quarta-feira, 31 de maio de 2023

Os teus olhos

 

 
Já te disseram que tens uns olhos meigos e expressivos?
Sim. Que pena não ter sido o primeiro! Mesmo assim, deixa que os olhe. Esses teus olhos são mais profundos que o mar. Não sintas vergonha de mim. Vá. Não desvies o olhar. Assim. Vês como consegues? É verdade. São mesmo meigos e expressivos. Mas há pouco esconderam-se dos meus. Porquê? Não estremeças. Estou contigo. Sou a tua segurança. Estás sempre dentro do meu coração. Do lado real da vida. E estarás sempre. Seremos sempre os dois a atravessar a espuma do tempo. A luz, o nevoeiro e a negritude. Para o bem e para o mal.
Voltando atrás... estremeceste. Acredito que é verdade. Será que entrei dentro de ti?, onde existe um outro mundo que procuro há muito e se esconde sempre que descerro uma cortina?
Ontem ainda não te conhecia. Mas... curioso! Ia jurar que... Se não é sensação de déjà vu, então é uma emoção tardia de gazela acossada pelo predador que desistiu dela porque o sol já não o aquecia. Ou porque descobriu que as utopias nem sequer amanhã se realizam. 
Hoje só quero uma coisa. Beijar os teus olhos cor do mel e vê-los como um regato de águas cristalinas onde o amor que sinto por ti se alimenta, enlouquece de desejo e não para de te beijar. Sabes...?, adivinho neles uma mensagem de eternidade que, a todo o custo, tentas esconder. Não os vou roubar. Um dia, sim. Mas nesse dia será diferente. Vou levar-te toda comigo. 
Onde te vi pela primeira vez? Não sei. Vi-te sempre.
Continuo a ver receio nesses olhos lindos. Tens receio de perder a liberdade. Olha, eu já não sou livre. Ou melhor: tenho todo o tempo do mundo para pensar em ti e também porque quero só pensar em ti, não me importa o resto.
Está bem. Selemos um pacto. Desta vez só me dás os teus olhos. Esses olhos melosos e gaiatos que me tiram do sério.
Curioso! Agora parecem-me verdes. São cor da esperança, dizes, sorrindo. E então eu olho para esses olhos meigos, expressivos, gaiatos, melosos. Sinto que me estás a dar um sinal para avançar. Portanto, vou avançar. Stop! Que se passa? Dizes que ainda não sou livre. Sim. Mas isso foi ontem. Quando ainda flutuava no limbo. Na indefinição. No vazio total. Sem esperança. Sem conhecimento de mim; e muito menos de ti. Mas hoje, não. Estou muito perto.
Voltando a eles... Por um momento vi-os azuis. O teu rosto toldou-se. As lágrimas caíram e eu beijei-te o rosto para as secar. Sabes muito bem que já não tenho grades ou grilhetas. Tudo é campo livre à minha frente. Não vem ninguém a correr ao meu encontro entre o vermelho das papoilas. Estou absolutamente livre para ti.
Gostava que eles fossem castanhos. Leais. Ou verdes, se visse neles um rasto de esperança. Também não me importava que fossem azuis. Da cor do céu e do mar. Não concordas. Bom, o mar também é verde ou cinzento. E o céu também é negro. Não interessa. Fica a intenção. 
O céu é o nosso futuro. Acredita que, um dia, voaremos rumo às galáxias, onde moram, entre a poeira que tudo esconde, milhões e milhões de estrelas. E aí, de certeza que duas delas, muito juntas, formando um binário, têm escritos os nomes que Deus cifrou para nos destinar. 
Já alguém te disse que tens um lindo sorriso?
Claro que sim. Não lamento ter chegado mais tarde. É sinal que não me enganei. Tens um sorriso especial quando te vejo sorrir só para mim. Um sorriso que mais ninguém consegue decifrar.
Mas, definitivamente... os teus olhos meigos, expressivos, às vezes tristes, noutras vezes travessos, são de muitas cores. Assim, não importa a cor. Não importa a cor porque, quando fores minha e não só os olhos, sou eu quem a vai escolher. A cor que terá a expressão da felicidade que não vou deixar sair deles. Por nada deste mundo. Juro.
Despeço-me por hoje dos teus olhos, rendido ao seu encanto e sedução. Também me rendo à cor e suavidade dos teus cabelos. Aos teus lábios que beijo e me sabem a frutos silvestres. Tens uns cabelos macios que não me canso de acariciar, mas vou falar deles amanhã. Bem como também dos lábios. Por agora, despeço-me com um "até breve" de tudo o que exala de ti e me embriaga de amor ou paixão. Tanto faz.
Volto amanhã. 
Promete que não vais esconder o luar dos teus olhos!
Dorme bem. 
Sonha comigo.
Feliz dia dos namorados para ti, deusa desconhecida.
Não era assim que devia acabar esta prosa?
Talvez, se não te tivesses esquecido de viver quando as folhas amarelecidas das árvores começaram a cair, uma a uma, e cada uma trazendo escrita a sua tragédia que culminou no seu esquecimento... quem sabe?

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