Urbino não perdeu o estranho hábito de exorcizar a iniciação do bónus de quinze jogadas gratuitas nas máquinas das Cleopatras quando surgem no monitor pelo menos três faraós. Há quem lhes chame impropriamente "cabeças" e a Micá, uma das muitas jogadoras inveteradas e também adepta das Cleopatras, que, quando pretende reverter um ticket em dinheiro vivo diz que vai destrocar o mesmo, dá-lhes o nome de "bonecos". O que quer que seja o nome dado às figuras que aparecem no monitor, estas são recebidas com agrado e expectativa pelo jogador. O desfecho do jogo é imprevisível, mas já está determinado pelo programa na série que no momento está em atividade. Acrescente-se que, ultimamente, essa imprevisibilidade perdeu crédito uma vez que os prémios são cada vez mais baixos, chegando a rondar o ridículo. Claro que quanto mais alto é o valor da aposta mais hipótese o jogador tem de arrecadar uma maquia maior. Mas cuidado com as expectativas criadas. Infelizmente está mais que provado, e cada vez mais aceite pelos utentes, que o jogo não é aleatório nas slot machines. Os contestatários têm vindo a crescer [1] em número, mas não passam das palavras conspiratórias talvez por terem receio de serem colocados na ribalta caso alguma ação judicial seja entretanto acionada.
Voltando ao jogo e não entrando ainda na história que tem como ator principal o Urbino, um homem que fala "tu cá, tu lá" com os espíritos, é caso para dizer adeus ilusões em relação aos prémios que são cada vez menos frequentes e mais baixos. Aliás, há muito que não se ouve dizer um fiscal, chefe de sala, ou inspetor que o jogo é aleatório. Isto a propósito de uma interpolação por parte de um utente mais exaltado. Agora a resposta tem cariz mais humano.
«Jogue mais baixo.»
«Circule mais.»
«Guarde bem o seu dinheiro.»
Ou então, quando os ânimos se exaltam um pouco, arroz queimado:
«Você só vem cá porque quer...»
O próprio Mário já desistiu das visitas frequentes à inspeção quando verificou que cada vez era mais prejudicado no jogo. E nunca acreditou em coincidências. Lutou enquanto pôde. Expôs os seus argumentos aos pretensos defensores dos interesses do Estado e dos utentes e nunca teve uma resposta favorável. Azar? Tal como no jogo nem sempre se pode ter sorte e nem sempre se pode ter azar. Mas convencer os inspetores que nem sempre a razão está do lado daqueles que vivem dos utentes e dos resultados das máquinas foi desde princípio uma missão impossível.
A última vez que o Mário apresentou uma reclamação podia te sido um ponto de viragem. O inspetor que ficou com o seu processo parecia ter um ponto de vista diferente dos seus colegas. Em primeiro lugar os dois estavam de acordo quanto aos problemas que traziam para a saúde a autorização dos utentes poderem fumar em espaços de acumulação de gases tóxicos como era o do Fort Knox na zona das últimas máquinas a contar da direita, que chegavam à parece. Mário tinha reclamado, em tempos, e a resposta fora um não. Aquele espaço, como outros, tinha uma tiragem do ar eficaz e nada justificava a sua reclamação. Já o inspetor tinha uma opinião diferente e chegou a dizer a Mário:
«Estou a lutar para acabar com isso.»
Quanto ao resto, pouco adiantou ou pôde adiantar. Mas já no exterior do gabinete disse a Mário, quase num sussurro:
«Não desista!»
Voltando ao Urbino, homem muito agarrado ao vício, continuou a frequentar o casino e a deixar-se manietar nas suas teias. Ainda por cima tinha a pressão dos seus espíritos que lhe bloqueavam as pernas quando estava a ganhar quantias chorudas e insistia em continuar a jogar sem levantar o ticket. Dois em um. Os que lhe davam prémios porque sabiam que os ia devolver a breve trecho e também aqueles tais espíritos maléficos. Até ao fim do fim continuaria a lutar contra um inimigo que já entrara há muito nas suas defesas. O monstro do vício continuaria com ele até ao dia em que a vida se despedisse dele. E tal evento iria acontecer fatalmente algures no tempo. Por enquanto, e talvez ao longo de muito tempo, a imortalidade era só privilégio dos seres vivos unicelulares.
Mais um dia de fim de tarde em que a esperança brilhava nos olhos do Urbino, homem pacífico que até nem se revoltava com o mau destino que Deus lhe tinha traçado. Com o habitual ar descontraído entra no casino pela enésima vez. Acredita que desta é que vai ser. Até porque mudou de visual e os seus óculos escuros são uma máscara ideal para não ser reconhecido pelos supostos manipuladores do casino, bem como por alguns invejosos que só lhe lançam maus olhados que podem ser fatais, quem sabe também, pragas. Quanto aos espíritos, parece-lhe que esses mudam todos os dias e é só uma questão de sorte a coincidência de ter a acompanhá-lo um bom guia.
