Fiquei a cismar que se fosse amor ela tinha ficado esta noite, sentada a meu lado, a ver-me escrever o início de uma história que até podia ser a nossa, um ato de magia que nunca conseguirei explicar porque nunca aconteceu.
O jantar decorreu da forma do costume. Aliás, não era primeira vez que jantávamos juntos. Mas naquela noite ia ser diferente. A ambiguidade da nossa relação não podia continuar naqueles moldes. Sentia uma atração fatal por aquela mulher e precisava com urgência de esclarecer o motivo de não haver uma solução de continuidade evolutiva, jantar após jantar. E não podia passar daquela noite. Daquele momento em que o empregado deixou as sobremesas sobre a mesa.
«Aqui estão as maçãs assadas...»
«Natália...»
«Diz, Rui.»
«É só amizade o que sentes por mim?»
Não foi talvez a melhor forma de atacar o problema. O problema do impasse. Aliás, estava a dar-lhe a resposta. E a Natália era tão atraente!
«Que imaginas mais?»
Vá lá. Não referiu a minha imaginação fértil. O modo como olhava para ela.
«Diz, Rui.»
«É só amizade o que sentes por mim?»
Não foi talvez a melhor forma de atacar o problema. O problema do impasse. Aliás, estava a dar-lhe a resposta. E a Natália era tão atraente!
«Que imaginas mais?»
Vá lá. Não referiu a minha imaginação fértil. O modo como olhava para ela.
«Não me dispas com o olhar que não vale a pena. Desce à Terra, Rui!»
Era uma esperança.
«Sabes muito bem quais são os meus sentimentos por ti.»
«E o que é que eu sei?»
«Sabes muito bem quais são os meus sentimentos por ti.»
«E o que é que eu sei?»
Golpe final na minha impaciência. A reação que veio foi repentina.
«Bom, já vi o resto deste filme. Lamento.»
E nada mais disse. Levantei-me e dirigi-me para o balcão, onde pedi a conta e paguei. Depois, saí. Nem sequer reparei se ela continuava sentada, esperando que eu voltasse, ou se a mesa já estava desocupada, ou assim.
«Bom, já vi o resto deste filme. Lamento.»
E nada mais disse. Levantei-me e dirigi-me para o balcão, onde pedi a conta e paguei. Depois, saí. Nem sequer reparei se ela continuava sentada, esperando que eu voltasse, ou se a mesa já estava desocupada, ou assim.
Talvez neste momento esteja a pensar em mim, deitada na cama, lendo um livro que adia a chegada do sono. Ou talvez não. Mulheres como ela são um enigma. Sozinha na cama a fazer coisas esquisitas, também não. O pouco que sei da Natália resume-se de facto a pouco, como é óbvio. Retive que adora fugir para o seu espaço, onde ainda, e nem por sombras, não moro. Se entrasse no seu santuário, não seria mais do que um estranho numa terra estranha. Disso tenho quase a certeza.
Então que me resta fazer?
Talvez cruzar os braços e criar também o meu espaço sagrado. A terra estranha onde ela vai sentir-se uma mulher estranha.
Não me decido?
Talvez cruzar os braços e criar também o meu espaço sagrado. A terra estranha onde ela vai sentir-se uma mulher estranha.
Não me decido?
Ah!, tenho uma ideia. Não. Essa não serve. Pedir desculpa e depois ficar refém é uma ideia pouco machista. Por outro lado, vendo bem, talvez valha a pena o sacrifício. Vou pedir desculpa, encerro o diferendo, não volto a falar em sentimentos do coração e finalmente proponho:
«Amigos outra vez, Natália?»
Também não.
«Amigos para sempre?»
Pior ainda.
Há outra solução. Ela gosta de ser admirada. Seduzida sem se comprometer. Já sei o que vou propor-lhe. É trigo limpo.
Assim o fiz. Um novo jantar. O momento da sobremesa. E logo a seguir a pergunta:
«Amigos?»
«Claro que somos amigos.»
«Coloridos?»
Não vou falar da expressão do seu rosto, que até podia ser de agrado. Mas tenho que dizer o que aconteceu.
Desta vez foi ela a primeira a levantar-se, mas não se dirigiu ao balcão.
Adivinhem?
Não. Não levei uma bofetada. Nem a Natália disse que sim, para a seguir e bebermos um copo na sua casa. A verdade foi outra. Secreta. Ninguém deu por nada. A não ser eu e os meus tintins.
Que grande e certeiro pontapé ela deu debaixo da mesa!

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