
Nos dias seguintes apareceram outros colaboradores para fazerem o mesmo trabalho. Era ele quem os preparava para as tarefas que tinham que fazer. O chefe, homem de poucas falas, fechava-se no escritório improvisado e mal lhe punham a vista em cima. Achava que o homem era muito estranho.
No fim do mês ficou à espera do ordenado. Passou-se uma semana e nada. Urgia falar com ele. Tinha que pedir explicações. E se bem o pensou, melhor o fez. O homem desculpou-se conforme pôde e Mário começou a ficar desconfiado. Deu-lhe uma semana.
No fim do mês ficou à espera do ordenado. Passou-se uma semana e nada. Urgia falar com ele. Tinha que pedir explicações. E se bem o pensou, melhor o fez. O homem desculpou-se conforme pôde e Mário começou a ficar desconfiado. Deu-lhe uma semana.
Tempo mal empregado. O homem era um vigarista. Chamou-lhe por esse nome na frente dos seus colegas e despediu-se. O fulano ficou impávido e sereno, como todos os vigaristas que se prezam. Atónitos com a cena, os colegas tentaram demovê-lo da decisão. O homem acabava por pagar. Mas ele achava que não. Antes de sair de vez, disse-lhes, com veemência, que estavam só a perder tempo porque ele nunca iria pagar. Que se fossem embora quanto antes, pois estavam a trabalhar de graça.
Nunca mais os viu. Nem o aldrabão das estatísticas. Lamentou o tempo perdido ingloriamente. Sem o dinheiro com que contava entrou quase em depressão. Esteve uma semana sem ir às práticas. Finalmente serenou e voltou às aulas e recomeçou a estudar. De preferência nos cafés, uma vez que na solidão do seu quarto não conseguia concentrar-se.
Nunca mais os viu. Nem o aldrabão das estatísticas. Lamentou o tempo perdido ingloriamente. Sem o dinheiro com que contava entrou quase em depressão. Esteve uma semana sem ir às práticas. Finalmente serenou e voltou às aulas e recomeçou a estudar. De preferência nos cafés, uma vez que na solidão do seu quarto não conseguia concentrar-se.
Já tinha saído da pensão da pensão da rua de S. Bento dos indianos de má memória. A pensão da "Aninhas morte-lenta" (1), na travessa de S. Sebastião era agora o seu lar. Partilhava o quarto com um colega de Biológicas que, por sinal, era da PIDE e ele não sabia. Correu tudo bem porque nunca falaram de política.
Nessa altura, o Mário tinha Alguém lá em cima que gostava muito dele. Era o que pensava. Até que mudou de opinião.

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