«Olá, senhor Urbino, tudo bem consigo?»
Reconhece o interlocutor. O Jacinto não é mau rapaz. Um pouco a atirar para o tosco, mas um hábil conhecedor do momento certo para intervir para poder tirar o seu proveito. Só é pena ele comportar-se como se fosse uma lapa.
O Jacinto, também conhecido pela alcunha do Sombra [2] tem pressentimentos que às vezes até batem certo.
«Sinto-me bem. E contigo, também está tudo bem?»
«Tudo.»
«Olha, fica por aqui.»
«Está bem, senhor Urbino.»
É um palpite. Talvez o Sombra anule a má sorte naquela noite.
«Há ali uma Cleopatra vaga...»
«Bem vi.»
O jogo chama-o. Quer acreditar que o polvo não vai usar os braços todos. Se o espírito-guia lhe for favorável é ouro sobre azul. Até porque tem uma crença na sorte que o pobre diabo do Jacinto lhe vai dar.
Nessa noite traz consigo mil euros, produto do suor do seu trabalho. Nada de inspiração. Tudo transpiração. Não é pessoa para grandes sonhos. O que é, é.
Antes de começar o jogo baixa um pouco os olhos e mira o espaço à sua volta.
«Ali está a Micá invejosa. Cheira-se à distância. E também o Chorão [3]. Ó Jacinto!»
«Estou aqui, senhor Urbino.»
«Toma lá vinte euros e vai ao supermercado comprar alhos. Três cabeças das grandes. O resto do dinheiro fica para ti.»
«Mas...»
«Faz o que te digo. Trá-los escondidos. E bico calado.»
«Obrigado, senhor Urbino.»
E lá foi o Jacinto, cheio de interrogações, comprar as três cabeças de alho. Para que queria ele os alhos?
«E vós, meu superior guia, achais que eu devo começar a cento e vinte cinco créditos?» perguntou para os lados do mundo invisível.
Ouviu dizer não. Então ia já começar a duzentos e cinquenta. Precisa de multiplicar por muito os mil euros.
«Mas não é no Fort Knox que podes fazer essa multiplicação.»
Não sabe de onde veio aquela voz. Provavelmente veio de si. Ao mesmo tempo, recordou-se de um conselho que lhe deu, em tempos, o Senhor dos Passos [4].
«Ó pá, se queres ganhar dinheiro, arrisca antes nos "88". Aí ganha-se e perde-se bom dinheiro. O prémio máximo já está perto dos trinta mil euros.»
Mas ele só gosta das Cleopatras do Fort Knox. É certo que o brasileiro já ganhou aí mais de quarenta mil euros, mas foi nos Unicorn. E outra fulana também. Esta, recentemente.
«Que se lixe!»
São aquelas máquinas feitas sereias que o encantam. Principalmente quando surgem as três "cabeças" que agora acaba de ver atrás do vidro espesso do seu monitor e que o fazem retomar o sonho de muitos sonhos que deram em nada. É só aguardar dois ou três minutos e terá a resposta.
«Dez mil e cem créditos! Porra de azar o meu!»
Continuou a jogar. Depois do bónus foi duas vezes ao cofre. Mas, para grande azar, ficou-se por ali.
«Aqui está a encomenda, senhor Urbino.»
«O quê?»
«Aquilo...»
«Ah sim. Dá cá, Jacinto.»
Introduz uma das cabeças no bolso da camisa e as duas restantes em cada um dos bolsos das calças. Agora, sim. Estava protegido dos maus olhados e da inveja da Micá.
O Sombra seguiu atento os movimentos do Urbino com uma certa apreensão. Não sabia o que estava a passar-se na cabeça dele.
«Pirou-se de vez!» pensou.
Para que serviriam aquelas cabeças de alho?
O tempo foi-se passando. O Urbino estava agora a jogar a aposta máxima.
«Dez euros cada vez!» Admitiu o Jacinto. «Assim não vai longe.»
Dito e feito. Pouco depois já estava a perder quase setecentos euros. Restava-lhe pouco dinheiro. Talvez... se...?
Levou uma mão ao bolso da camisa e deu uma unhada forte no alho.
«Que cheiro horrível!» queixou uma utente ao lado.
Olhou para ela, mas conteve-se. Não replicou com a resposta que tinha na ponta da língua.
«Vá lá...»
Já tinha ido mais cinco vezes ao cofre e nem sequer chegou à prata.
«Será agora? Um ouro dava muito jeito.»
Estava de novo no cofre. As três primeiras jogadas tinham sido auspiciosas. O Sombra observava, em pulgas, todo o evoluir da situação.
«O ouro já está garantido. Só faltam quarenta e cinco pontos para a platina.»
«Tens a certeza, ó Jacinto?»
«Força, senhor Urbino!»
Pareceu-lhe tão fácil chegar à platina!
Deu um murro forte no vidro do monitor. Era uma forma de descomprimir após todo aquele stress.
«Não jogue mais, Urbino. Vá já para casa.»
