Alma é um termo equivalente ao hebraico néfesh, ao Sanscrito Ātman e ao grego psykhé e significa "ser", "vida" ou "criatura". Etimologicamente, deriva do termo em Latim animu (ou anima), que significa "o que anima". Sendo a vida de cada organismo, não sendo eterna, e nem separada do corpo, exatamente pelo contrário. Alma não é o mesmo que espírito. Na religião, possui grande importância, conferindo ao indivíduo a capacidade de fazer e viver coisas e momentos complexos logicamente, sendo a vida do ser humano, e não parte dela.
Alma penada é uma entidade do universo sobrenatural da mitologia portuguesa. As crenças populares reconhecem como sendo o espírito de pessoas falecidas que, tendo deixado compromissos por cumprir na vida terrena, regressam a ela, sob enigmáticas transfigurações (na forma de luzes, vozes, suspiros, animais, vultos imprecisos, caveiras…), apelando ao socorro e à oração de familiares e amigos.
Segundo o espiritismo, a alma é o espírito encarnado consistindo-se no princípio inteligente do Universo, ser real, circunscrito, imaterial e individual que existe no ser humano e que sobrevive ao corpo, estando sujeita à Lei do progresso, ou seja, a se aperfeiçoar por meio da reencarnação em várias encarnações progressivas até atingir a perfeição, o estágio de Espírito Puro, quando não tem mais a necessidade de reencarnar. Ainda segundo o espiritismo, a alma, ou espírito encarnado, é ligada ao corpo por um envoltório semimaterial chamado perispírito[1].
Se ela existisse tinha a solução para esta dúvida que me atormenta.
Será...?
Este texto que vem a seguir é para ti. O que nós vivemos e sonhámos já não existe no presente e não existirá no futuro senão como uma recordação. Muita coisa que nos aconteceu ficou gravado na memória. Na minha memória. Só na minha memória, porque um dia decidiste que devia ser assim ao partires para a tua eternidade sem sequer me avisares. Nem tão pouco consegui chegar à verdade sobre a tua morte. Assim, sou só eu a recordar a nossa história. Desconheço se andas por cá tentando o contacto. Se ainda estás convencida que estás viva e encerrada numa armadilha mortal. Em tempos disseram que choravas com pena de não teres sido minha em vida. Diziam. Quem o dizia já não é também deste mundo. Não sei se é verdade. Só sei que partiste sem um sinal. Não admito acreditar numa fuga premeditada. Mas também não sei como colmatar essa brecha. Prefiro admitir que aconteceu porque tinha que acontecer. Não me sinto em linha com o determinismo. Acredito mais no livre arbítrio. O tinha que acontecer mexe com muitas variáveis que se relacionam entre si e cujo resultado é obra do acaso. Também não acho ser obra de Deus porque nem sequer tenho a certeza que Ele existe. Nunca O vi. Nunca O ouvi. Nunca O senti. Quem pode ser senhor de uma certeza na ausência de provas?
Foi grande o desejo que sempre tive de te ter minha. Infelizmente esse desejo não se concretizou.
A culpa, ou a sensação de culpa?
É minha, embora não seja toda minha, eu sei. Tínhamos um sonho tão lindo! Quando estávamos juntos ninguém nos podia separar. Nem Deus, nem o demónio. Mas a nossa ligação estava presa por um fio quebradiço que podia ser cortado muito facilmente. Esse fio que nos ligava era longo e podia ser interrompido em qualquer instante. Fatores? Principalmente a distância e a nossa fraca maturidade. E para quem acredita em magia negra, talvez ela, a existir, também tivesse contribuído para a separação. E também o teu ciúme irracional. Não? Então acrescento mais uma palavra. Teimosia. E outra que serve perfeitamente aos dois. Orgulho. Assim, aconteceu o inevitável. Cada um seguiu o seu destino e ficou apenas a saudade de um sonho lindo que ruiu como um castelo de cartas.
Tínhamos um sonho. O nosso sonho. Que é feito dele?
Há um abismo profundo a separar os caminhos de ontem e de hoje. Há mil promessas que ficaram por cumprir. Lamento muito. E tu? Não posso ouvir a réplica da tua voz doce. Só imagino uns olhos tristes e longínquos a fitarem-me em segredo, talvez na contemplação hipnótica de um deus quase deus para ti e que afinal tinha pés imperfeitos de barro. É triste admitir. Tardiamente estou a retratar-me. Perdoa-me. Ainda hoje não sei como aconteceu. Fui levado por impulsos externos que não consegui controlar. Era jovem. Mas a juventude não serve de desculpa. Aconteceu mais qualquer coisa que continua a manter-se na penumbra apesar dos muitos anos que passaram.