«Ah... é a doutora. Tem razão. São só mais cem euros depois de receber o prémio.»
«Parabéns.»
Voltou-se para trás. Era um fiscal a visitá-lo. Tiro e queda. Admirou-se por ele ter chegado tão rápido. Depois, encolheu os ombros.
Finalmente teve um momento de sorte. Mais de dois mil e quinhentos euros.
«Toma para ti.»
O Jacinto olhou, encantado, para a nota de cinquenta.
«Obrigado, senhor Urbino. E parabéns.»
«Agora vai à tua vida...»
Já com o dinheiro nas mãos recomeçou a jogar. Não. Não ia abandonar a aposta máxima.
«Bingo!»
Esquecido da promessa que fez à doutora começou a exorcizar a máquina. Primeiro, um toque rente no vidro de alto a baixo. A seguir, outro da esquerda para a direita. Finalmente uma série de círculos imperfeitos no sentido dos ponteiros do relógio e finalmente ao contrário, no sentido contrário.
«Aquele sacana repetiu!» exclamou a Micá, incrédula e irada, com um olhar dardejante para os lados do Urbino. «É preciso ter muita sorte...»
«Repare, Micá, que ele está a jogar muito alto...» Informou-a o Zé dedilhador, um utente que não devia nada à sorte porque sorte era com ele.
Indiferente ao comentário que acabara de ouvir, replicou:
«E eu que já estou a perder quinhentos euros?»
«Há de chegar a sua vez, Micá.»
«Deus o oiça.»
Deus não joga aos dados, Micá. Chama antes o 666 que ele ouve-te.
Para os lados do Urbino tudo rolava sobre esferas. Tinha tirado a segunda platina, mas queria mais. Muito mais.
Continuou a jogar porque sentia as pernas presas. O seu guia espiritual assim o determinava.
«Mais uma linha de seiscentos euros!»
Entusiasmado, levou a mão ao bolso da camisa e pressionou com força o alho, olhando intensamente para os lados da Micá.
«Pode ser que ainda venha mais sorte.»
«Breee! Que fedor!» repetiu a mulher que estava ao seu lado.
Apeteceu-lhe dar uma resposta das suas mas conteve-se. Limitou-se a tirar os óculos e a olhar, sorridente, para a queixosa. A seguir fez-lhe uma careta.
Finalmente sentiu as pernas a soltarem-se daquela espécie de prisão.
«É o sinal. Aproveito para fazer uma mija e vou-me embora de vez. Acho que vêm aí más séries.»
No caminho para os lavabos encontrou um amigo.
«Ouvi dizer que hoje tem sido o seu dia.»
«Quem lhe disse, doutor Mário?»
«Foi um passarinho.»
«Não brinque.»
«Vá quanto antes para casa. As séries más devem estar a chegar.»
«Pensei o mesmo. É o que vou fazer.»
«Ainda bem.»
«Não me esqueci do conselho que me deu daquela vez e que não segui.»
«Urbino...»
Era o Zé.
«Esqueceste-se do ticket. Vai lá buscá-lo quanto antes.»
«Ai a minha cabeça de atum!»
Nessa noite ganhou pouco mais de três mil e quinhentos euros. Tudo levava a crer que a boa sorte e o bom senso estavam finalmente com ele.
Voltou ao casino na noite seguinte.
Passavam oito minutos das nove da noite quando ele se sentou em frente à sua "amante" Cleopatra do meio. Introduziu uma nota de cem euros na ranhura da máquina e começou a jogar a cento e vinte e cinco créditos. Sentiu que a máquina não respondia. Aumentou para cento e setenta e cinco. Os cem euros já eram.
«Bom, parece que queres mais.»
E voltou a introduzir outra nota verde e passou para duzentos e cinquenta créditos. A resposta da máquina foi positiva. Em pouco tempo chegou aos quarenta mil créditos. Tudo foi obra de duas idas ao bónus e dos habituais exorcismos. Quem estivesse a observar por trás certamente comentava que "aquele homem não estava lá bem da cabeça". Talvez não andasse longe da verdade. Por outro lado, cada um era como era.
Naquela noite não se resguardou com os alhos, nem tão pouco o Sombra estava presente. Era um risco grande que corria.
«Está ver?» comentou com o parceiro do lado.
«Pois estou. Estou a jogar a vinte e cinco créditos e perco nesta altura quase trezentos euros.»
«Isso é uma ninharia.» Sussurrou.
«Disse alguma coisa?»
«Nada. Estou mudo.»
Se estivesse presente o doutor Mário perguntava-lhe porque não tirava a porra do ticket. Oitocentos euros era muito dinheiro.
Impávido e sereno continuou a jogar e a ver os oitocentos baixarem para setecentos e assim sucessivamente, sempre para baixo.
«Quem me manda ser estúpido?»
Regressara à estaca zero.
Voltou a introduzir uma nota verde e a sorte sorriu-lhe de novo. Mais uma platina de dois mil e duzentos euros que valeu os comentários invejosos da Micá. Desta vez estava também presente a "Flora dos não maridos" que, por acaso, ainda não tinha bebido o seu primeiro whisky velho da ordem.
«Já viste, Flora. Que sorte a daquele fulano!»
«Aquele fulano chama-se Urbino, sua lambisgóia...»
«Oh!»
«É assim mesmo. Ora meta-se na sua vida.»
«E aquelas vezes que o homem tem perdido, não contam?»
Um comentário inesperado do Zé dedilhador que saiu em defesa do Urbino.
«Tenho pena deste desgraçado» interveio em voz baixa para outro um dos habituais observadores. «O homem há uns tempos confessou-me que já tinha ganho mais de duzentos mil euros no Casino Estoril...»
«E isso é ter azar?»
«Não me deixou acabar, porra! O homem perdeu todo esse dinheiro em pouco mais de um mês.»
«Ah! A propósito, o senhor sabia que noutros tempos davam um bilhete de comboio até ao Cais do Sodré aos jogadores que perdiam no casino o que tinham e o que não tinham?»
«Pois sabia. Nem todos chegavam ao Cais do Sodré. Ficavam, por exemplo, em Oeiras ou em Algés.»
«Mas houve uns tantos que nem sequer usaram o bilhete de comboio.»
«Ah sim?»
«Atiraram-se para debaixo do comboio, meu amigo.»
Talvez o Urbino não tivesse ouvido esta conversa, porque o jogo continuava a sorrir-lhe e isso é que lhe interessava. Ao mesmo tempo não arredava pé porque o seu mensageiro secreto mantinha a sua de prender-lhe as pernas.
«Eles continuam a abrir-lhe a máquina, Flora» comentou com o seu olhar incendiado a Micá.
«Deixa que já lhe tratam da saúde. E que faço eu aqui, diz-me? A puta desta máquina não abre nem com molho de tomate...»
«Na verdade estás com azar. Emprestas-me mais vinte euritos, Flora?»
«Esta gaja! Que lata.» Pensou. «Julga que sou mãe dela.»
Sentia-se feliz. A leste de tudo e de todos, pensava que estava a chegar a sua grande hora. Ele era o maior! Se a sorte continuasse a sorrir-lhe até podia largar o trabalho.
Foi com tristeza que viu as pernas soltarem-se. Ia dar uma mija e saía do casino rumo ao vale dos lençóis. Os gajos já não podiam tirar-lhe aqueles quatro mil e quinhentos euros de lucro.
Continuando a envolver-se num círculo vicioso mágico, como não podia deixar de ser voltou ao casino no dia seguinte. E desta vez optou por chegar ainda mais cedo. Pouco passava das seis da tarde. Ouvira dizer que quase todos os dias davam platinas nas primeiras horas. Por outro lado, não havia três sem quatro. Era terça-feira e ainda nem todas as máquinas do Fort Knox estavam ocupadas. E sabia porquê. A platina estava baixa.
Mais uma vez começou em grande. Quando os créditos atingiram os mil e duzentos euros decidiu tirar o ticket e foi ao balcão trocá-lo. Como sobraram algumas moedas que deixou como gorjeta. O empregado agradeceu, todo ele sorrisos.
«Isto é canja. Vou fu...» Comentou com o Palrador.
Pi!
Não lhe deu resposta.
«Este gajo é cá um malcriado.» Disse entre dentes.
Se o Mário por acaso estivesse presente seguramente adivinhava o que ia no íntimo daquele jogador de apostas baixas que estava habituado a ter sorte quase todas as noites. Ter sorte, não. Eles davam-lhe a sorte. Um mistério insondável para muitos e não para ele. sabia quem era o seu benemérito.
O dia ainda era uma criança. Muitas águas barrentas iam correr debaixo da ponte. Para ele e para muitos. Na verdade as máquinas estavam ruins. O que não era novidade.
«Devia ter deixado os mil e cem euros. A máquina não gostou.»
Pois não. E continuaria a não gostar naquela noite. Bem se esforçava em exorcizá-la quando ia ao bónus. Um espetáculo que os olheiros do costume tanto apreciavam.
«Que merda esta! Nem cem euros...»
Quanto às idas ao cofre não passava dos trinta euros. O que era mau para quem jogava a aposta máxima. Mas tinha esperança porque sentia as pernas presas. Oxalá o seu guia espiritual soubesse o que estava a fazer.
Em silêncio ia introduzindo na ranhura da máquina nota verde a seguir a nota verde. Vidrado no jogo não dava pela tragédia que se avizinhava. E assim aconteceu. O espesso maço de notas emagrecia sem que desse conta.
Levantou-se para tirar outra nota do bolso esquerdo das calças.
«Mais uma. Mas espera lá, Urbino...»
Contou as notas de cem que restavam. Só oito. Tinham levantado voo as platinas e também outros lucros. Bem como mais mil euros que tirou dos cartões. Não podia ser. Devia ter mais um monte de notas no outro bolso.
«Negativo. Que merda!»