Ainda hoje sinto que é doloroso viver no presente e não estares comigo. É tão doloroso que não consigo admitir que me esqueci de ti. E tu? Tão perto e tão longe! Nem sequer um sinal vem de ti. Sim, porque sei que estás presente. Que és a minha sombra. Que me proteges, malgrado a censura que não deixas de fazer. Perguntarás: porquê, porque sei? Tens razão. Não sei. Apenas pressinto. E como sensitivo que sou, quero acreditar que, para manteres ardente a chama que nos envolve, ainda hoje me envias miragens. Tão perfeitas e tão diferentes que sou arrastado na torrente do sonho que, mais tarde ou mais cedo, desagua num imenso estuário virtual que é sinónimo de desencanto.
Tenho saudades dos teus beijos. Mas será que alguma vez nos beijámos? Bem sei que é um paradoxo e tu não podes responder. Os teus lábios já não existem. Nada material de ti foi poupado aos processos naturais da decomposição. Assim, não posso sentir nada de material que te pertença. Não te vejo, não te vejo! E tudo me diz que estás próxima. Talvez à minha volta. Mas tenho dúvidas evidentes. Porquê? Porque não te vejo. Perdi-te só por minha culpa. Ainda ontem, quando nos encontrámos, eras a rapariga do vestido branco e eu o rapaz da camisola azul. Como te amava! Tu, não sei. Talvez gostasses de mim e não me amasses.
Nem mesmo assim reages!
Sempre te vi jovem. Quero acreditar que nunca foste a mulher que outro depois beijou. Sou um ingénuo. Mas nada me impede de sonhar que ainda és minha. Que um dia virás ao meu encontro, tal como o destino nos aproximou naquela noite morna de setembro. Lembras-te? Esse encontro foi real. Bem sei. Deu em nada. Só mais tarde aconteceu o verdadeiro encontro em que fizemos promessas de amor eterno. Promessas que não foram cumpridas.
Nada é eterno. O nosso corpo não passa de um invólucro. Estamos apenas de passagem. Eu ainda ando por aqui. E tu?, para onde foste? Que estranhos ventos te levaram?
Então e a alma?, dirás se conseguir ouvir-te. Talvez a alma de cada um seja eterna. Que bom que era poder destruir este presente que está esburacado pelo rebentamento de quimeras, de rosas sem perfume que enfeitam desejos não realizados, desencantamentos provocados por visões que não passaram de outra coisa senão visões. Tinha tanta coisa para dizer-te! Tanto amor para te dar. Mas estás longe. Demasiado longe para chegar a ti. Demasiado perto para ter a certeza que estás perto porque estou cego para o teu mundo.
Desconheço quem nos afastou de repente. Lembras-te? Eras uma estrela que brilhava no céu só para mim. O nosso mundo perdia-se na imensidão, mas mais ninguém cabia nele. Hoje és uma das muitas estrelas que deixaram de brilhar e a minha caminhada já não recebe sinais para poder seguir o rumo até onde me esperas.
«O primeiro a partir dá um sinal.»
Lembras-te? Partiste e o único sinal foi a notícia que li num jornal e só por mero acaso. E isso não é um sinal.
Onde moras?
As almas, a existirem, são imateriais. Não ocupam espaço. Não existem obstáculos para elas, as que andam por cá por diversos motivos. E se eu for um deles, que posso fazer por ti?
Jamais terei os teus lábios que talvez me soubessem a morangos silvestres. Lábios que ficaram gravados nas cartas que me escreveste.
Sinto a tua proximidade. Não te vejo. Mas estás aqui. Dá-me um sinal por mais ténue que seja. Nem que seja miragem! Quero acreditar que estás ao meu lado. Que me tocas e não sinto, embora acredite que sinto.
Onde estás?
Os nossos projectos?, lembras-te? Podia ter acontecido, mas o maquinista da vida levou-me por caminhos diferentes que me afastaram de ti. Se pudesse, quebrava as grilhetas que me prendem à solidão e subia ao teu mundo para conhecer enfim o sabor a morangos silvestres dos teus lábios que hoje estão gélidos.
No céu brilhava uma estrela que era a luz da minha vida. Mas um dia partiste levada pelo vento sul das tuas tempestades interiores e ficaste perdida no constelado do céu onde moram as estrelas impossíveis de alcançar. Ainda antes da tua viagem, ouvi dizer que se apaixonaram por ti. Ouvi dizer que me esqueceste. Não quero acredito. Mas, de qualquer forma, mais uma vez digo que morreu o sonho. O nosso sonho. E agora só há presente e esquecimento. O presente de uma vida diferente, fragmentada, e o esquecimento de uma estrela que era só minha.
Ah se eu pudesse! Se eu pudesse ouvir-te! Se não houvesse o vazio a calar os teus lamentos e os meus impulsos!
Será proibido para sempre ver-te e ouvir-te?
Não haverá uma janela de oportunidade...?
Quem me pode ajudar?
O que sentem as almas?
Como comunicam?
Onde estás agora e para onde vais quando não estás agora...?
Nada do que possa ser dito será dito. Tudo bem. Seja. Mas diz-me ao menos onde moras, para amanhã, quando a minha luz material se apagar, ir ao teu encontro e assim finalmente saber porque decidiste partir sem me avisares!
[1] Extraído de Wikipedia

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