Finalmente despertou. Mas era demasiado tarde. O seu sonho acabava mais uma vez de cair por terra.
«Ainda sinto as pernas presas. Pode ser que as últimas notas de cem façam o milagre.»
Sim, iam sair leões e cavalos. Era isso. O melhor estava guardado para o fim.
Mas pouco depois levantou-se e atirou com os seus óculos escuros para o recetáculo cromado para onde, nos velhos tempos do casino Estoril, caíam, com fragor, as moedas dos prémios.
Furioso, pôs-se a dar socos no vidro do monitor.
«Grandes cabrões!»
Aqueles vidros eram espessos, à prova de choque, mas tinham o seu limite. E o Urbino continuava a desafiar a sorte, batendo no vidro cada vez com mais força. Até que chegou um fiscal. Era novo no casino e atacou o problema com boa educação. Se fosse noutros tempos apareciam logo os seguranças, uns homens corpulentos que não admitiam quaisquer veleidades.
Inevitavelmente o Urbino seria expulso. O que era um bem para ele.
«Não faça isso, amigo. Pode ferir-se se o vidro partir.»
«Amigo? Desde quando?»
«Não se exalte. Por favor, diga o que aconteceu.»
«Muito simples, sabe? As platinas que ganhei, mais de dois mil euros e o pouco que tinha e não tinha dos cartões volatilizaram-se como que por encanto. Compreende agora?»
«Sim.» Confirmou o fiscal maçarico com serenidade.
«E?»
O Urbino encarou o fiscal de uma tal maneira que o Zé dedilhador, também conhecido por Senhor dos Passos, achou por bem intervir.
«O homem não tem culpa, Urbino. Foste burro. As máquinas estão ruins e tu tens abusado com a aposta máxima. São dez euros cada vez que jogas!»
«Pois não tem.» Comentou o indiano que, entretanto, se tinha aproximado da boca de cena.
«Fui roubado, Zé! Mais de seis mil das platinas e outro dinheiro que tinha ganho anteontem e ontem. Tudo voou. Acha normal?»
Foi o fiscal quem respondeu.
«Sim. Eles deram-lhe essas platinas para o senhor gastar hoje.»
Pasme-se. O fiscal acabara de dizer "eles deram". Eles. Quem eram eles? Os donos do jogo manipulado, claro. Portanto, mais uma prova que eles davam ou tiravam o que queriam e a quem queriam. Não era o fenómeno aleatório que intervinha em todo o desenrolar do jogo de máquina. Eram eles!
Ah!, Mário se te tivessem dito estas palavras mágicas "eles deram" no tempo em que fizeste por escrita mais de uma mão cheia de reclamações...
O que espantou foi ninguém ter pegado nas palavras do fiscal e fazer delas o seu campo de batalha.
Assim ia o jogo nas máquinas ronronantes do Fort Knox. Assim ia a verdade em que acreditavam os pobres dos utentes viciados até à medula e que não tinham coragem para reclamar às claras. Assim continuavam a pensar que "amanhã" seria melhor que "hoje".
E que diabo!, não sabiam que o azar nem sempre estava atrás da porta?
«É canja.»
Disseste, Urbino, nas primeiras horas de hoje. Foi canja, mas para os sacanas dos manipuladores informáticos que passaram entre os pingos da chuva, bem como para todos aqueles, com responsabilidade máxima, que davam as ordens decisivas para que as máquinas funcionassem a favor do seu vento.
Até quando?
Muito simples. Até sempre. Enquanto neste país de brandos costumes, com esqueletos escondidos em armários, os utentes optassem por assobiar para o lado ou tivessem instintos de luta quixotesca que não conduziam a parte alguma.
«Não desista.» Disse o inspetor quando saiu com o Mário do gabinete da última vez que este foi saber uma reclamação.
Mário, desististe de lutar demasiado cedo!
E quanto ao Urbino, exorcista de si que não conseguiu exorcizar as máquinas?
Há meses que não é visto no casino. Mas vai voltar...
«Viva, amigo Mário.»
Era o Vítor, manipulador e guardador de máquinas.
Encarou-o como se tivesse vindo de longe. Era natural. Em boa verdade, as galáxias moravam longe. Algumas a milhares de milhões de anos-luz de distância.
«Olá, Vítor, como estão as máquinas hoje?»
O Vítor, que jogava no momento numa máquina dos cavalos, as mais fustigadoras mas também imprevisíveis em relação a prémios chorudos, virou-se para cumprimentar o seu amigo.
«Estou a jogar forte e ela não corresponde. Já lá vão mais de quinhentos euros.»
Sorriu para o Vítor pela razão muito simples que jogava em três linhas, o que perfazia seis cêntimos em cada batida na tecla de reapostar.
«Acredito, Vítor. É doloroso ver uma máquina "fechada"...»
«Pois é. Quer a minha máquina?»
«Obrigado. Hoje só venho como observador.»
«Outra vez zangado com a inspeção?»
«Não. Indiferente. Deixei-me disso porque não levava a nada.»
Nem Maomé ia à montanha, nem a montanha ia a Maomé.
«Fez bem e espero que continue a fazer.»
«Enquanto conseguir.»
«E os selos?»
Mário fez um compasso de espera. Uma máquina dos livros tinha boa hipótese de dar o ouro. Não ao bandido, mas provavelmente a um desgraçado que já tinha investido muito naquela noite.
Falso alarme. A máquina ficou-se pela prata. Pouco mais de cinquenta euros de prémio.
«Estou só em manutenção. O mercado anda pela hora da morte. Há muita oferta com preços baixos, mas nada de especial. O que é bom só se consegue nos leilões.»
«Tenho lá em casa umas moedas...»
«Não sou colecionador de moedas, mas, se quiser, um dia vê-las. Almoçamos por aí. Você traz as moedas e eu o catálogo para ficar com uma ideia.»
«Combinado. Mas de certeza não quer pôr na máquina uma nota de vinte? Pode ser que ela vire...»
«Obrigado. Hoje venho à procuro inspiração. Tenho um amigo que escreve histórias num blogue e eu recolho-as para ele.»
O preparador de máquinas fez um gesto de concordância com o indicador direito.
«A propósito de inspiração, quer ouvir uma que se passou há dias?»
«Sou todo ouvidos, Vítor.»
Mais imperial, menos imperial, a Lucrécia, uma amiga da Micá, sentia-se feliz naquela noite. Não que o jogo lhe corresse de feição. Antes pelo contrário. A máquina nada queria com ela. A razão era outra. Conseguira finalmente meter conversa com o hermético Esteves Pires e tudo parecia ir de vento em popa. E havia outro motivo para sentir-se feliz. Ia esquecer uma triste relação que nunca devia ter acontecido. Sorte a sua conseguir pôr fora do baralho o Tinoco, mais conhecido no milieu por Hitler, alcunha que lhe deu o Vítor por causa do bigode. Boa, Lucrécia. Aquela paixão relâmpago com o Esteves Pires veio mesmo a calhar. E que se lixasse o jogo naquela noite. O melhor estava para vir. Mas antes, era altura de saudar a chegada de mais uma "loirinha" das grandes que a Micá lhe trazia.
«Obrigada, Micá. Veio mesmo, mesmo na altura. Quer dar um beijinho, Esteves?»
«Como diz?»
«Na imperial, está visto.»
«Ah sim, obrigado. Não bebo.»
«É quanto perde.»
«Pois.» Sorriu.
«Mas ia a dizer uma coisa. É muito parecido com um colega meu. Não é, Micá?»
A Micá estava concentrada noutro sítio.
«Olha quem tirou uma linha... Pelo menos trezentos euros. E a jogar a treze linhas...»
«Desculpe, Esteves.»
E virou-se para a sua direita, esticando o pescoço fino.
«O safado do Palrador que nunca se cala! Mas dizia eu, Esteves...»
«O que é que dizia?»
«Olhe, não me lembro. Não interessa. Já tem o meu contacto?»
O outro disse que não. Tinha então chegado a altura de trocarem contactos. Ambos pareciam felizes. Que mais podia desejar a Lucrécia?
«Boa, Esteves, conseguiu ir ao cofre!»
Estranhou o sorriso irónico do Vítor.
«Não?»
«Já vi que não sabe da missa.»
«Então?»
«Foi cá um gozo danado porque o Esteves joga noutra equipa, percebe?»
Mário ficou banzado.
«Não me diga!»
«Digo, digo.»
«Parecia tudo tão bem encaminhado! Não se faz uma coisa dessas à Lucrécia. Até trocaram contactos. Eu vi.»
«Ele gozou-a indecentemente. Olhe quem acaba de chegar...»
«Só cá faltava este.»
Com os olhos escondidos atrás dos óculos escuros, impenetráveis, acabava de chegar o imperial Urbino, acompanhado, como era habitual, dos seus espíritos invisíveis.
Todo ele respirava total desprezo pelos insetos que imaginava esvoaçarem à sua volta, onde não faltava uma vespa que sabia bem quem era e onde estava.
«Já vou mostrar a esta cáfila quem é o Urbino.» Sussurrou, entre dentes. «Oxalá os espíritos amigos estejam comigo.»
Naquela noite sentia-se vencedor e ainda não tinha começado a jogar. Antes de vir para o casino consultou o seu espírito-guia e sentiu-se encorajado. Sim, aquela noite era a tal. Trigo limpo. Devia atacar forte quando sentisse as pernas mais que presas. Garantidamente só tirava o ticket quando sentisse o alívio.
«Olhe para aquela expressão de matador que ele tem hoje.»
«Estou a olhar.»
Adivinhava-se uma tragédia.
«Espere aí. O que vem a seguir promete.»
Mas o que estavam a ver os seus olhos?
Até tirou os óculos para ver melhor. Era isso. A sacana da Flora jogava em duas Cleopatras.
«Olhe lá...»
«É comigo?» perguntou a Flora, com o ar mais sério deste mundo e arredores.
«Será que estou enganado?»
Nunca o vira rir e agora estava a ler nele uma ironia negra. Já o conhecia de ginjeira. Todo o cuidado era pouco com aquele fulano.
«Pode jogar nesta.»
Paz, Flora. Aquele olhar irado não engana ninguém.
E apontou para a Cleopatra do meio.
«Posso? Não querem lá ver a formiguinha? Eu sou da noite, caramba! E enfrento muitos perigos, sua...»
Pi!
«Não precisa de ser mal educado. Eu já lhe dei a máquina.»
A Flora sabia quando era tempo de ceder. E também como ceder. Educada como era...
«Você estava a jogar em duas máquina e sabia que tal era proibido.»
«Pronto, pronto... jogue à vontade. Mas cuidado que ela está ruim.»
«Estão todas ruins» apontou para o teto. «Eles veem-nos. Sabem muito bem a quem dar.»
«Eles sabem?»
«Pois sabem» voltou a apontar para o teto.» Nós estamos a ser vigiados. Mas não quero mais conversa. E não olhe para o meu jogo.»
Quem viu o Urbino nos primeiros tempos e quem o via agora. O homem estava transfigurado e deitava espuma invisível pela boca. Do dia para a noite tornara-se um homem violento.
«Será que trouxe os alhos comigo?»
Procurou no bolso da camisa e nos das calças. Nada. Nem nos bolsos do casacão. Aliás, trazia vestida uma camisola preta. Preta ou negra? Que se lixasse. Não era racismo chamar por um desses nomes à camisola.
«Vamos lá a ver como ela reage. Foi má ideia ter-me esquecido do alho. E o Sombra não está cá. Agora tenho que usar todo o meu poder.» Admitiu.
«Elas estão ruins.» Comentou o utente à direita.
Sentia-se o máximo. As pernas presas eram o sinal para começar o combate. E que combate se avizinhava! Começar a duzentos e cinquenta era de homem. Dois euros e meio cada batida. Mas talvez fosse má ideia. Devia primeiro auscultar a máquina. Não? Os espíritos apertavam-lhe mais as pernas? Então, tinha que ser assim.
Estava tão embebido no jogo que não deu pela presença de quatro ou cinco assistentes. A noite prometia tornar-se quente.
«Acho que ele vai subir já para quinhentos.» Disse o Mário.
A máquina tinha engolido num ápice os primeiros cem euros. Imperturbável, introduziu outra nota de cem na ranhura da máquina. A seguir, olhou para o teto, desconfiado.
«Grandes cabrões! Bem podem espiar.» Desabafou.
Quantas câmaras havia atrás daquele rendilhado metálico? Isto não contando com as das máquinas.
«Lembra-se, Vítor, daquelas baratas que caíram do teto?»
«Se me lembro, porra. O gozo que foi ouvir os gritos das mulheres. A olhar tanto para o teto, será que ele está à espera que caiam mais baratas?»
«O Urbino falava das câmaras que estão lá em cima.»
Ele e não só. Desta vez não era fantasia sua.»
«Olhe, meteu duas notas...»
«O homem endoidou de vez!»
Estava comprovado que o Urbino ia subir a parada para a aposta máxima.
«Malditos! Vão ver como elas lhes mordem...»
E começou a jogar a aposta máxima. O homem dava já sinais de grande desorientação. Ou lhe davam outra platina, ou o caldo estava entornado de uma vez por todas.
«Está a ver o meu jogo ou é engano meu?»
«Eu?!...» defendeu-se a Flora. «Essa agora!»
Estava na altura da Flora chamar uma menina para lhe trazer um whisky.
«Do velho, carago!»
Referia-se ao whisky velho e não ao velho que a financiava. Mas verdade, verdadinha, a Flora parecia mais interessada no jogo do desorientado Urbino do que no seu.
«Sua...»
Pi!
Longe ia o tempo de um Urbino igual a si próprio e perto estava agora o tempo de ele a lutar contra si próprio.
«O Urbino foi ao ouro.» Informou o Vítor. «E está a jogar a quinhentos.»
«A aposta máxima!» pensou o Mário.
«Com sessenta mil créditos não tira o ticket. Daqui a pouco tempo vão ser favas contadas. Aquele homem não tem dois dedos de testa.»
«É o costume. Por isso dão-lhe bons prémios.»
O Urbino olhou frontalmente para o Mário. Tão frontalmente que este pensou que ia ser injuriado. O homem já transpirava por todos os poros e estava lívido.
«Tem razão, Vítor.»
Estavam muito próximos e o Mário descobriu a proximidade do álcool. Um fósforo aceso e os dois iam pelos ares. E mais outros tantos que estavam nas proximidades.
«Pertenço a uma associação espírita há mais de dez anos e sei como são essas coisas. Mas não posso evitar.»
Não entendia o que tinha a ver ele ser espírita com o que se passava no jogo naquele modo estúpido de jogar. Nunca via aquele homem ganhar porque ele e o casino pareciam estar em sintonia. O casino dava e depois tirava. E o Urbino comportava-se como um árabe a ver arder a casa e a acreditar que já estava escrito no destino e não valia a pena atacar o fogo.
Já vinha de longe aquela verdade de La Palice. Ele sempre a perder e o casino sempre a ganhar. Sem tirar nem por. Mas com uma diferença. De momento comportava-se dignamente, enquanto à sua volta soavam impropérios de fazer corar uma velhinha que não fosse surda.
Sanada a questão da espionagem da Flora, virou-se de corpo e alma para o jogo. Pouco depois estava no bónus. Assim o tinham ditado os três faraós. Já não era sem tempo.
«Agora vamos a ver no que isto dá...»
Começaram então aquelas rezas estranhas, já tão do seu jeito. Parecia um exorcismo feito à custa de linhas imaginárias traçadas num ritmo no vidro com o seu braço direito. Primeiro, eram duas linhas perpendiculares. Segundo, traçava uma série interminável de linhas curvas. Tudo feito com muita paixão em lume brando. Os seus amigos invisíveis assim o ditavam. Que se lixassem os mirones que pressentia estarem a observar nas suas costas o que se passava.
Benzia a máquina ou afugentava o Belzebu?
Viu o resultado. Nem cem euros de prémio. Estava uma bomba pronta a explodir. Mas não. Agora mastigava qualquer coisa. Talvez fosse uma pastilha que atuava como calmante.
«Ainda não foi desta.» Comentou o Vítor.
«Que tirou um jackpot?»
«Não, meu amigo. Que voltou a partir a loiça toda.»
Já tinha acontecido recentemente.
«Merda! Isto é demais!»
E virou-se para trás, na direção do Mário.
«Viu isto?»
O visado aproximou-se mais.
«Tenha calma. Talvez a sorte venha para a próxima.»
«Eles estão a ver-me e lixam-me. Não fiz mal nenhum.»
«Pois estão. Olhe, faça como eu. Vou dar uma volta por aí. Quer vir? Depois, talvez surja uma série boa.»
«Tem razão. Vamos lá beber um copo. Ando a tomar antibiótico, mas que se lixe.»
Parecia outro quando voltou. Mais sereno e positivo. Desta vez fora o Mário quem o exorcizara. E trazia na mente o sábio conselho de retirar o ticket mal estivesse a ganhar uma boa maquia.
Seguiu os conselhos do Mário, menos um. Não jogar a aposta máxima. Era irresistível o apelo. Estava-lhe na massa do sangue.
Teve sorte. Sorte ou azar. Não se sabia.
«Este bónus tem que render bom dinheiro!»
Mas não rendeu.
Todos sabiam que sim, mas alguns diziam que não. Eram os que estavam do outro lado da barricada.
Estranhamente, talvez porque o espírito-guia o aconselhou que fosse assim, levantou-se com toda a calma do mundo da cadeira, ajeitou os óculos escuros, impenetráveis, e dirigiu-se para uma ATM onde levantou mais dinheiro. Estava tão absorto nos seus pensamentos que se esqueceu de marcar a máquina. Só o cuidado do Vítor, ao colocar as suas chaves na ranhura onde entravam as notas, fez com ele não ficasse sem a máquina.
Recomeçou a jogar, sem se zangar uma só vez com a imprevidência da Flora que não resistia à tentação de espiar o seu jogo.
Sentiu as pernas mais presas do que nunca, sinal positivo que algo bom estava para acontecer. Sim. Na verdade, rapidamente atingiu os setenta e cinco mil créditos. Era a boa sorte que parecia estar para ficar e afinal de contas não fora preciso trazer o alho para afugentar os vampiros. E que os havia, havia.
«Tira o ticket!»
Tirou?
Ouviu a voz, mas não tirou o ticket.
«Só quando sentir as pernas soltas...» Pensou.
«Não posso ver isto. O pobre homem vai ficar sem nada.» Disse o Mário ao preparador de máquinas.
E saiu de cena.
Numa história que acabou mal, era o Urbino, exorcista de si, a enfrentar, sem êxito, as máquinas das Cleopatras. E assim seria para sempre. Infelizmente, também como muitos outros Urbinos que desafiavam para lá do limite a sua estabilidade financeira.
[1] O indiano dizia "alianatório". Abordando o fenómeno aleatório do lançamento de um dado não viciado, a probabilidade é igual para cada um dos seis números que vão sair (1/6). Quanto maior for o número de ensaios, mais a distribuição dos acontecimentos se inclina para uma aproximação das frequências. Lancem um dado não viciado muitas vezes e façam o registo dos acontecimentos; logo darão razão aos compêndios.
[2] Alcunha posta pelo Vítor, preparador de máquinas...
[3] Também conhecido por Palrador. É um grande amigo do chefe Benedito. Daí talvez a razão de ter tanto êxito a jogar baixo.


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